ENTÃO É NATAL: tema para fim de ano.
José Carlos Sebe Bom Meihy
Não gosto de escrever quando estou triste. Dizem os sábios que escrever chorando contagia os leitores. Hoje, além do mais, o dia amanheceu iluminado com sol ardendo luzes e, dezembro reinando na atmosfera de “boas festas”. Pensei de início em falar de amenidades, algo do tipo “momentos prazerosos do ano”, alguma coisa próxima de um “apesar de tudo, valeu a pena”, “vejamos o outro lado da moeda”, ou ainda “as limonadas feitas com limões muito azedos”. Desisti. Desisti mantendo a proposta de assegurar que em tempos natalinos cabe não sufocar a esperança e nem evitar a gostosura do verão próximo ao mar. Cabe, isto sim, valorizar o gosto de frutas de época e o povo nas ruas, praças, praias. Portanto, em vez de falar do passado ou chorar pitangas conhecidas, optei por relativizar o que tanta dor tem causado a muitos. Depois de trato nas ideias, imaginei alternativa prometedora, um balanço aberto do aprendizado do nosso presidente da república. Imagine... Sim, na modéstia de minha insignificância, a fim de justificar o tal espírito de fim de ano, resolvi olhar o lado positivo do capitão legitimado como mandatário máximo do país. Sabia do cuidado nas escolhas que instruiriam os argumentos, pois não posso ser traidor de postulados que mantenho, acredito e pelos quais luto. Tratos à bola, descartei logo as críticas fáceis à Damares, ao Sales, ao Moro, ao Weintraub, ao Guedes e ao estranho Ernesto Araújo. Da família, nem pensar: filhos, mulher e ex mulheres. Bico calado em relação ao Queiroz e aos vizinhos (caladíssimo). É claro, que não vou mencionar fatos constrangedores como “golden shawer”, ofensas à Pirralha e nem ao respeitado Paulo Freire. É óbvio que preferi pensar que Olavo de Carvalho não existe e que o terraplanismo foi brincadeira surreal. Machismo, ditadura, sexismo, preconceitos: nem pensar. E não poderia ser de outro jeito, pois a trilha sonora imaginária e que se presentifica na redação corre por conta da inefável Simone, repetindo a versão da letra feita por John Lenon e sua amada Yoko Ono: “então é Natal, e o que você fez? O ano termina e nasce outra vez/ Então é Natal, a festa Cristã/ Do velho e do novo, do amor como um todo”...
Consciente da nova proposta, aos poucos me vi pesquisando as atitudes humanizadoras do presidente, e, fato por fato, fui “aladainhando” situações mais simpáticas, temas que pudessem fazer o nosso chefe de estado mais aceitável como ser social, quiçá cabível na conveniente imagem de político que aprende com o posto. Foi assim que revisitei alguns pontos capazes de trocar a percepção raivosa e pouco instruída do chefe de estado. E achei. Por incrível que pareça, achei. Como critério nessa busca ansiosa, resolvi partir do geral para o particular, não sem antes reconhecer que nossos deputados e senadores, bem como o Supremo Tribunal de Justiça, em que pese tudo de ruim que os ambienta numa política de continuidades, têm salvado a pátria. E ajudado o presidente.
Numa ordem decrescente, pois a questão com a China cintila forte. Lembremos que na campanha o nosso maior parceiro econômico foi demonizado e no verbo eleitoral insanamente ameaçado de ser empurrado para fora. A China era comunista e queria comprar o Brasil. Mudou. Mudou felizmente e num gesto de deslize exagerado, quando visitou a China até a classificou como “capitalista”. Vivas! O presidente aprendeu, e mudou.
No mesmo entusiasmo – ainda que a ingenuidade se fizesse sombra – buscando apoios originais, o presidente se entregou a saudações com Israel. Sem ser alertado dos riscos de apoio (não ao estado, mas ao primeiro ministro Nethanyahu, acusado de corrupção) o presidente se empenhou na transferência de nossa embaixada da capital do Estado de Israel, de Tel-aviv para Jerusalém. Foi preciso que parceiros econômicos do porte do mundo árabe mostrassem sua zanga para que a dispendiosa e inútil atitude fosse deixada de lado, pelo menos temporariamente. Novamente o presidente aprendeu alguma coisa.
Bolsonaro tem sido considerado “pé-frio” e dois exemplos servem de faróis para tanto: 1- no apoio a Macri, numa interferência agressiva à política interna de país estrangeiro e ao factóide montado para projetar o filho futuro/ex/candidato a embaixador do Brasil nos Estados Unidos. No primeiro caso, depois de bater o pé e dizer que não ia à posse do nosso terceiro maior parceiro econômico, ou sequer mandaria representante, se retratou e enviou o vice-presidente. Aprendeu, outra vez. Mas falando da inicial devoção aos Estados Unidos, o presidente se achava alinhado fraternalmente ao grande amigo do norte continental, os Estados Unidos. Sem entender bem o desenho da aquarela internacional, sugerindo-se íntimo da família presidencial, com filho supostamente freqüentando o lar dos Trump, deu-se muito mal quando constatou que não estávamos entre os indicados para lugar no sonhado OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico). Nosso presidente ficou quieto frente a escolha da Argentina e da Romênia. De maneira prudente e com elogiosa discrição, a mágoa foi contida pelo silêncio continuado. Sábia decisão. E estamos pagando com subsídios pesados sobre o aço e alumínio a subserviência inicial. Mas sem dúvidas, nosso senhor de Brasília aprendeu.
Com estas lições postas, com a esperança compatível com as festas, na redondeza dos anos que espelham dois 20, desejo a todos boa sorte no ano que vem. E que as lições aprendidas pelo presidente sirvam de mote para que tenhamos também paciência, humildade e resignação...
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