Roberto Rillo Bíscaro
Quando O Planeta Proibido completou 50 anos, em 2006, a
edição comemorativa em DVD foi tão laudatória que trouxe de brinde o
documentário Watch the Skies!: Science Fiction, the 1950’s and Us, onde Steven
Spielberg, George Lucas, Ridley Scott e James Cameron contam como a produção sci fi cinquentista informa seus
trabalhos. Sem exagero, Forbidden Planet talvez seja o ápice da
ficção-científica filmada na década e merece ser visto mesmo hoje.
Produzido com orçamento de quase 2 milhões de dólares,
pela MGM, Forbidden Planet (FB) acumula série de “primeiros” e como se isso não
fosse suficiente pra garantir-lhe os selos de “filme merecedor de preservação”
e “dez mais entre os filmes de filme de ficção-científica de todos os tempos”,
pelo American Film Institute, a película é inteligente e literalmente
shakespeariana.
Trata-se do primeiro filme a sair de nosso manjado
sistema-solar, mais especificamente dos já então batidos Marte, Lua e Vênus. Em
FB, a missão viaja além da velocidade da luz num disco-voador ao planeta Altair
IV, pra descobrir o que houve com expedição terráquea enviada há duas décadas.
Isso no século XXIII e ao som de música eletrônica.
Uma das contradições mais
engraçadas dos filmes de exploração espacial cinquentistas é a pretendida
modernidade das tramas, vestuários e cenários em contraposição com a caretice
da trilha-sonora, exatamente igual à executada nas rádios da época. FB
contratou casal nova-iorquino que experimentava com sons eletrônicos e o
resultado é vanguarda total, instigante até hoje. Anos antes da invenção do
Moog, Louis & Bebe Barron inventaram trilha que influenciaria toda uma
geração de músicos eletrônicos e progressivos.
Em Altair IV, os astronautas descobrem que restara apenas
o Dr. Edward Morbius e sua bela e ingênua filha, Altaira. Um ser invisível
matara toda a expedição. Para explicar isso, o roteiro inteligentemente amarra
o Shakespeare d’A Tempestade à popificação das teorias freudianas, de id e
subconsciente.
É tanta geração de influência, que hoje muitos perdem a
referência pop que o robô do Perdidos no Espaço original é reciclado de Robby,
the Robot, por si só um “primeiro”. Nunca um autômato fora tão autônomo.
Forbidden Planet tem efeitos especiais envolvendo
animação, de primeira pra época e foi lançado em CinemaScope. Hoje isso não
significa nada a não ser uma palavra, mas nos anos 50 a introdução dessa tecnologia
alargou – e muito – as telas das casas de exibição.
Concessões tiveram que ser feitas, como personagem-alívio
cômico (ela se ferra, hihihi: me irritam essas personagens) e aquelas capas que
nada têm a ver pra chamar atenção. O negro robô carrega a mocinha alva. Isso
era recorrente nos 50s e 60’s pra conferir mais noção de perigo ao filme. Não
só não acontece isso, como essa constante repetição de criaturas escuras
ameaçando mocinhas branquíssimas, é fetiche racista.
Mesmo que meio lento pra
hoje e com um segundo ato comprometido pela boboquice de Altaira – mas eram os
50’s, mulheres eram tratadas assim mesmo – Forbidden Planet não pode ser
olvidado por qualquer um que se diga sério fã de ficção-científica ou música
eletrônica/progressiva.
Assisti na sessão de gala da Globo e realmente o filme possui elementos deliciosos.
ResponderExcluirJean