sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

A PERCEPÇÃO ALBINA DE ANDREZA AGUIDA

Albina, artista faz de sua autoimagem uma forma de ativismo

A artista e modelo Andreza Aguida apresenta, nesta quinta, 6, no Sesc Rio Preto, a performance '....percebendo...'



A performance é a plataforma da artista e modelo Andreza Aguida, de São Paulo, para incitar reflexões sobre a diversidade dos corpos humanos, buscando, sobretudo, romper com estereótipos e preconceitos que marginalizam pessoas que não se encaixam nos padrões físicos impostos por diferentes instâncias da sociedade. Mulher, albina e pessoa com baixa visão, ela transcende aquilo que muitos julgam ser uma limitação, fazendo de sua autoimagem uma forma potente de ativismo.

"Acho que estamos evoluindo [para uma sociedade que não julga os corpos]. No entanto, mesmo na moda, em que tive uma trajetória que me levou para a São Paulo Fashion Week, para a Casa de Criadores e para um desfile de Ronaldo Fraga [estilista mineiros que evidencia a diversidade dos corpos nas apresentações de suas coleções], a beleza ainda é algo almejado; não se aceita imperfeições. São questões que nos levam a crer que a palavra 'inclusão' não é totalmente compreendida", comenta Andreza, que apresenta, nesta quinta-feira, 6, no Sesc Rio Preto, a performance "...percebendo...", dentro da programação do projeto Corpos Dissidentes, que busca justamente criar um espaço de discussão sobre as várias formas de configuração dos corpos.

Obra que marcou o seu ingresso no universo performático, em 2013, após abandonar a carreira na área de Engenharia Elétrica - em que sentiu na pele mais o preconceito por ser mulher do que por ser albina -, "...percebendo..." é uma performance inspirada no fluxo das pessoas com deficiência visual por estruturas arquitetônicas de diferentes espaços, sejam eles abertos ou fechados. A artista busca por meio dessa criação questionar o que realmente dá acesso e o que limita quando o sentido da visão é privilegiado.

"...percebendo..." é fruto das inquietações de uma mulher com baixa visão que frequenta diversos espaços públicos, evidenciando a importância da construção de espaços acessíveis para a uma integração verdadeiramente inclusiva em sociedade, independentemente das diferenças existentes entre seus cidadãos.

Andreza é uma pessoa com "albinismo óculo-cutâneo tirosinase negativo" (tipo I), identificado pela sigla OCA1, uma condição genética que faz com que o organismo seja incapaz de produzir uma proteína chamada de melanina. Ela pode se manifestar na pele, cabelos e/ou retina. Sem a melanina, a pele fica branca (alva) - daí surge o nome dado a essa condição. Sendo assim, a falta de pigmentação na retina faz com que o olho fique extremamente sensível à claridade (fotofobia), ocasionando a baixa visão, também conhecida como visão subnormal (VSN). O indivíduo fica capaz de identificar as imagens globais, porém os detalhes à distância passam despercebidos pelos olhos e a percepção de profundidade também é perdida.

Desde quando deixou a profissão de engenheira elétrica, ingressando no curso de Educação Física da Universidade de São Paulo (USP), Andreza mantém diálogo com diferentes linguagens artísticas - entre elas o audiovisual, a música, o canto (ao qual ela se dedica há cerca de 15 anos) e a dança. Também se tornou uma figura que dá voz para a comunidade albina brasileira - ela foi a criadora do grupo "Albinos do Brasil" no extinto Orkut, mídia social em que encontrou, em 2004, inúmeros grupos que destilavam seu desprezo a pessoas com esse tipo de condição genética.

Para ela, a inclusão é um ideal ainda a ser atingido, pois nem todas as pessoas têm a sensação de pertencer aos espaços. E é justamente esse ideal que ela busca com suas criações artísticas.

Outras atividades

A programação do projeto Corpos Dissidentes ainda prevê para esta quinta, 6, a realização do bate-papo "Belezas em Divergência", que, além de Andreza, terá a participação da fotógrafa e viodemaker Marcela Guimarães e da modelo e blogueira Rebeca Costa, uma das representantes do movimento brasileiro de pessoas com nanismo. 

Nesta roda de conversa, as convidadas vão refletir sobre a beleza e o padrão normalizado a partir de questões de acessibilidade e diversidade na arquitetura, moda e estética, além de circulação e veiculação de imagens de corpos dissidentes na publicidade.

A programação ainda é marcada pela intervenção "Uma Foto Para Todo Corpo", com Bruna Ferreira, fotógrafa de retratos femininos que exploram um olhar mais generoso e carinhoso sob o corpo da mulher. A partir da vivência da fotografia, ela propõe um trabalho com questões do corpo, celebra histórias e inicia um processo de autoconhecimento.

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