Não apenas jornais lucraram com as ondas de testemunhos de discos voadores nos anos 1950. O mercado editorial também amou, porque
“pesquisadores sérios” como o aviador Donald Keyhole, notabilizaram-se, escreveram
best-sellers e polemizaram ao afirmar
que a Aeronáutica escondia fatos. Paranoia pra vender e vender, porque essa
gente ganhou gaita com isso. Assim como os paladinos da “verdade”/sanidade que
os contradiziam. No caso de Keyhole, a prática de escrever pra publicações de pulp fiction ajudou-lhe muito. Se isso
não for indício suficiente pra sua picaretagem...
Em 1956, a Columbia Pictures capitalizou a fama do livro Flying
Saucers from Outer Space, do Major (isso lhe outorgava confiabilidade!)
Keyhole, alegando que A Invasão dos Discos-Voadores era livremente inspirado
nele.
Infelizmente semiesquecido, Earth vs the Flying Saucers
merece chance, porque suas sequências de ataque aéreo à capital estadunidense,
destruindo monumentos são referência ainda hoje.
O começo é em tom documental e de advertência, onde já se
usa o termo UFO, popularizado pelas Forças Armadas, pra conferir seriedade ao
filme, que em nenhum outro momento se refere mais às naves alienígenas como
tal, mas sim como flying saucer.
Influenciado por H. G. Wells (e qual sci fi não foi por
uns 50 anos?), o roteiro é sobre avançada raça agonizante que precisa
conquistar a Terra pra sobreviver e pra isso vem pra cá com discos voadores e
armas poderosas. Cabe aos terráqueos, liderados pelo solene e palavroso Dr.
Russell Marvin, desenvolver arma suficientemente forte pra derrotar tão
poderosos inimigos.
Considerando a defasagem temporal e o estágio dos efeitos
especiais à época, Earth vs the Flying Saucers ainda é bem assistível:
as cenas do ataque a Washington são divertidas se não pela maestria dos
efeitos, mas pela graça que causam hoje. Pena que o protagonista seja meio de
madeira e haja muito mambo-jambo pseudocientífico, mas esse aspecto também pode
ser engraçado. E ainda há uns arroubos safadinhos ausentes de outras produções.
Antes da primeira aparição dos OVNIs, o cientista e sua esposa-secretária estão
no carro e o bofe começa a chupar o pescoço da moça, que retruca “não comece
algo que não pode terminar”. Hoje isso é nada, mas naquela época casais eram
mostrados dormindo em camas separadas.
Há também as deliciosas
incongruências de filme B, que na verdade, podem ser lidas como ianquecentrismo
mesmo. Quando os discos-voadores invadem a Terra, os vemos sobrevoando as
principais capitais, mas pra batalha final, basta derrotar os poucos que
sobrevoam DC pra livrar o mundo da ameaça. Não nos esqueçamos que essa é uma
cultura que tem um campeonato nacional de beisebol chamado World Series.