Roberto Rillo Bíscaro
Quando cogitamos o infinito, tendemos a imaginar a
vastidão do espaço sideral. Tomando-nos como referencial, pensamos de nós “pra
fora”. Mas, o infinitesimal também não seria infindável? E se adotássemos uma
perspectiva de nós “pra dentro”?
Esse é o mote do romance O Incrível Homem que Encolheu,
de Richard Matheson, publicado em 1956 e que, já no ano seguinte, foi adaptado
pras telonas, dirigido pelo ótimo Jack Arnold, o mesmo de It Came From Outer Space, Tarantula e O Monstro da Lagoa Negra.
Devido à exposição a uma sinistra combinação de
radioatividade e pesticidas, um cidadão comum, Scott, começa a diminuir
incontrolavelmente até se tornar tão diminuto que uma aranha doméstica passa a
ser descomunal inimigo. A tarântula de Arnold agora não mais precisaria crescer
pra se agigantar; foi o ser-humano que se apequenou.
O branco e preto O incrível Homem Que Encolheu
provavelmente funcione até hoje com quem esteja disposto a dar um tempo no
colorido cegante e efeitos especiais ultrônicos de agora. Quando Scott encontra-se
sozinho no porão de casa - agora transformado num mundo tão desconhecido e
perigoso, quanto um planeta alienígena ou a ilha de Robinson Crusoe – o filme
ainda prende a atenção e causa suspense.
O grande terror de The Incredible Shrinking Man é a
desfamiliarização. Enquanto Scott possuía tamanho “normal” pra ser-humano,
controlava – pelo menos supunha que – seu ambiente, sua vida, seu gato de
estimação. Uma coisa alterada em seu metabolismo e a sensação de poder se
esvai. Seu bichano passa a vê-lo como petisco.
O poder metafórico do livro/filme é matéria da melhor
ficção-científica, afinal, quem não se desespera com a perda do controle, da
autonomia? Encolher é fantasioso, mas ficar em cadeira de rodas ou ter
alzaimer, não. Imagine tudo isso acontecendo com um macho adulto branco!
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