NOSSO MEDO DE CADA DIA: fobias e silêncios.
José Carlos Sebe Bom Meihy
Fiquei muito curioso. Vi uma cena de divulgação de nova novela televisiva na qual uma personagem urbana, a contragosto reclusa numa fazenda, apavorada, corre de medo de uma galinha (alectrofobia). Que, coisa estranha, pensei. Será que isto existe mesmo? Foi quando então declinei alguns pânicos mais identificáveis na população em geral, como asco de: barata (catsaridafobia), cobra (ofidiofobia), aranha (aracnofobia), baleia (cetafobia). Alguns temores são ambíguos e polarizados na chave da cultura como o avesso da paixão por cachorros (cinodobia), e, imaginem, fiquei espantado ao saber que Hitler e Napoleão tinham aversão a gatos (ailurofobia). Exagerados, ampliando o leque, existem os que são “zoofóbicos”, pessoas que temem todos os animais.
Há casos mais graves como aqueles que se apavoram frente aos gordos (cacomorfobia), ou entram em desespero ao perceber roupas com botões ou abotoadas (koumpounophobia). Confesso que não sabia de medo de coisas pequenas (microfobia), e não desconfiava que objetos ou espaços grandes aturdiam (macrofobia). Estava envolvido no entendimento de tais pânicos, quando me permiti pensar numa ladainha pessoal. Parti do suposto que há profundidades insondáveis nessas manifestações. Talvez – de maneira clemente comigo mesmo – tivesse sido muito defensivo ao me vangloriar de não ter medo de altura (aerofobia) como tem 5% da população. Estranhei ter notícias que temor a trovão é mais comum do que supunha, pois acho a tal “tinotrofobia” espetacular. Pareceu-me esquisito a “monofobia”, ou medo de ficar, comer, se alimentar ou beber sozinho. Senti-me aberração ao notar que existe a “antropofobia” que também é conhecida como “demofobia”, ou seja, medo de multidões, ah! gosto muito de estar em estádios de futebol, na assistência de escolas de samba, de ver o público denso saindo de metrôs.
Nunca padeci da tal “cacorrafiofobia”, ou medo do sucesso, até pelo contrário sem exagero, gosto de ser reconhecido pelo meu trabalho. E tenho outros contrastes, pois sempre gostei de pássaros oposto a tantos que são “ornitofóbicos”, seres que nem podem pensar em asas, penas, bichos que voam. Talvez por ser do signo de peixes, também não me conformo com quantos temem água (aquafobia), e nem mesmo com “gefirobóbicos”, pessoas que têm temor a pontes. Quase tive um ataque quando soube que existem “triscaidecafobia”, ou seja, tipos que têm horror ao número 13, sinceramente, quase gargalhei ao lembrar que nos Estados Unidos os elevadores não tem o tal número azarado. É possível que muitas pessoas também custem a acreditar que existam pessoas que padecem de “hipopotomonstrosesquipedaliofobia”, ou seja, medo de palavras longas demais. Fiquei exultante ao saber que não sou “nictofóbico”, não tenho aversão a escuro e nem sou “agrorafóbico”, ou seja, quem tem aversão a espaços abertos. Aliás, o reverso disto é “claustofobia”, ou temor a espaços pequenos e apertados como elevadores e locais fechados. Acho, diga-se que “misofobia”, pavor de bactérias e germes – as tais pessoas que exageram muito na higiene pessoal. “Tripofobia”, ou seja, medo de buracos me afigura excêntrico, mas bastante comum e nem podem ouvir a palavra precipício. Na mesma linha devo salientar que tenho conhecidos que são “cancinofóbicos” e que acham que mais cedo ou mais tarde serão vítimas da doença. Reconheço com facilidade a cultura anti “tanafóbica”, avessa à vasta legião dos seres que têm medo da morte. Há graus menores destes receios, como os “tripanófobos” que temem agulhas e também os “hemófibos” que não podem ver sangue. Tudo sugere que ter medo de ser abandonado (autofobia) é mais frequente do que se pensa. Quase não acreditei quando me veio a notícia de “kinemortofobocos”, ou seja, medo de virar Zumbi. De todas as fobias, creio, a mais comentada hoje é “homofobia” e, combinemos, nada mais oportuno para exame de nossa cultura patriarcal e velha.
Mas, nem pensem que a lista parou por aí. Os dicionários guardam mais de 300 palavras relacionadas a pânicos, ascos, nojos, medos crônicos. Imaginem que existe até um que explica todos, ou seja a “phobophobia”, o rei dos receios, aquele que guarda o conteúdo maior dos pânicos ou o medo de ter medos.
Mas é preciso ir além da curiosidade ou do pitoresco. Cabe pensar nas razões dos temores. É dito pelas linhas psicanalíticas que em muitos casos ter fobias é uma forma defensiva de se arriscar ou se expor aos perigos. Sem dúvidas há verdades nisto, mas o que se estranha é a pouca referência que damos a esses detalhes de nossa vida. Meditando sobre essas coisas, me surpreendi ao questionar pessoas bem próximas e ver que, além dos receios comuns – baratas, cobras, aranhas e escorpiões - não sou único a desconhecer detalhes que são importantes para seres tão próximos. Já que abri esta crônica falando de curiosidades, gastei um tempo considerável supondo as fobias de pessoas que amo. Fui além, me diverti imaginando o que parentes e amigos pensariam das minhas.
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