quinta-feira, 31 de outubro de 2019

TELONA QUENTE 309


Roberto Rillo Biscaro

Não apenas jornais lucraram com as ondas de testemunhos de discos voadores nos anos 1950. O mercado editorial também amou, porque “pesquisadores sérios” como o aviador Donald Keyhole, notabilizaram-se, escreveram best-sellers e polemizaram ao afirmar que a Aeronáutica escondia fatos. Paranoia pra vender e vender, porque essa gente ganhou gaita com isso. Assim como os paladinos da “verdade”/sanidade que os contradiziam. No caso de Keyhole, a prática de escrever pra publicações de pulp fiction ajudou-lhe muito. Se isso não for indício suficiente pra sua picaretagem...
Em 1956, a Columbia Pictures capitalizou a fama do livro Flying Saucers from Outer Space, do Major (isso lhe outorgava confiabilidade!) Keyhole, alegando que A Invasão dos Discos-Voadores era livremente inspirado nele.
Infelizmente semiesquecido, Earth vs the Flying Saucers merece chance, porque suas sequências de ataque aéreo à capital estadunidense, destruindo monumentos são referência ainda hoje.
O começo é em tom documental e de advertência, onde já se usa o termo UFO, popularizado pelas Forças Armadas, pra conferir seriedade ao filme, que em nenhum outro momento se refere mais às naves alienígenas como tal, mas sim como flying saucer.
Influenciado por H. G. Wells (e qual sci fi não foi por uns 50 anos?), o roteiro é sobre avançada raça agonizante que precisa conquistar a Terra pra sobreviver e pra isso vem pra cá com discos voadores e armas poderosas. Cabe aos terráqueos, liderados pelo solene e palavroso Dr. Russell Marvin, desenvolver arma suficientemente forte pra derrotar tão poderosos inimigos.
Considerando a defasagem temporal e o estágio dos efeitos especiais à época, Earth vs the Flying Saucers ainda é bem assistível: as cenas do ataque a Washington são divertidas se não pela maestria dos efeitos, mas pela graça que causam hoje. Pena que o protagonista seja meio de madeira e haja muito mambo-jambo pseudocientífico, mas esse aspecto também pode ser engraçado. E ainda há uns arroubos safadinhos ausentes de outras produções. Antes da primeira aparição dos OVNIs, o cientista e sua esposa-secretária estão no carro e o bofe começa a chupar o pescoço da moça, que retruca “não comece algo que não pode terminar”. Hoje isso é nada, mas naquela época casais eram mostrados dormindo em camas separadas.
Há também as deliciosas incongruências de filme B, que na verdade, podem ser lidas como ianquecentrismo mesmo. Quando os discos-voadores invadem a Terra, os vemos sobrevoando as principais capitais, mas pra batalha final, basta derrotar os poucos que sobrevoam DC pra livrar o mundo da ameaça. Não nos esqueçamos que essa é uma cultura que tem um campeonato nacional de beisebol chamado World Series.

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