quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

TELONA QUENTE 321

Roberto Rillo Bíscaro

Quando O Planeta Proibido completou 50 anos, em 2006, a edição comemorativa em DVD foi tão laudatória que trouxe de brinde o documentário Watch the Skies!: Science Fiction, the 1950’s and Us, onde Steven Spielberg, George Lucas, Ridley Scott e James Cameron contam como a produção sci fi cinquentista informa seus trabalhos. Sem exagero, Forbidden Planet talvez seja o ápice da ficção-científica filmada na década e merece ser visto mesmo hoje.
Produzido com orçamento de quase 2 milhões de dólares, pela MGM, Forbidden Planet (FB) acumula série de “primeiros” e como se isso não fosse suficiente pra garantir-lhe os selos de “filme merecedor de preservação” e “dez mais entre os filmes de filme de ficção-científica de todos os tempos”, pelo American Film Institute, a película é inteligente e literalmente shakespeariana.
Trata-se do primeiro filme a sair de nosso manjado sistema-solar, mais especificamente dos já então batidos Marte, Lua e Vênus. Em FB, a missão viaja além da velocidade da luz num disco-voador ao planeta Altair IV, pra descobrir o que houve com expedição terráquea enviada há duas décadas. Isso no século XXIII e ao som de música eletrônica.
Uma das contradições mais engraçadas dos filmes de exploração espacial cinquentistas é a pretendida modernidade das tramas, vestuários e cenários em contraposição com a caretice da trilha-sonora, exatamente igual à executada nas rádios da época. FB contratou casal nova-iorquino que experimentava com sons eletrônicos e o resultado é vanguarda total, instigante até hoje. Anos antes da invenção do Moog, Louis & Bebe Barron inventaram trilha que influenciaria toda uma geração de músicos eletrônicos e progressivos.

Em Altair IV, os astronautas descobrem que restara apenas o Dr. Edward Morbius e sua bela e ingênua filha, Altaira. Um ser invisível matara toda a expedição. Para explicar isso, o roteiro inteligentemente amarra o Shakespeare d’A Tempestade à popificação das teorias freudianas, de id e subconsciente.
É tanta geração de influência, que hoje muitos perdem a referência pop que o robô do Perdidos no Espaço original é reciclado de Robby, the Robot, por si só um “primeiro”. Nunca um autômato fora tão autônomo.
Forbidden Planet tem efeitos especiais envolvendo animação, de primeira pra época e foi lançado em CinemaScope. Hoje isso não significa nada a não ser uma palavra, mas nos anos 50 a introdução dessa tecnologia alargou – e muito – as telas das casas de exibição.
Concessões tiveram que ser feitas, como personagem-alívio cômico (ela se ferra, hihihi: me irritam essas personagens) e aquelas capas que nada têm a ver pra chamar atenção. O negro robô carrega a mocinha alva. Isso era recorrente nos 50s e 60’s pra conferir mais noção de perigo ao filme. Não só não acontece isso, como essa constante repetição de criaturas escuras ameaçando mocinhas branquíssimas, é fetiche racista.
Mesmo que meio lento pra hoje e com um segundo ato comprometido pela boboquice de Altaira – mas eram os 50’s, mulheres eram tratadas assim mesmo – Forbidden Planet não pode ser olvidado por qualquer um que se diga sério fã de ficção-científica ou música eletrônica/progressiva. 

Um comentário:

  1. Assisti na sessão de gala da Globo e realmente o filme possui elementos deliciosos.

    Jean

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