sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
CONTANDO A VIDA 297
NOSSO MEDO DE CADA DIA: fobias e silêncios.
José Carlos Sebe Bom Meihy
Fiquei muito curioso. Vi uma cena de divulgação de nova novela televisiva na qual uma personagem urbana, a contragosto reclusa numa fazenda, apavorada, corre de medo de uma galinha (alectrofobia). Que, coisa estranha, pensei. Será que isto existe mesmo? Foi quando então declinei alguns pânicos mais identificáveis na população em geral, como asco de: barata (catsaridafobia), cobra (ofidiofobia), aranha (aracnofobia), baleia (cetafobia). Alguns temores são ambíguos e polarizados na chave da cultura como o avesso da paixão por cachorros (cinodobia), e, imaginem, fiquei espantado ao saber que Hitler e Napoleão tinham aversão a gatos (ailurofobia). Exagerados, ampliando o leque, existem os que são “zoofóbicos”, pessoas que temem todos os animais.
Há casos mais graves como aqueles que se apavoram frente aos gordos (cacomorfobia), ou entram em desespero ao perceber roupas com botões ou abotoadas (koumpounophobia). Confesso que não sabia de medo de coisas pequenas (microfobia), e não desconfiava que objetos ou espaços grandes aturdiam (macrofobia). Estava envolvido no entendimento de tais pânicos, quando me permiti pensar numa ladainha pessoal. Parti do suposto que há profundidades insondáveis nessas manifestações. Talvez – de maneira clemente comigo mesmo – tivesse sido muito defensivo ao me vangloriar de não ter medo de altura (aerofobia) como tem 5% da população. Estranhei ter notícias que temor a trovão é mais comum do que supunha, pois acho a tal “tinotrofobia” espetacular. Pareceu-me esquisito a “monofobia”, ou medo de ficar, comer, se alimentar ou beber sozinho. Senti-me aberração ao notar que existe a “antropofobia” que também é conhecida como “demofobia”, ou seja, medo de multidões, ah! gosto muito de estar em estádios de futebol, na assistência de escolas de samba, de ver o público denso saindo de metrôs.
Nunca padeci da tal “cacorrafiofobia”, ou medo do sucesso, até pelo contrário sem exagero, gosto de ser reconhecido pelo meu trabalho. E tenho outros contrastes, pois sempre gostei de pássaros oposto a tantos que são “ornitofóbicos”, seres que nem podem pensar em asas, penas, bichos que voam. Talvez por ser do signo de peixes, também não me conformo com quantos temem água (aquafobia), e nem mesmo com “gefirobóbicos”, pessoas que têm temor a pontes. Quase tive um ataque quando soube que existem “triscaidecafobia”, ou seja, tipos que têm horror ao número 13, sinceramente, quase gargalhei ao lembrar que nos Estados Unidos os elevadores não tem o tal número azarado. É possível que muitas pessoas também custem a acreditar que existam pessoas que padecem de “hipopotomonstrosesquipedaliofobia”, ou seja, medo de palavras longas demais. Fiquei exultante ao saber que não sou “nictofóbico”, não tenho aversão a escuro e nem sou “agrorafóbico”, ou seja, quem tem aversão a espaços abertos. Aliás, o reverso disto é “claustofobia”, ou temor a espaços pequenos e apertados como elevadores e locais fechados. Acho, diga-se que “misofobia”, pavor de bactérias e germes – as tais pessoas que exageram muito na higiene pessoal. “Tripofobia”, ou seja, medo de buracos me afigura excêntrico, mas bastante comum e nem podem ouvir a palavra precipício. Na mesma linha devo salientar que tenho conhecidos que são “cancinofóbicos” e que acham que mais cedo ou mais tarde serão vítimas da doença. Reconheço com facilidade a cultura anti “tanafóbica”, avessa à vasta legião dos seres que têm medo da morte. Há graus menores destes receios, como os “tripanófobos” que temem agulhas e também os “hemófibos” que não podem ver sangue. Tudo sugere que ter medo de ser abandonado (autofobia) é mais frequente do que se pensa. Quase não acreditei quando me veio a notícia de “kinemortofobocos”, ou seja, medo de virar Zumbi. De todas as fobias, creio, a mais comentada hoje é “homofobia” e, combinemos, nada mais oportuno para exame de nossa cultura patriarcal e velha.
Mas, nem pensem que a lista parou por aí. Os dicionários guardam mais de 300 palavras relacionadas a pânicos, ascos, nojos, medos crônicos. Imaginem que existe até um que explica todos, ou seja a “phobophobia”, o rei dos receios, aquele que guarda o conteúdo maior dos pânicos ou o medo de ter medos.
Mas é preciso ir além da curiosidade ou do pitoresco. Cabe pensar nas razões dos temores. É dito pelas linhas psicanalíticas que em muitos casos ter fobias é uma forma defensiva de se arriscar ou se expor aos perigos. Sem dúvidas há verdades nisto, mas o que se estranha é a pouca referência que damos a esses detalhes de nossa vida. Meditando sobre essas coisas, me surpreendi ao questionar pessoas bem próximas e ver que, além dos receios comuns – baratas, cobras, aranhas e escorpiões - não sou único a desconhecer detalhes que são importantes para seres tão próximos. Já que abri esta crônica falando de curiosidades, gastei um tempo considerável supondo as fobias de pessoas que amo. Fui além, me diverti imaginando o que parentes e amigos pensariam das minhas.
terça-feira, 28 de janeiro de 2020
segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
AS ALBINAS DO CAZAQUISTÃO
Irmãs albinas com 12 anos de diferença fazem ensaio estonteante
Você conhece o Cazaquistão? Muita gente provavelmente sequer lembrava da existência desse país tradicionalíssimo que fica entre a Mongólia e o Mar Cáspio, mas hoje falaremos sobre uma modelo cazaque que tem quebrado padrões com sua beleza estonteante.
Asel Kalaganova tem 14 anos e é albina. Ela já começou sua carreira de modelo pelo Cazaquistão, mas conquistou as redes sociais com um ensaio com sua irmã Kamila Kalaganova, de apenas 2 anos. As irmãs, que nasceram com albinismo, fizeram uma série de fotos que exaltam a beleza do albinismo e que quebram padrões de beleza.
A diferença de 14 anos entre as irmãs foi explorada no ensaio
“Pessoas ficam muito surpresas ao saberem que nós somos albinas. Muita gente sequer faz ideia do que é albinismo”, afirmou Asel ao jornal britânico The Daily Mail.
O albinismo se caracteriza como uma desordem genética em que a pessoa não produz melanina, pigmento que dá cor à pele. Dessa maneira, a pele e os pelos do albino não possuem pigmentação, sendo extremamente claros.
Asel combina os traços cazaques com o albinismo
“Quando eu dei a luz ao meu mais velho, a genética não era um dos nossos maiores conhecimentos. Agora entendemos melhor. [Quando ela nasceu] os médicos ficaram chocados, e eu comecei a acreditar que ela fosse russa. Depois, comecei a ler sobre o assunto e descobri que minhas filhas são albinas”, afirmou a mãe de Asel e Kamila em entrevista ao site Bored Panda.
A prevalência do albinismo varia entre 1 para cada 3 mil e 1 para 20 mil pessoas. A raridade da condição, no entanto, não é um limite para a sua beleza, que vem cada vez mais ganhando as passarelas e sendo aceita como uma alternativa ao padrão.
Confira as fotos do ensaio de Asel e Kamila:
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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
SABRINA, A MENINA ALBINA
Em 29 de janeiro, a partir das 18horas, no Desafinado Café, rua Martín Afonso, 857, bairro Mercês, Curitiba, a escritora Celina Bezerra estará autografando os livros infanto-juvenis " Sabrina, a menina albina", e "Bruna".
"Sabrinha, a menina albina", é uma obra sensível dedicado às pessoas com albinismo. É um livro de inclusão e respeito à diversidade.
Nesta oportunidade, o bate papo com a autora permitirá que os leitores recebam mais informações sobre a construção desse livro e os objetivos.
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terça-feira, 21 de janeiro de 2020
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
PETS ALBINOS
Animais albinos: saiba como cuidar de pets com a variação genética
Talvez por não serem vistos com tanta frequência, os animais albinos geram grande fascínio em muita gente. Há relatos e reportagens de tigres, leões, cangurus e até répteis albinos encontrados na natureza.
Mas o albinismo em animais domésticos também pode acontecer, principalmente em gatos e cachorros! Será que eles precisam de cuidados especiais? É isso que você vai descobrir a seguir!
Nesse caso, para não precisar recorrer a um teste genético, a dica para identificar animais com albinismo é observar a tonalidade da pele, dos olhos, do focinho e até dos coxins (almofadinhas das patas).
Isso porque a falta de melanina não afeta somente os pelos, como já comentamos. Ela também faz com que outras partes do corpo tenham menos pigmentação.
Logo, se seu cachorro ou gato é branco, mas tem focinho e coxins mais escuros, além de olhos escuros, o mais provável é que ele não seja albino. Outra dica é observar se existem manchas mais escuras na pele ou na pelagem dele, já que animais albinos são inteiramente brancos.
3 cuidados especiais com animais albinos
Embora o efeito mais lembrado seja estético, a melanina também tem função protetora no organismo. Por isso mesmo, gatos e cães albinos precisam de alguns cuidados especiais:
1. Tenha muito cuidado com o sol
Justamente pela falta de melanina, que ajuda a proteger o organismo dos raios ultravioleta, gatos e cachorros albinos estão mais sujeitos a desenvolver queimaduras e câncer de pele.
Sendo assim, o ideal é aplicar filtro solar neles todos os dias, mesmo quando estiverem em casa. Além disso, nunca passeie com o pet nos horários de muito sol (entre 10h e 16h).
2. Atenção também à claridade!
Também em razão da falta de melanina, os olhos dos animais albinos são muito sensíveis. Essa é outra razão para mantê-los abrigados nos horários mais ensolarados. No entanto, é preciso, ainda, ficar atento à claridade do ambiente, que deve ter menor taxa de iluminação.
3. Leve seu pet albino para check-ups regulares
Você já deve ter notado que os animais albinos são muito sensíveis e precisam de cuidados especiais, não é mesmo? Por isso, não deixe de levá-lo ao médico-veterinário para um check-up ao menos uma vez a cada seis meses.
Em especial, além de observar a pele e os olhos do pet, o especialista poderá acompanhar também como vai a audição do seu amigo, pois a mesma melanina que dá cor a estruturas externas atua na cóclea, para viabilizar que ele ouça direitinho.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
TELONA QUENTE 318
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
segunda-feira, 13 de janeiro de 2020
domingo, 12 de janeiro de 2020
XUXINHO
Xuxa posta foto com menino albino em Angola, e Junno comenta: "Xuxinho"
Xuxa Meneghel postou hoje, no Instagram, uma fofíssima imagem em que aparece brincando carinhosamente com um menino albino em Angola, país em que realiza uma missão solidária.
"Milagre é um albino da aldeia, sonhe com eles, ajude a manter esse lindo projeto", escreveu a apresentadora como legenda, divulgando o trabalho do instituto Aldeia Nassi, que ajuda crianças no país.
Xuxa recebeu muitos comentários elogiosos e, entre eles, um se destacou. O namorado da apresentadora, Junno Andrade, escreveu: "Quase um Xuxinho, hein, Milagrosa! Te amo".
A atriz Bruna Marquezine, que também realizou trabalho voluntário no local, por sua vez, postou: "Que saudade dele!".
Xuxa apoia a ONG Baluarte, que nasceu há dois anos com o objetivo de dar assistência a crianças carentes em Angola. Atualmente, a Baluarte atende cerca de 300 crianças do bairro Capolo, na cidade de Poro Amboim.
No ano passado, Sasha, filha de Xuxa, e os jogadores palmeirenses William Bigode e Raphael Veiga estiveram na sede da entidade para fazer trabalho voluntário.
QUÁDRUPLA ADOÇÃO ALBINA
Casal adota 4 crianças albinas: “elas preenchem nossos corações”
A família adotou cinco filhos, sendo quatro crianças com albinismo
Elizabeth Grabowski já tinham duas crianças quando o sonho de um terceiro filho apareceu. Como casal vivia uma fase bem confortável na vida com bons empregos, casa, carro e os dois filhos; a terceira gestação acabou ficando para trás.
Com o tempo, a ideia da adoção tomou forma e eles deram entrada no processo. O sonho era uma menininha chinesa. Foi então que uma longa espera começou. Os estimados seis meses se transformaram em cinco longos anos.
“Aos poucos o termo necessidades especiais começou a parecer menos assustador”, afirmou Grabowski ao site Love What Matters. Logo depois de mudarem a ficha de cadastro, chegou um e-mail com uma recém-nascida para a adoção. Ao abrirem o anexo, eles viram a pequena Lily. Uma garotinha de cabelos brancos como a neve. “Nossa pequena filha tinha uma condição médica muito visível, albinismo, e nos apaixonamos por ela naquele momento”, afirma.
Um mês depois a família cresceu novamente. O plano era outra menininha de olhos claros e cabelos platinados, mas eles foram surpreendidos com Mae, uma chinesinha com lindos olhos e cabelos castanhos. A pequena nasceu com uma deficiência no braço direito, que limitava sua função.
Enquanto estavam na China, o casal não parava de pensar em um menino albino. Ao retornarem, entraram em contato com a agência de adoção e uma hora depois o telefone tocou. Natanael, um menino de três anos com albinismo, estava pronto para entrar na família.
Com cinco filhos, o casal sentiu um novo desejo de adoção. “O albinismo foi um diagnóstico com o qual nos sentimos muito à vontade, então queríamos uma menina entre cinco e sete anos”, conta Grabowski. Apesar da agência dizer que não seria tão fácil, três dias depois Kaelyn foi adotada.
Ao contrário dos outros irmãos, a menina de 5 anos tinha uma história envolvendo muitas formas de abandono, que resultaram em atrasos no desenvolvimento mental e físico. “Quando a conhecemos na China, ela ainda tinha muito a aprender. Sua melhora nos anos seguintes foi milagrosa! Sabemos que nunca será independente, mas ela é muito amada e feliz”, reconhece a mamãe que também adotou a pequena Emily, meses depois.
Agora sim, o casal sentia que a família estava completa! Rodeados por sete filhos, os desafios não são poucos. A doença dos quatro também acarreta deficiências visuais em graus variados. Mas com auxílio de óculos, lupas e bastões todos são capazes de brincar e aprender como qualquer criança. “A vida com quatro filhos com albinismo tem sido uma grande aventura. Elas preenchem nossos corações”, garante Grabowski.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
quinta-feira, 9 de janeiro de 2020
FAIXA ALBINA
De olho nas Paralimpíadas, judoca de MS inicia ano em competição no Canadá
Luan Simões Pimentel está concentrado com a seleção brasileira de judô paralímpico no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo (SP). O sul-mato-grossense participa, junto a outros 12 judocas, dos últimos preparativos da delegação verde e amarela convocada pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), para a disputa da IBSA Judo American Championship. A competição, correspondente ao Parapan-Americano da modalidade, ocorrerá em Montreal, no Canadá, de 10 a 15 de janeiro.
O evento é o primeiro do ano valendo pontos para o ranking mundial, que definirá os participantes do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Verão 2020, em Tóquio, no Japão. O torneio internacional multiesportivo mais esperado pelos atletas acontecerá de 25 de agosto a 6 de setembro.
Atual campeão brasileiro e parapan-americano (em Lima, no Peru, de 23 de agosto a 1º de setembro de 2019) na categoria até 73 quilogramas, o judoca, natural de Camapuã, a cerca de 140 quilômetros de Campo Grande, é uma das apostas de medalha do Brasil em competições internacionais. Em Montreal, o objetivo é largar bem na temporada.
“A IBSA Judo American Championship é uma competição muito importante para todos nas Américas, pois é a última no continente e vale pontos preciosos para o ranking paralímpico nesta reta final de classificação às Paralimpíadas”, destaca o camapuanense de 22 anos, um dos favoritos a integrar a seleção tupiniquim em Tóquio daqui há sete meses.
Para o atleta do Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos “Florivaldo Vargas” (Ismac), de Campo Grande, o torneio canadense logo no início do ano é benéfico para todos os judocas. “Nossos clubes ainda estão de férias e não estão tendo treinos. Então, isso será muito importante para chegarmos bem preparados e com ritmo para o Pan [IBSA Judo American Championship] e para as outras competições ao longo deste ano”.
“Espero lutar bem, venho de boas atuações e pretendo me manter com a mente limpa para competir e conseguir expressar a evolução que está sendo buscada nos treinos”, completa o judoca, que tem baixa visão (classe B3) por conta do albinismo. Além da parada no Canadá, as etapas da Inglaterra (em abril) e Azerbaijão (em maio) do Grand Prix, da Federação Internacional dos Desportos para Cegos (IBSA), contarão pontos na disputa pelas vagas paralímpicas no judô.
O camapuanense é um dos contemplados pelo programa Bolsa Atleta, na categoria pódio complementar, criado e oferecido pelo Governo do Estado, por intermédio da Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte). No último dia 30, Pimentel também foi selecionado pelo Bolsa Atleta federal, na categoria internacional, da Secretaria Especial do Esporte, e é um dos 93 sul-mato-grossenses beneficiados.
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020
CONTANDO A VIDA 296
E O PRÊMIO VAI PARA: DAMARES OU WEINTRAUB
José Carlos Sebe Bom Meihy
José Carlos Sebe Bom Meihy
Desde muito cedo aprendi que não devemos diminuir nossos opositores e que, pelo reverso, respeitá-los é maneira sadia de reconhecer a estatura de quem se faz contraste do que pensamos ou consideramos correto. Chamar o inimigo de burro, otário, besta quadrada, ignorante, ou quaisquer outras variantes é simples, ainda que pouco explicativo. Também é cautelar a lembrança dos riscos em conversas exclusivas, trocadas com pessoas afins, com grupos que comungam nossas idéias e pronto. Promover o diálogo, compartilhar comentários que se enquadrem nas molduras da democracia, é meta que deve orientar os cidadãos de boa vontade. É claro que não é fácil achar o desejado “ponto médio”, mas é importante mantê-lo no horizonte. Ponderação, nesses casos, é como canja de galinha, sempre recomendável por não fazer mal. Mas, as sandices estão por aí e por doídas que sejam, por serem exaradas por figuras públicas, se afiguram como ameaças aos cidadãos comuns. O desafio está no teor oculto na pândega e na procura de seus entendimentos, além da perplexidade. Lembremo-nos, atitudes assim podem até divertir, mas não resultam construtivas se esgotarem na constatação e nos recortes isolados. O problema ganha contornos críticos quando elas se naturalizam e não mais espantam. É quando então, num gesto de bom senso, se faz válido elencá-las como maneira de entender a balburdia verborrágica que assola o país.
Em termos filosóficos e analíticos recomenda-se corrigir a velha divisão entre forma/conteúdo. Modernamente, ambos componentes são unos, um determinando o outro. Não é cabível pensar que há uma forma (que pode ser ridícula) independente de seu conteúdo (que pode ser sadio). É evidente que há deslizes pontuais, escorregões frequentes e que ocorrem por diversas razões, mas quando eles se juntam e dimensionam questões consequentes, em particular nas instâncias de poderes políticos, tais dizeres devem ser entendidos como propostas programáticas de efeitos graves. Tiremos, portanto os eventuais lapsos de fala, as roupas erradas (gravatas, cortes de cabelo, sapatos). Interessam mesmo, isto sim, as repetições da relação forma/conteúdo articulados, em particular quando estas se inscrevem em demandas que afetam causas nacionais.
Isto tudo vale como preâmbulo para a consideração de um encontro entre dois personagens inacreditáveis do atual governo: Damares Alves (Direitos Humanos) e Abraham Weintraub (Educação), que juntos, dia 20 de novembro último, protagonizaram a materialização do que pode ser considerado um atentado político educacional. O “espetáculo” dado foi levado à público por ocasião do esforço governamental que visa criar um canal que viabilizasse pais de alunos que quiserem denunciar professores que ofendessem “a moral, a religião e a ética familiar”. É lógico que a proposta inspirada no Tribunal do Santo Ofício, vulgarmente conhecido como Inquisição, não tem consistência além de exceções que não chancelam o absurdo da regra generalizada. Porque a proposta da dupla ministerial não estabelece competências sobre quem controla o quê, onde e como, ela é falha. Mas a reunião de duas pastas é algo sério e aí sim vale a consideração sobre forma/conteúdo discursivos continuados.
Convém lembrar que desde o momento de estreia (estreia é boa palavra para quem se especializou em dar shows de sandices), a Pastora Damares tem nos premiado com pérolas que já entraram na antologia anedótica. A “chave de ouro”, a que abriu todo repertório que, aliás tem notabilizado a atual equipe, pontificava que “meninos vestem azul, meninas vestem rosa”, e, no nível das equiparações, convém não esquecer que com a autoridade outorgada pela presidência, ela foi ungida por seus vínculos divinais, pois à soi disant Jesus reencarnou-se. e se fez presente em uma iluminação onde pairava sobre uma de goiabeira. Delírios a parte, a poderosa senhora afirmou, na linha de interferência na Educação, que na Holanda os professores ensinam que os meninos devem ser masturbados desde os sete anos de idade e que as meninas precisam ser manipuladas desde cedo para que tenham, na fase adulta, prazer na vida sexual. Mas passando do inacreditável para o consequente, a criativa pastora/ ministra afirma categoricamente que no nordeste do país dá-se distribuição escolar de “manuais de bruxaria” e, não bastasse, indicou a existência de hotéis fazenda onde turistas se valem de animais para transar. A soma destas falas convida a vê-las articuladas, e reveladoras de posturas ministeriais. Tudo é agravado – e muito – quando se perfila outro cabedal de barbaridades derivadas do ministro responsável pela Educação que, em resposta, numa “twitada”, declarou que a ofensa deferida a ele por uma adolescente devria ser proferida à mãe “égua sarnenta e desdentada”. A par de linguajar, digamos chulo, o mandatário declarou, frente a visita do presidente que “em Israel, o Jair Bolsonaro tem um monte de parcerias para trazer tecnologia aqui para o Brasil. Em vez de as universidades do Nordeste ficarem aí fazendo sociologia, fazendo filosofia no agreste fazer agronomia, em parceria com Israel”. Também deixemos os preconceitos pontuais e assinalemos a precariedade analítica de quem se propõe controlar a sala de aula, e vejamos, o que disse em relação a um mundialmente reconhecido educador: “se o Brasil tem uma filosofia de educação tão boa, Paulo Freire é uma unanimidade... Por que a gente tem resultados tão ruins comparativamente a outros países? A gente gasta em patamares do PIB igual aos países ricos”. Reduzindo os efeitos do ensino público, em particular das universidades o ministro declarou, nomeando três delas: “Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”. Repete-se que não é válido apenas salientar os deslizes que no caso do ocupante da pasta da Educação seria sério demais (os repetidos erros gramaticais, inclusive a troca de Kafka por kafta), mas o que pesa mesmo é pensar que tais personagens estão ditando regras que afetarão gerações. E por falar em controle, sem uma crítica coletiva, sem pensar nesses dizeres além das bobagens risíveis, onde está o nosso bom senso cidadão? Onde? Até quando vamos deixar esta gente nos controlar?
terça-feira, 7 de janeiro de 2020
segunda-feira, 6 de janeiro de 2020
CAIXA DE MÚSICA 396
Profissão de Urubu soa meio estranho como nome dum grupo
tão melódico e delicado como o formado por Bruno Jefter (voz, violão e
guitarra), Paulo Mello (voz e guitarra), Adolfo Neto (baixo e teclados), Pedro
Araújo (guitarra) e Guilherme Maranhão (bateria).
Os brasilienses se inspiraram em Tom Jobim, que admirava
a pobre ave com fama de agourenta a ponto de nomear um de seus álbuns em sua
homenagem. Diz que em entrevista nos 70’s, o Maestro afirmou que “profissão de urubu
é ser alegre e tristonho”.
O álbum homônimo de estreia saiu em 2015 e exceto por
umas 3 ou 4 faixas, o resto é adjetivável com um sonoro cuti-cuti/nóxa-nóxa.
Tudo muito fofo e inspirado por indie
ou twee pop. Cheio de assobios,
corinhos infantis, lálálás e láláláiás, faixas como Até, Setembro, Pinheiros,
De Verdade, Par, Para Sempre e Embora serão irresistíveis para fãs de Marcelo
Jeneci, Belle and Sebastian, pop influenciado por country, easy listening,
cheio de teclados soando como cornetinhas. Dá vontade de cantar junto, pulando
amarelinha. “Bom dia, bom dia, bom, dia láláiáláiá!”
Os números mais introspectivos também são deliciosos,
graças às vozes doces de Bruno e Paulo. Vide o samba-canção bossa-novado que
abre meio psych, de Cigarro na Orelha e a canção de ninar, meio pós-rock Fala,
que tem até barulhinho de chuva.
E não dá de jeito nenhum pra dizer que é inacessível, pra
poucos, não toca na mídia etc. Tá aqui, de graça, ó!
quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
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