sexta-feira, 29 de novembro de 2019

PAPIRO VIRTUAL 151


Roberto Rillo Bíscaro

No segundo livro da Trilogia de Lewis, Fin Macleod volta à ilha e se envolve na investigação sobre um corpo encontrado na praia. Que segredos do passado jazem ali? 

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

TELONA QUENTE 312


Roberto Rillo Bíscaro

Há filmes que dataram melhor ou pior, por motivos ideológicos, técnicos ou de convenção. Hoje, nem nós mais experientes temos muita paciência pra longas aberturas ou melodramas exagerados ao som de chorosos violinos. Ficção-científica fica velha de hora pra outra. Como os computadores de começo deste milênio já nos aparentam desengonçados e mastodônticos, não?
Se dermos alguns descontos a This Island Earth (1955), ainda dá pra apreciar. Nunca se pode esquecer que 6 décadas nos separam, mas a história ainda tem elementos pra manter nossa atenção.
Um cientista e piloto bonitão é misteriosamente salvo por uma luz verde, quando seu avião está prestes a se espatifar. Depois, recebe um kit pra montar e quando junta as peças é um intercomunicador superavançado, que o põe em contato com um senhor de cabeleira alva, convidando-o prum lugar secreto, onde maravilhas tecnológicas estão sendo desenvolvidas. O Dr. Cal fica curioso (embora o roteiro atribua essa característica às mulheres, mais tarde) e vai pro local, uma enorme mansão em estilo sulista. Lá descobre que a origem de tanta pesquisa está bem mais distante.
Adaptado de pulp fiction, This Island Earth poderia ter roteiro mais articulado. Algumas coisas ficam bem mal motivadas (se é que têm motivação), mas como passatempo funciona até hoje, porque é capaz de criar suspense e tem efeitos especiais e cenários convincentes. O filme é da Universal, então teve orçamento, uns 800 mil dólares, e foi filmado em cores e Cinemascope, uma das maiores revoluções da indústria cinematográfica, que hoje sequer conseguimos dimensionar. Com essa técnica, as telas passaram a ser as gigantes que sempre conhecemos, mas nossos avós, na juventude, não.
This Island Earth é um dos clássicos sci fi dos anos 50, na verdade, é um sci fi thriller, até homenageado por Spielberg em seu clássico ET, o Extraterrestre.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

CONTANDO A VIDA 291

A ÁRVORE E A VIDA, A VIDA COMO ÁRVORE.


José Carlos Sebe Bom Meihy

Pois é, bastou optar por nova leitura crítica da Bíblia para que os efeitos da apreciação se irrompessem como ramos de árvore frondosa, dessas admiráveis pela formosura, tamanho e vitalidade. E como a proposta era exercitar complexidades, a começar pela semente, estava proposta uma aventura desdobrável. Devo dizer que sempre senti estranho fascínio pela Sagrada Escritura. Desde garoto, lembro-me de passagens que me encantaram, e casos como a Arca de Noé, Daniel na cova dos leões, a relação de Balaão com seu jumento que falava, tudo junto, fez com que percebesse no Livro diretor do cristianismo a maior e mais exuberante fonte de imaginação. Tudo está lá: amor, ódio, intriga, perdão. E nem há mitologias ou épicos comparáveis. Para mim, nem os gregos, romanos, incas ou egípcios superam as prolíferas narrativas. Sequer a Ilíada ou a Odisseia de Homero com as peripécias de Ulisses, se comparam. A Bíblia é insuperável... E não estou falando apenas de seus efeitos religiosos, pois comparável com outros textos sagrados é, em termos de alegoria, superior ao objetivo Torá (judaísmo), ao pedagógico Alcorão (islamismo), ao discreto Mahabharata (hinduísmo) ou ao Dhammaparta com os provérbios de Siddharta. Sei que preside algo de profano neste tipo de abordagem, mas, por favor, perdoem-me. É irresistível e que presida a certeza de que não promovo leitura herética.

Leva já algumas semanas que estou ancorado no Gêneses e não poderia ser de outra forma. Além de pálida escolha de textos analíticos e paralelos, procedi a um passeio pelas retomadas do casal matriz, Adão e Eva, e aprendi que decorridas mais de 150 gerações desde aquele então, passamos por artistas como Michelangelo, Dürer, Rafael, Rembrandt, Shakespeare, La Fontaine, Freud, Hemingway, Bob Dylan, entre muitos outros. Diria que dentre tantos aspectos analisáveis, um chamou-me mais a atenção: a metáfora da árvore. Por que será que Deus escolheu a árvore como testemunha da origem do pecado? E por que a fez suporte para a serpente tentar Eva? De toda forma, sem nenhuma dúvida, a árvore se tornou protagonista das duas mais consequentes marcas humanas: o erro e a culpa. E desde então a árvore tornou-se metáfora e alegoria importante para tudo na vida. Sob a rubrica intelectual, este tema é abordado com profundidade no texto “Mil Platôs” assinado pela dupla Deleuze e Guattari, pais da nova crítica francesa e afirmadores do pós-modernismo. 

Comecemos pela denominação bíblica “árvore da vida” ou “árvore do conhecimento”. Segundo o relato dos momentos inaugurais do Éden, Deus teria criado a árvore para que depois da procriação, os filhos de Eva pudessem se alimentar pela eternidade na alegria da paisagem divinal. Logo tentados, os dois – primeiro ela, depois ele – não resistiram e desobedeceram ao Todo Poderoso comendo o fruto proibido. Expulsos, tiveram com seus descendentes que “ganhar o pão com o suor de seus rostos”. Estava inventado o trabalho para o sustento. A noção de “árvore genealógica”, aquela que define as sucessões familiares decorre disto. O registro de antepassados com nascimentos e mortes, além de casamentos e descendência é prova da modelagem arbórea. Com certeza a metáfora da semente é garantia do uso da árvore como exemplificação de potencialidades. A mensagem passada é que a fertilidade da terra permite pensar a germinação que, aliás, garante um dos dizeres mais constantes “a boa árvore dá bons frutos” e tudo depende da semente. A noção de “tronco” é óbvia e na mesma lógica fala-se da ramagem, das flores e dos frutos. É evidente que os benefícios da árvore frondosa se multiplicam como local onde pássaros constroem, preferentemente, seus ninhos e servem de ambiente para as crias. O mesmo se diz de alguns roedores e assim conclui-se que, como metáfora ou alegoria, a árvore é justificada como recurso dos mais usados. Em relação às flores e frutos nem é necessária maior exploração.

Como se propõem críticas à leitura bíblica, por certo cabe relacionar a árvore à condição fixa, ou seja, a planta que não se move, que permanece presa ao solo. O progresso da leitura sagrada, no entanto, sugere novos olhares. É quando então se contrapõem as funções dos filhos de Adão e Eva, Caim e Abel. Amaldiçoado pelos genitores, Caim é expulso do meio familiar e sai errando pelo mundo. Abel, abençoado é premiado com lavoura fixa. Em termos de tradução moral, Caim é desgraçado, pois tem que desdobrar o castigo dos pais que tiveram que perder as delícias do Paraíso. Abel, filho premiado ganha o direito de ficar e assim se torna personificação da árvore. Caim, o filho mau, teve que ganhar o mundo e com ele se abre outra aventura metafórica ou alegórica: o rizoma... Árvore ou rizoma, Abel ou Caim, bem, isto é outra história e outra história bíblica é sempre semente de bons casos... Opa! Minhas crônicas cumprem funções arbóreas ou rizomáticas? Deixem-me pensar. Prometo respostas no exame dos irmãos, filhos de Adão e Eva.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

TELINHA QUENTE 385

Roberto Rillo Bíscaro

O Detetive Inspetor-Chefe Alan Banks e sua equipe investigam casos, baseados nos romances de Peter Robinson.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

CAIXA DE MÚSICA 390


Roberto Rillo Bíscaro

Os veteranos britânicos oferecem um álbum vibrante, irresistível para fãs de black music e divas.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

TELONA QUENTE 311


Milo é um jovem fascinado por vampiros. Quando ele conhece Sophie, os dois forjam um vínculo que desafia a obsessão de Milo e sua percepção do que é fantasia ou realidade.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CONTANDO A VIDA 290


MONTEIRO LOBATO E CONCEIÇÃO EVARISTO. 


José Carlos Sebe Bom Meihy 


Era para ser visita rápida, breve aceno de lembrança, coisa para matar a saudade. Eu ainda cansado de longa viagem e ela em expediente de trabalho. Mas era caminho e a vontade se fez alternativa. Fui. A conversa depois do abraço correu pelos últimos acontecimentos de nossas vidas. A troca foi veloz e, num repente, passamos do plano nacional às nossas vidas. Entre realizada e eufórica, ela me reportava às novidades de um curso produzido e executado por mulheres negras na USP. Empunhando o programa, declinou as aulas já dadas e se fazia arauta de vindouras. É preciso dizer que conheço Teresa Telles há mais de dez anos. Bonita demais, no começo de nossa amizade, usava roupas discretas condizentes com alguém que ainda arrastava experiências de assessora de sucesso no mundo dos negócios. Foi a paixão incontrolada pelas Humanidades que a fez largar carreira em curso, e trocar segurança econômica pela decifração dos códigos da História. Lembro-me do cabelo bem posto, impecável nos alisamentos e arranjos impecáveis. Outros os tempos. Todas as mudanças... 

Os anos correram e ela se tornou guardiã de instituições da USP, funcionando acima de secretária ou de qualquer outro posto administrativo. Sobra-lhe competência. Creio que ela jamais saberá da emoção de acompanhá-la nos programas de pós-graduação e vê-la, muito mais do que funcionária fundamental, mestre com dissertação defendida. É preciso dizer que seu cabelo naturalmente livre dava a ela, ainda mais, uma qualidade de beleza exuberante e tudo se completava com os extravagantes turbantes coloridos e brincos exagerados. A tradução da formosura afro se fazia brasileira nela. E no embalo de apoios mútuos houve muita troca de presentes. Com emoção, lembro-me de ter lhe ofertado “Poncia Vicêncio” o livro de Conceição Evaristo. Devorado o texto, lhe passei meu exemplar autografado de “Becos da memória”. Pronto, estava plantada uma árvore de frutos multiplicados. Confesso que havia um doce veneno na minha proposta. Secretamente percebia nela o efeito progressivo do desenho de novo protagonismo negro na cultura brasileira. E Conceição Evaristo é a musa irradiante da intensidade literária que se renova negra com a cara do Brasil do futuro. 

O inusitado do nosso reencontro naquele exato dia, porém me assustou. Não mais que de repente, estávamos falando de uma destas detratoras de Monteiro Lobato, de pessoa que cumpre a zanga de atribuir a ele uma síntese da educação antirracista de largura nacional. Confesso que ando cansado disso, em particular pelo fechamento de diálogos e pontificações fracionadas. Os recortes convenientes do grande escritor de Taubaté têm sido repetidos ad nauseam, como mantra capaz de ferir um pilar fundamental da chamada literatura infantil brasileira. Esta estratégia importada – começou nos Estados Unidos com a detratação de Mark Twain em “Tom Sayer” já nos idos de 1965 – teve impacto modelar no Brasil. A rigor, convém mencionar um esforço pouco valorizado por estudiosos que não consideram que para a opinião pública, o primeiro argumento a favor do debate sobre o negro nas artes visuais foi a novela “A cabana de pai Tomás”, feita pela Globo em 1968. Tudo interessa nesse episódio, pois a obra escrita por uma mulher negra estadunidense, Harriet Stowe em 1852 chamava atenção por vários aspectos, mas principalmente por ser escrita por negra e cobrir um tema pouco ventilado entre nós: a escravidão. Como novela, no Brasil, a “Cabana” recebeu ampla cobertura, em particular porque o polêmico dramaturgo Plínio Marcos fazia pesadas críticas ao uso de ator branco (Sérgio Cardoso) no papel principal. Depois dos artigos do polêmico autor de “Navalha na carne” estava aberto o debate sobre os negros e arte no Brasil. 

Na linha dos programas televisivos, por outro lado, desde a inauguração da televisão no Brasil, Lobato em sido usado em adaptações variadas, fato que o notabiliza como um dos cinco autores brasileiros mais populares de todos os tempos. Por isto, aliás, serve de pretexto para críticos que o elegeram como motivo de negação (por que será que pouparam José de Alencar, Aloisio Azevedo ou Jorge Amado?). Resta dizer, em primeiro lugar, que é lamentável, frente a uma obra enorme como a de Lobato, reduzir o conjunto e abreviá-lo a adjetivos simples. Lobato talvez seja a maior vítima deste tipo de juízo, seja de um lado ou outro. Ao mesmo tempo em que é mostrado como comunista, socialista, anarquista, monarquista, é tido também como racista. Haja limitações! E recortes de passagens sempre descontextualizadas e reforçadas por outras citações extraídas de cartas ou artigos sempre circunstanciais, jamais em conjunto. Jamais, pois certamente isto demandaria maiores cuidados. 

Permitam-me lembrar que somos frutos de nossos tempos e que a recepção de qualquer produção artística depende do consumo e do mercado, não apenas da emissão. Falamos de uma época em que os temas eugênicos estavam na pauta e é erro crasso julgar pela visão de hoje o que fomos um dia. E Lobato modulou muito isso. Aliás, na senda revisionista, seria recomendável mudar a Bíblia no elogio ao sal, transformar sambas memoráveis com novas imagens de mulatas, encrespar cabelos de fotos de escravos... A favor de Lobato, ainda no seu tempo, convém ter iluminadas as citações simpáticas aos negros em contos como “Negrinha” e “Jardineiro Timóteo”, “Bocatorta”, entre outros. Além do mais, cabe também inscrever a releitura de Lobato na ordem do “politicamente correto”, pois de seus personagens, antes e sem reclamações, foram tirados o cachimbo, a menina Lúcia perdeu sua “cor de jambo”, e o saci virou, de violento, um bonequinho de efeito pedagógico mulatinho e quase branco; tudo diverso do que Lobato propôs. Mas estas metamorfoses todas ficam pequenas frente o equívoco de certas linhas do movimento negro (retomado no Brasil a partir de 1978) que insiste em trocar a consistência de novas criações e insistir em reinventar começos já trilhados sem sucesso. É exatamente aí que entra o pulso de Conceição Evaristo. Suas obras criam, são novidades críticas e lindas, hábeis a mostrar possibilidades na produção fértil. Isto é muito mais relevante do que mal requentar aspectos, quase sempre mostrados sem argumentos.
   

terça-feira, 19 de novembro de 2019

TELINHA QUENTE 384

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

CAIXA DE MÚSICA 389


Roberto Rillo Bíscaro

A cantora norte-americana escolheu grandes sucessos e faixas obscuras dos ingleses, para homenageá-los.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

PAPIRO VIRTUAL 150

Roberto Rillo Bíscaro

Nesse Celtic Noir, o autor escocês emprega um esperto recurso narrativo, numa trama ambientada nos confins das Ilhas Hébridas, sempre fustigadas pelo vento.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

CONTANDO A VIDA 289


A CRUZ DOS IMIGRANTES, SEGUNDO NICARIO JIMÉNEZ 

José Carlos Sebe Bom Meihy

Sem dúvida, um dos grandes dramas contemporâneos tem se expressado pelos processos de imigração em massa, alguns simultâneos, outros em grupos miúdos ou não, todos consequentes. Mais do que mudanças voluntárias e esporádicas, assistimos agora a uma tensa procissão de pessoas que buscam dias menos ruins e minimamente prometedores. Com eufemismo mais agudo, diria que migram fugindo da fome, da miséria e do absoluto desequilíbrio econômico, que polariza setores sociais. Essa transferência acontece como se fosse novela de horrores e, muitas vezes, em nossas poltronas assistimos tais façanhas como se fossem ficções. Nada mais correto para os deslocados que a busca de novos amanheceres; nada mais abstruso para os setores que recebem. 

As migrações contemporâneas se explicam pela teoria do push/pull – empurra e puxa – que então exercita sua garra mais afiada e cruel sob o jugo do capitalismo progressivo. Misturados aos problemas inerentes a esses processos multiplicados, justiça social, direitos humanos, deveres morais, se interpenetram exigindo soluções que escapam do bom senso comum e, também, das rédeas de governos locais, quase sempre muito defensivos. A imigração hoje é crônico dilema internacional, talvez o mais complexo deles, por implicar relações consequentes e muitas vezes definitivas e fatais. É exatamente aí que reside o coração dos dramas de pessoas que mudam e que se veem diretamente implicadas na questão de reconhecimento da própria cidadania em terras alheias. 

Ocorre que dentre as mais expressivas tragédias está o apagamento pessoal, o silêncio das razões individuais, o anonimato e a simplificação dos motivos de cada um. Tudo é visto no conjunto como se individualidades não existissem, como se tratássemos de animais em bandos. Concorre para isso o ponto de vista dos grupos dominantes, daqueles que se veem, por um motivo ou outro, com maior ou menor intensidade, compelidos ao acolhimento peremptório e sempre incômodo. E no conjunto, tudo é tão grande, tão dilatado e concludente que esquecemos as particularidades de cada caso, e assim condenamos todos à uma igualdade simplificadora, percebendo-os parecidos na condição de indigentes indesejáveis. E torna-se fácil notá-los como forasteiros, oportunistas, ilegais, intrusos, e sob esses refrãos, qualquer particularidade roda junto com o alcance de soluções conciliatórias ou humanitárias. Então, tudo e todos se resumem a estatísticas, notícias informativas, temas retóricos de política internacional. 

Pela ótica de quem padece, entretanto, preside algo incontido e épico nessa aventura. Visto no particular, na precisão doméstica e individual, cada singular tem seu fundo heroico que é sempre amiudado por questões que afinal remetem ao interesse dos poderosos que se veem, muitas vezes, invadidos. E nessa toada preside um enredo de evocação bíblica que aliás, se transparece nas narrativas dos que conseguem, de alguma maneira, expiar o processo. Em termos de História, o pequeno, o mínimo humano, o enredo pessoal, se dilui, mas como não há apagamento absoluto, vez ou outra repontam como resultado de lutas tão desiguais. As antinomias se expressam de maneira gritante, opondo os fracos aos fortes; os letrados aos pouco escolarizados; os migrantes aos donos do poder. A sobrevivência dos fracos, assim, precisa se redizer a fim de traduzir condições que levam a pensar nossa ética humanitária. É assim que a arte em geral se presta como código, como meio ou mensagem que supera determinismos estéticos consagrados pelas expressões consagradas. Nesse contexto, a chamada arte popular ganha foros de manifesto político e galga atenção específica. 

Por incrível que pareça, no momento prestamos mais atenção nos urgentes problemas africanos do que no nosso próximo mais próximo, ou seja latino-americano. Em termos continentais, a movimentação de grupos deprimidos por fatores de sobrevivência tem provocado mordazes transferências migratórias. As movimentações dos nossos vizinhos latino-americanos – bem como a de brasileiros que integram esses contingentes – têm se intensificado de maneira tão sutil a não mais causar estranhamento. Mas nossa apatia é sintoma de problemas que precisam ser diagnosticados em busca de soluções humanizadas e urgentes. Na altura histórica de nossos dias, uma das mais alarmantes condições remete a busca dos Estados Unidos como espaço de recomeços. Contingentes de imigrantes acorrem, por diversos meios, para a fronteira do México para, de lá, se transferirem para o norte. Ao longo de algumas décadas, mais e mais, estratégias de bloqueio têm sido implementadas de maneira a estancar acessos. A última e mais consequente etapa dessas investidas remete à construção de um muro enorme, capaz de separar toda fronteira. 

Em termos de denúncia das desgraças causadas por essas políticas, o cinema tem proposto peças capazes de dimensionar o esforço da Literatura e do teatro, da fotografia e pintura, aberta a denúncias. Mas há também alternativas menos acessíveis, mas igualmente competentes. Entre as possibilidades, um artista particular merece destaque: Nicário Jiménes Quispe, um senhor peruano de pouco mais de 60 anos. Em recente estudo, três autores norte-americanos, Carol Damian, Michael LaRosa e Steve Stein, se juntaram para propor um exame mais íntimo dessa saga materializada pela produção intensa de retábulos. Sob a classificação de “arte popular”, os oratórios prestam-se a narrar as façanhas desses personagens que se mostram em tensões. A mera constatação disso implica historiar o significado do uso dos pequenos altares que deixaram de ser peças domésticas para se transformar em objetos políticos, muitos compondo coleções de museus. 

A comparação entre oratórios (da América portuguesa) e os retábulos (da América Espanhola) é interessante como pretexto para se pensar a matriz religiosa, cristã católica, que serve de base para tais manifestações. Derivada de tradições medievais, em particular usadas nas Cruzadas contra os mulçumanos na Idade Média, os altares moveis se tornaram conhecidos e, mais tarde, compuseram o equipamento viajante de conquistadores e peregrinos no chamado “Novo Mundo”. Ainda que no Brasil as pequenas caixas com cenas da vida de Cristo e dos santos tenha permanecido no senso religioso, no lado espanhol ganhou dinâmica especial negociando a comunicação política. E essa foi uma sutil mudança. Em termos de entendimento da variação das mensagens, a imigração tornou-se tema insistente. É aí que Nicario Jiménez atua como expressão máxima. 

Herdando de seus antepassados a prática andina de fazer retábulos, em particular de seu avô que produzia referências natalinas para turistas, traços da vivência indígena foram incorporadas às cenas de presépios. E desde logo um desafio intercultural foi imposto: quais dilemas estariam representados? Temas meramente cristãos, católicos? Como repontaria a memória indígena? Submissão ou resistência? Um desafio paralelo se montava e exigia uma relação inscrita na dinâmica capitalista que afinal vincula todas essas manifestações. Como sobreviver com a prática dos retábulos num mundo colonialista? Logicamente a alternativa do consumismo turístico floriu e foi ele o responsável pela negociação temática. Mas houve evolução e as galerias e museus atuaram nisso. 

A complexidade natural escondida nas manifestações artísticas populares desafia entendimentos que na aparência são tidas como expressões quase elementares ou ingênuas. O caso das obras de Nicário dinamiza sutilezas e servem de ponte para se pensar na precocidade da mudança da abordagem devoto religiosa para a política. Houve sim um fator primordial motivando o câmbio, o impacto do movimento comunista manifestado nos eventos do Sendero Luminoso, grupo ativista peruano de ação guerrilheira desde os anos de 1970. O episódio “Matanza de Cayala”, em 1988, onde foram mortos e desaparecidos cerca de 100 pessoas marcou definitivamente a produção dos retábulos de Jiménez. É verdade que essa tendência se anunciava no geral, mas a proeminência deste artista se fez mais notável. 

Tudo é muito sugestivo na trajetória desses retábulos políticos. Vale destacar desde logo a manutenção do formato externo, de caixa que se fecha com duas portas. Evocando altares, tais peças insistem no branco que abriga muitas figuras multicoloridas, mantendo também a constância de flor/ flores no triângulo superior e nas partes externas. Além da esporádica repetição das representações do nascimento de Cristo – que atende o consumo geral – lances da vida cotidiana são assumidos, desautorizando o exclusivismo religioso. Andanças de bicicletas, aquários, cenas de trabalho ou de atividades de trabalho, sugerem considerações autobiográficas do artista. Sob esta perspectiva, o livro intitulado “Immigration in the visual art of Nicario Jiménez Quispe” enfoca na própria trajetória a saga de toda uma legião de pessoas em movimento, rumo a América fronteirada pelo muro em curso de construção. 

Proposto em cinco férteis capítulos, os autores retraçam os espinhosos esforços dos que se arriscam. Com ênfase na vida cotidiana e nos dilemas que atormentam tais aventureiros, e tudo é mostrado ao longo de 130 páginas e cerca de 50 ilustrações artisticamente selecionadas e dispostas alternadamente. Destaque deve ser dado ao congestionamento de personagens que integram as cenas e à movimentação das figuras, quase sempre em constantes conflitos. Ainda que a variação de situações atravesse as inúmeras peças, o humor e a crítica política dá o tom geral. Para a audiência brasileira destaca-se a importância da resistência mais dificilmente notada em nossas produções visuais populares. De toda forma, saúda-se a presença de um livro que nos permita perceber a reação de imigrantes que se sonorizam com acenos de atenção. Sobretudo, este livro serve para alertar o público em geral sobre aspectos que não vemos. E vê-los pela ótica de um latino americano é um convite a pensar o mundo moderno. E nossos dilemas nele...    

terça-feira, 12 de novembro de 2019

VULNERÁVEIS

Relatora da ONU aponta vulnerabilidade das pessoas com albinismo no Brasil

A relatora independente das Nações Unidas para os direitos humanos das pessoas com albinismo, Iponwosa Ero, concluiu nesta semana uma visita de 12 dias ao país. A especialista constatou que essa população muitas vezes passa despercebida pelas políticas públicas, já que o albinismo é uma condição relativamente rara. Ela destacou, no entanto, que com algumas ações de baixo custo, a situação pode melhorar significativamente.

Entre os dias 28 de outubro de 8 de novembro Ero teve encontros em Brasília (DF), Maceió (AL), Salvador e Ilha da Maré (BA) e São Paulo (SP). Ela se reuniu com representantes dos governos federal, estaduais e municipais, organizações da sociedade civil, acadêmicos, além de pessoas com albinismo e suas famílias.

A relatora independente das Nações Unidas para os direitos humanos das pessoas com albinismo, Iponwosa Ero, concluiu nesta semana uma visita de 12 dias ao país. A especialista constatou que essa população muitas vezes passa despercebida pelas políticas públicas, já que o albinismo é uma condição relativamente rara. Ela destacou, no entanto, que com algumas ações de baixo custo, a situação pode melhorar significativamente.
De acordo com Ero, pessoas com albinismo ainda sofrem preconceito e estigma, o que pode dificultar seu acesso a serviços básicos, como educação. Outro desafio que enfrentam é na área de saúde. O albinismo é uma condição genética não contagiosa, que pode provocar deficiência visual e deixar as pessoas com pele muito vulnerável ao sol devido à ausência de melanina.
Para essas pessoas, o acesso a protetor solar é de vital importância, já que é a principal medida preventiva contra câncer de pele. Pessoas com albinismo são 1.000 vezes mais suscetíveis à doença do que a população em geral, segundo a especialista. Ela explicou que em algumas áreas do país a expectativa de vida para esse grupo pode ser de apenas 33 anos, em função do câncer de pele, e destacou que a prevenção é relativamente simples.
Entre os dias 28 de outubro de 8 de novembro Ero teve encontros em Brasília (DF), Maceió (AL), Salvador e Ilha da Maré (BA) e São Paulo (SP). Ela se reuniu com representantes dos governos federal, estaduais e municipais, organizações da sociedade civil, acadêmicos, além de pessoas com albinismo e suas famílias.
Em relatório elaborado após a visita, ela destacou que o albinismo parece ser mais comum em populações rurais indígenas e afrodescendentes, incluindo entre comunidades afrodescendentes tradicionais (quilombos). Em algumas comunidades quilombolas, a prevalência de pessoas com albinismo pode chegar a 6 pessoas para cada 1000.
“Os países em desenvolvimento parecem ter uma maior taxa de prevalência de pessoas com albinismo do que os países relativamente desenvolvidos. Este contexto socioeconômico tem sido uma grande barreira para avançar os direitos dessas pessoas globalmente até agora”, afirmou.
Sobre o Brasil, Erro demonstrou otimismo: “Estou confiante de que o Projeto de Lei 7762/2014, que tramita no Congresso Nacional desde 2012 e está paralisado, pode finalmente avançar. Sua implementação tem o potencial de salvar vidas de milhares de pessoas com albinismo”, declarou.
“Contando com as promessas obtidas de vários representantes governamentais estaduais e federal durante minha visita, estou otimista de que mudanças positivas para pessoas com albinismo e suas famílias estão por vir”, relatou Erro.
O relatório final da visita ao Brasil será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em março de 2021.
Para mais informações, clique aqui.
Para acessar o relatório parcial da visita, clique aqui.
Ikponwosa Ero (Nigéria) foi designada em junho de 2015 como a primeira Relatora Independente das Nações Unidas para os Direitos Humanos das Pessoas Com Albinismo. Inspirada por sua experiência como pessoa com albinismo, Ero tem, há mais de uma década, se engajado ativamente na pesquisa, desenvolvimento de políticas e defesa nos direitos humanos das pessoas com albinismo. Como defensora internacional e funcionária legal da ONG Under the Same Sun (Sob o mesmo sol), ONG focada no albinismo, ela participou de múltiplas atividades e painéis da ONU em Genebra e Nova Iorque. Ela também é autora de inúmeros artigos sobre o tema, incluindo respostas para o assunto e categorização das pessoas com albinismo no sistema internacional de direitos humanos.
Os relatores independentes são parte dos Procedimentos Especiais do Conselho de Direitos Humanos, maior órgão de especialistas independentes do Sistema de Direitos Humanos das Nações Unidas e designa o mecanismo independente que investiga e monitora fatos do Conselho que responde tanto a situações específicas de países ou questões temáticas em todas as partes do mundo. Estes especialistas trabalham de forma voluntária; não são funcionários da ONU e não recebem salário por seu trabalho. São independentes de todos os governos ou organizações e servem em sua capacidade individual.
Informações para a imprensa:
No Brasil (durante a visita): Angela Pires Terto (angela.pires@one.un.org) ou Alice Ochsenbein (+41 79 444 45 52); aochsenbein@ohchr.org
Em Genebra, depois da visita: Alice Ochsenbein (+41 22 917 32 98) ou albinism@ohchr.org
Para solicitações de imprensa relacionadas a outros peritos independentes:

Mr. Jeremy Laurence, UN Human Rights – Media Unit (+41 22 917 9383 / jlaurence@ohchr.org)

TELINHA QUENTE 383


Roberto Rillo Bíscaro

Parece que as gigantes do streaming levaram a sério antigo conselho de Robert Duvall, que disse que a inspiração pra incontáveis boas histórias está em arquivos de “gente comum”. A Netflix discretamente colocou em seu catálogo outra minissérie policial baseada em fatos. 

História de Um Crime: Colmenares (2019) esmiúça caso de morte, que abalou a Colômbia, há alguns anos. O jovem Luis Andrés Colmenares Escobar, alcunhado de Negro pelos amigos, misteriosamente morre numa noite de Halloween. A polícia classifica como acidente, mas a família não se conforma, até que um fiscal ambicioso resolve investir na teoria de assassinato, acusando jovens abastados.

O roteiro é superbem costurado e a produção e elenco ótimos. Tecnicamente um sucesso. Também artisticamente, porque uma série policial deve prender, gerar suspense e isso História de Um Crime: Colmenares faz com excelência.

O roteiro não perde de vista e, na verdade, enfatiza bastante o caráter de vendeta racial/de classe que se tornou o caso. O apelido de Colmeares já diz muito e seus amigos mais branquinhos são realmente meio endinheirados. Desse modo, o fiscal – igualmente revanchista, mas totalmente oportunista – torna o caso Colmeares uma cruzada contra as oligarquias colombianas. Claro que se o espectador refletir, perceberá que a burguesia acusada do crime é aquela mais rasteira, perfeitamente descartável e propícia pra “servir de exemplo”. 

De todo modo, a série apresenta um bando de gente que vê no caso uma oportunidade de ascensão, vingança, e, em meio à hipocrisia geral, a família que sofre. 

Totalmente maratonável, sem dever nadica aos dramas de tribunal e de investigação, “lá de cima” e, na verdade, mais viciante que muitos deles.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

CAIXA DE MÚSICA 388

Roberto Rillo Bíscaro

O veterano Zé Luis Mazziotti volta com voz e violão em um trabalho delicado, que pinça clássicos da MPB.

INFLUENCER ALBINO


Garoto de 2 anos com condição rara de albinismo tem mais de 16 mil seguidores

Ryan Lucca é da região de Guarulhos e se destaca por onde passa, já que desperta a curiosidade das pessoas sobre sua aparência

Nascido em uma família de negros, o pequeno Ryan Lucca tem cabelos e pele bem claros, uma condição rara de albinismo. A Record TV, através do programa Hoje em Dia, tem acompanhado o menino, que atualmente tem 2 anos de idade. 

Existe um perfil na rede social, administrado por sua mãe, chamado "Meu Bebê Platinado". Nesta segunda-feira (07), novamente ele foi sucesso na telinha.

Ryan Lucca é da região de Guarulhos e se destaca por onde passa, já que desperta a curiosidade das pessoas sobre sua aparência. E na época em que nasceu, o menino não surpreendeu apenas curiosos, como também seus pais e familiares. 

A conclusão médica foi de que Ryan Lucca possui um tipo raro de albinismo. Nesse caso, o organismo produz pouca melanina, proteína capaz de pigmentar e dar cor à pele. O garoto é portador dessa condição e tem cabelos muito claros, o que dá alusão ao nome da rede social administrada pela mãe.

JUSTIÇA SEJA FEITA EM MOÇAMBIQUE

Indivíduos que assassinaram menor albina em Nampula condenados a 20 anos


Há cinco meses, a nossa equipa reportou o caso de uma menina de 12 anos com albinismo que foi barbaramente assassinada por dois homens, no distrito de Murrupula, na província de Nampula.

Durante a campanha de julgamentos, a 6ª secção criminal do Tribunal Judicial da Província de Nampula julgou o caso que tinha três arguidos, onde um foi absolvido por insuficiência de provas e dois pegaram uma pena de 20 anos de prisão maior.

Uma pena considerada branda por tratar-se de um crime hediondo.




Foram os mesmos argumentos que levaram o Ministério Pública a recorrer da decisão, segundo soube o “O País” de uma fonte daquela instituição em Nampula.

Até porque exemplos não faltam. Outros dois homens cumprem penas de 40 anos de prisão no Estabelecimento Penitenciário Regional-Norte por terem assassinado um albino em 2016.

Para a Associação Amor à Vida, estas condenações estão a ajudar a devolver a tranquilidade depois de meses de terror que as pessoas com problema de pigmentação da pele viveram.

O rapto e assassinato de albinos está ligado ao crime de tráfico de partes de órgãos humanos, um fenómeno que por sua vez associa-se a crenças de magia negra.
Fonte: https://noticias.mmo.co.mz/2019/11/individuos-que-assassinaram-menor-albina-em-nampula-condenados-a-20-anos.html#ixzz64xwjdgZU

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

PAPIRO VIRTUAL 149

Roberto Rillo Bíscaro

Duas mortes numa pequena ilha finlandesa colocam em ação o grupo de investigadores liderador pela Tenente Maria Kallio.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

TELONA QUENTE 310


Roberto Rillo Bíscaro

Um adolescente rebelde e seu tio mal-humorado fogem pela floresta, depois que a assistência social ameaça levar o garoto embora.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

CONTANDO A VIDA 288

ORSON WELLES, SOBRE “MORRER NA PRAIA”.

José Carlos Sebe Bom Meihy

Por incrível que pareça ainda fico nervoso antes de cada apresentação pública. E considere que sou professor há cerca de 50 anos. Isso, por inexplicável que pareça, se dá em todos os níveis de exposição, não apenas em situações de grande audiência ou solenidade. Com o passar do tempo, ironicamente, as coisas se complicam, fico mais exigente, mais tenso, mais responsabilizado, mais tudo que se aproxima do pânico. Nem sei dizer se é como se fosse a primeira ou a última aula. Por lógico, tudo se amplia quando se fala em língua estrangeira sob a certeza de sotaque comprometido. Valho-me, para compensar, de velhas estratégias que se vocacionam a ajudar e nessas circunstâncias preparo tudo com antecedência, em português, busco ajuda de tradutores competentes, gravo e ouço até me convencer de alguma desafetação. É um exercício de paciência, medo e respeito. Paciência pela lentidão do processo; medo de fazer feio e empobrecer a proposta, e, respeito ao público que, afinal, não precisa padecer de minhas imperfeições. Estou a cada dia mais exigente e não posso dizer se isto está mais para o lado da virtude ou do defeito. A complicar as coisas, quando estou no exterior aparecem situações embaraçosas como convites inesperados. Nos róis das dificuldades que se acumulam com a idade, o improviso se figura como ameaça progressiva e a cada vez mais ameaçadora. 

Acabo de chegar de longa viagem aos Estados Unidos. A primeira fase foi deliciosa, de férias com os filhos em um cruzeiro marítimo pelo Caribe. Os sete modestos dias voaram rápidos demais e se vingaram em trabalhos arrastados por um mês. Cumpri agenda em várias universidades, em estados diferentes, tudo apertado e repartido entra as cerimônias regulares de visitante estrangeiro e debates acadêmicos. Meu lado curioso acrescentava ainda algumas fugidas para aventuras turísticas, e assim escapei para ver a vida fora dos limites escolares. E foi muito bom. Estive, por exemplo, na fronteira dos Estados Unidos com o México e pude ver ao vivo, e em tons de cinzas, fração do terrível muro do presidente Trump. Pude também acompanhar a façanha de brasileiros comuns que deixam o país em busca do tal sonho americano. Comidinhas aqui, musiquinhas ali, intercalava trabalho com variações. Aconteceu que neste pacote uma surpresa me tomou de assalto. Fui convidado para comentar o filme “It’s all true” de Orson Welles. Não tive como recusar. 

Acertado que o evento se daria três dias depois, cuidei de me preparar. Rever o filme foi a primeira tarefa. Fácil, fácil não foi, pois uma coisa é assistir um documentário como público, no seu próprio país e outra, bem diversa, ser comentador de peça que não integra sua lista de habilidades. A atitude seguinte contou com ajuda da bibliotecária, e em segundos me foi dada uma lista com 76 livros de crítica e biografias do gênio Orson Welles. O tempo mal daria para breves leituras, e fiquei em dúvida sobre qual escolher. Sentia-me atraído pelo clássico debate em torno do “Cidadão Kane” de 1941, mas tinha que inscrever o “It’s all true” filme que se seguiu. Restou-me então a escolha de dois textos de Charles Higham: The Films of Orson Welles (1970) e Orson Welles: The Rise and Fall of an American Genius (1985). Pronto, estava aberto o caminho. Sem muito dormir, com intervalos suficientes para cumprir os protocolos acertados, me perdi no vasto mundo. E foi um momento-tesouro em minha viagem.

Minha tarefa, porém, era mais pontual e comentar as aventuras vividas pelo “gênio” do cinema em sua visita ao Brasil. Tratei logo de ressaltar o contexto da “Política de Boa Vizinhança” e lembrar que no mesmo pacote estava também escalada a presença de Walt Disney. A fama de Welles, consagrado em seu primeiro filme para a RKO, então principal estúdio de Hollywood, o fazia personagem famoso, dimensão do significado do cinema norte-americano no mundo. Tendo vindo poucos dias antes do carnaval, suas intenções estavam decididas a explicar por que “o Brasil era o país mais feliz do mundo”. Em tempos de tensões da Segunda Guerra isto não era pouca coisa. Há de se lembrar que Welles chegou cansado, pois além do impacto de seu filme mais importante, terminava dois outros produtos (“Soberba” e “Jornada do pavor”). E todos queriam saber como seria o filme sobre o Brasil, questão que, afinal, nunca ficou respondida. 

Hospedado no Copacabana Palace, logo o cineasta trocou a fadiga pela euforia. Dizem que namorou muito, e que foi estopim do rompimento de Linda Batista com Emilinha Borba. Isto sem contar seus próprios comentários sobre noitadas no Cassino da Urca. Questionado por todos sobre o enredo do filme, Welles não revelava, pois ele próprio mais estava atento a colher cenas do que propor um enredo. E não mediu esforços para filmar o carnaval de rua carioca. Problemas de financiamento e de contatos com os financiadores propuseram cortes de verbas e, mesmo propondo dinheiro próprio, ainda foi a Fortaleza colher material para outra fase do filme, essa com a aventura de jangadeiros que resolveram atrair o governo central para suas condições miseráveis. O plano de Welles era ficar três meses, mas no sexto resolveu retomar a façanha dos quatro jangadeiros que, em 61 dias, cruzaram o Atlântico cumprindo o percurso do Ceará até o Rio de Janeiro. Na chegada, porém, exatamente na hora do desembarque uma forte onda virou a jangada e um de seus tripulantes, de apelido Jacaré, morreu. Frente a este lance de tragédia Orson Welles teria declarado a frase que foi incorporada ao nosso dia a dia: fez tanto para morrer na praia.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

TELINHA QUENTE 382


Roberto Rillo Bíscaro

Comentários sobra terceira temporada da série Atypical.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

INDIGESTÃO ALBINA

Crocodilo raro devora pescador e tem destino trágico

Em uma segunda-feira, um pescador decidiu se aventurar em um rio no território Norte de Adelaide, mas enquanto se abaixou para puxar a rede de volta, acabou sendo atacado e devorado por grande um crocodilo de água salgada. O crocodilo era um meio-albino que media 4,5 metros de comprimento e é incrivelmente raro, com uma cabeça hipo-melanística, o que significa que suas escamas continham menos melanina – ou pigmento – fazendo com que adquirissem uma coloração amarela pálida.

Após o incidente, muitos pescadores ficaram indignados e o crocodilo acabou sendo morto a tiros no mesmo dia.

Filhotes de crocodilos albinos não são particularmente incomuns, mas é muito raro que eles consigam chegar a idade adulta, como foi o caso do animal sacrificado em Adelaide. Crocodilos com coloração albina pálida – mesmo que apenas na cabeça – não se beneficiam da camuflagem fornecida pelas escamas esverdeadas regulares, o que os transforma em alvos fáceis, então precisam trabalhar muito para sobreviver.

“Esse crocodilo em particular tinha muitas cicatrizes, falta de membros, uma enorme mordida em seu flanco. Ele passara pelas guerras”, disse Britton a James Dunlevie, da ABC News .

Pat Chappell, um guia turístico no rio Adelaide, disse a Dunlevie que o trecho de água era conhecido pelos habitantes locais como um local potencialmente perigoso e com alta concentração de grandes crocodilos de água salgada.

“Ele era o macho territorial dominante naquela parte do rio. Esse é o território dele e ele o patrulha regularmente. Há uma chance em cem milhões de se encontrar outro crocodilo como ele”, disse ele ao ABC.

CAIXA DE MÚSICA 387


Roberto Rillo Bíscaro

Há 35 anos, quatro escoceses mudaram a história do rock, por isso é importante celebrá-los.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

PAPIRO VIRTUAL 148


Roberto Rillo Bíscaro

A primeira presidente dos Estados Unidos vai visitar a Noruega, mas algo dá errado, muito errado.