sexta-feira, 30 de outubro de 2020

PAPIRO VIRTUAL 167

 

Roberto Rillo Bíscaro

Korede está acostumada a limpar os traços deixados por sua irmã-serial-killer, Ayoola. Mas, o que pode acontecer quando ambas se interessam pelo mesmo homem? Sarcástica estreia da autora nigeriana.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

TELONA QUENTE 335

 

Roberto Rillo Bíscaro

Em, The 27th Day (1957) cinco cidadãos “comuns” de distintas nacionalidades são abduzidos por nave espacial duma civilização agônica, mas que não quer recorrer à violência invasiva pra evacuar seu planeta e se salvar. Eticamente impedidos de colonizar nosso planeta, os ETs transferem a batata-quente pra nossas mãos. Cada terráqueo é presenteado com arma letal, que pode obliterar a espécie humana, sem danificar a infraestrutura ou outras formas de vida. Os pacíficos alienígenas não são violentos, mas contam com o potencial autodestrutivo humano pra fazer o serviço sujo por eles. Algo como dar facas pra crianças brincarem na creche, mas não assumir a culpa pelo massacre resultante.

Um alemão, um norte-americano, uma inglesa, uma chinesa e um soviético são os portadores da provável extinção da espécie humana. Sendo produto tipicamente Guerra-Fria, da família de Red Planet Mars, assim que Moscou constata que pode dominar o mundo, não poupa chantagens, torturas e ultimatos não apenas para remover os EUA da Europa e Ásia, mas também os estadunidenses do mundo.

A mensagem de “paz” final de The 27h Day é assustadora, porque não prevê alternativa de convivência harmônica entre os povos, a não ser que aqueles que pensem distinto sejam literalmente exterminados. Mas, tudo vem (mal-)disfarçado em mambo-jambo cristão.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

CONTANDO A VIDA 318

AVISO AO PAPAI NOEL EM TEMPOS DE COVID 19 

José Carlos Sebe Bom Meihy 

Meu caro Papai Noel 

Pois é, nem sei se este ano, em plena cultura de cancelamento, você virá segundo reza a tradição dezembrina. Mas precisamos tanto de Natais; como nunca “bom velhinho”. Nossa! Mesmo com todo aparato fake que nos envolve, com neve de brincadeirinha, roupa de veludo, capuz com pompom branco, botas, com todo aquele visual impróprio, queremos cantar jingle bell. Até a Simone repetindo então é Natal a gente engole com alegria. Juramos respeitar a carestia, e nem importa se o saco de presentes vier magro. Se decidir pela visita, faça boa viagem, mas não se iluda com a propaganda enganosa: a Terra continua redonda, apesar da insistência de débeis terraplanistas. E, por favor, cuidado com a fumaça das queimadas de nossas florestas e do Pantanal. São tantos focos meu querido Papai Noel, só até setembro deste 2020 foram quase 50 mil. Mesmo assim gostaria que viesse porque precisamos de alguma alienação, a realidade está dura demais. Venha de máscara, porém, para se proteger, pois é preciso cuidar de si, até porque o pessoal de Brasília é negacionista, não acredita na covid, que já levou mais de 153 mil brasileiros para a cova real. 

Insisto que venha, precisamos compensar a falta de entusiasmo das pessoas. E nem estranhe a modéstia das cerimônias: o real tão desvalorizado, o dólar tão alto. Isso, aliás, é convite para a compreensão de improvisos criativos. E por falar em dinheiro, caso queira dar algum para alguém, faça segundo a prática da família presidencial, em cash, e só último caso deposite, mas melhor em parcelas como ensinou o Queiroz que já doou 89 mim para a primeira dama. Papai Noel, tudo está tão caro, olha só o preço do arroz, do feijão, que dirá do peru! Pelo visto nem mesmo chester com farofa disfarçará a carestia. Como não se deve deixar de brindar, quem sabe valorizaremos a caipirinha, a batida de maracujá, coco. Prosecco, espumante, champanhe, vinhos, nem pensar, né!? Talvez dê para uma sidra, dessas bem baratinhas, daquelas que “cabem no orçamento”... 

E por falar em festa, penso nos docinhos finos, aqueles de nozes, tâmaras, avelãs, esses, por certo, cederão espaço para as cocadas, suspiros, doce de leite, paçoca. Acho, teremos panetone, pois se não sobrar dinheirinho para isto, os amigos cobrirão a lacuna - até imagino o amigo secreto trazendo um em embrulhado com enfeite. Com certeza, suponho que em termos de recrudescimento de nativismo nacionalista, em vez de roupas de marca, qualquer coisinha seja compensação possível. Nem ouso pedir um par de cuecas resistentes às batidas da Polícia Federal, mas, em havendo exceção para as crianças, não se esqueça de discernir entre o rosa e o azul; rosa para elas e azul para eles, pois há recomendação de autoridade vigilante. Devo, aliás, sugerir que não traga “arminhas” para as crianças, pois do jeito que andam as coisas em vez de brincar de carrinhos, bonecas, piões ou joguinhos lúdicos, os rebentos podem pensar em obedecer o mandatário mor. 

Papai Noel, nem acredita: a escola da violência tem propalado lições que começam nos Palácios da capital federal e o que chamávamos de velha política rejuvenesceu e está ainda muito mais presente. Aliás, o exemplo familiar também vem de cima: uma fraternidade abençoada por um papai nada ficcional. Se houver alguma sobrinha, meu bom velhinho, deixe um livro de Paulo Freire, pois anda tão mal tratado por ignorantes que, imagine, querem cancelá-lo do imaginário pedagógico. 

Venha prevenido para surpresas, por favor, e não estranhe a ausência da árvore de Natal. Com as queimadas ficamos temerosos que supusessem alguma que representasse afronta à vigilância. Também vamos prender os cachorros e esconder os gatos, pois na eventualidade de sua chegada, a memória dos animais queimados pode causar suspeita. Aviso: não venha de trenó puxado por renas, não venha, pois o ministro do meio ambiente pode não gostar, e, imagine o que faria... Ao sobrevoar os campos queimados, finja não ver os bois agora alçados à condição de bombeiros. Sim, a ministra da agricultura tem ensinado que eles comem as gramas excessivas, protegendo assim contra incêndios. Sábia, não? 

Papai Noel, você, como eu e tantos outros queridos coetâneos, estamos no grupo de risco. Oscile com cuidado entre sua valentia e medo, mas se romper os circuitos da pós-modernidade e insistir em vir, traga uma senha. Será necessário ter certeza de que é quem é, pois em tempo de eleição antecipada – sim, já estamos em campanha para 2022 – é possível que o confundam com candidatos de esquerda, imagine chegando de vermelho... Além do mais, não estranhe se o chamarem de comunista, pois qualquer ser diferente do modelito é punido. Não sei se a vacina – qualquer uma delas, chinesa, britânica, brasileira – estará disponível, caso não, sugiro não trazer cloroquina ou hidroxicloroquina, porque o risco de ser assaltado é enorme. Mas venha, meu bom velhinho. Venha, para compensar as desgraças que vivemos. Venha sim, precisamos acreditar em você. 

terça-feira, 27 de outubro de 2020

TELINHA QUENTE 422


Na segunda temporada da série The Alienist/O Alienista, o foco passa para Sara Howard, agora detetive particular investigando a abdução e morte de crianças.



segunda-feira, 26 de outubro de 2020

CAIXA DE MÚSICA 429


Roberto Rillo Bíscaro

O grupo escocês Fiction Factory só é lembrado pelo sucesso da faixa (Feels Like) Heaven, mas, seu álbum de estreia, de 1984, tem muito mais coisas, até melhores.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

TELONA QUENTE 334

 

Enola Holmes só tem 16 anos, mas vai fazer de tudo para encontrar a mãe desaparecida, inclusive despistar o irmão Sherlock e ajudar um jovem lorde fugitivo.



quarta-feira, 21 de outubro de 2020

CONTANDO A VIDA 317

 PAULO COELHO NA FOGUEIRA. 


José Carlos Sebe Bom Meihy 

É estranho. Estanho demais, bem sei, mas gosto de personagens públicos problemáticos, de gente complicada, pessoas capazes de agitar a pasmaceira da regularidade. Meu olhar menino se alinha quando miro seres que se pontuam fora da curva. Por certo, esforço-me para separar o joio do trigo, e assim desprezo produtos fabricados para render likes, como “mulheres frutas”, celebridades instantâneas, políticos populistas, afff... Procuro originalidades autênticas e nelas entender os trejeitos de pessoas que se abalizam de maneira singular e continuada, até mesmo sem perceber. Admiro caras que incomodam pela distinção exótica, desafiadores da opinião pública, ou por presença quase escandalosa. Eu disse quase!... E coleciono, com certa ansiedade, manifestações idiossincráticas, exageradas, disparates que repontam ao longo da vida social. Seja para o bem ou para o mal, sinto brilhar a frase de Sartre garantindo que “da vida só valem os excessos”. Excessos bons, desses exuberantes, e até permito excesso meu, incluindo esta intrigante observação algo voyeur. 

Em diferentes quadrantes, essas pessoas marcantes animam a vida, causam estranhezas e, sob olhar antropológico poderíamos dizer que em seus descomedimentos nos ajudam pensar os limites da normalidade convencional e os padrões médios. Na sociedade do espetáculo (Debord) aqueles que conseguem superar os 15 minutos de fama (Andy Warhol) provocam algo próximo de uma “indignação desafiadora”, e por isto motivam sensações incômodas. E seres bizarros não faltam no céu cultural brasileiro. Isso em todos os setores como no esporte (Neymar que o diga), na televisão (no momento Fabio Assunção empata com José Abreu), na literatura (o lugar de honra é de Nelson Rodrigues, mas tem o imortal Rubem Fonseca coladinho). Pois é, como não se trata propriamente de um concurso, resolvi dilatar a lista de possibilidades com um dos meus problemáticos favoritos: Paulo Coelho. E para começo de conversa destaco a frase que o tem distinguido nos jargões vulgares: “não li, não gostei”. Não é engraçado?! Engraçado ou lamentável, pois estamos falando de um dos autores mais vendidos em todo mundo, traduzido para 81 línguas, e presente em mais 150 países. Fenômeno, não só entre nós – ou melhor, apesar de antipatias nacionais gratuitas. Eu gosto muito, leio o que consigo sobre ele e mesmo o que dizem as más línguas. E, pasmem, aprecio o que escreve. Perdão, mas gosto mesmo... “Onze minutos” é um dos meus livros favoritos. 

Gosto tanto que o saúdo como cidadão do mundo, escritor que versa sobre feitiçaria com a mesma facilidade de abordagens sobre islamismo, xamanismo, ou outra religião, seita, credo. Há algo de metafísico, de teor transcendental pretenso, alguma coisa próxima de um “divino popularesco”, sinal que o caracteriza no ambiente pós-moderno. E como personagem, Paulo Coelho carrega uma história incrível e tortuosa: ex-usuário de drogas, subversivo torturado em 1974, esotérico, Paulo Coelho é um pouco de tudo o que foi numa versão midiática. Mas como esse ser esquisito se converteu no escritor pop, pergunta-se. Respostas demandam entender método coelhiano de produção artística que, aliás, foi fascinante desde o princípio. Ele mesmo conta “aprendi a escrever com Raul Xeixas. Foi fazendo música para ele que eu descobri como ser conciso e direto, sem ser superficial”, e, dono de peculiar arrogância conclui “senão estaria até hoje escrevendo coisas dificílimas que ninguém entende”. Mas houve aperfeiçoamento entre o pretenso empresário de talentos que tentava lugar no capitalismo e o escritor – Coelho tentou ser produtor musical. Um dia, procurou o “maluco beleza” para uma entrevista e do encontro saiu parceiro de série musical. É verdade que o futuro os poria em campos opostos, mas não há como negar o começo. Diria que a universalização, foi o legado de Rauzito para Paulo Coelho que se globalizou, formulando uma literatura sem marcas de brasilidade. Sim, mais do que ninguém no planeta, ele soube assumir a dialética da modernidade universal. Talvez isto explique seu destaque que, óbvio, não poderia deixar de ser também polêmico. 

Em termos cronológicos, o sucesso literário levou Coelho ser um gauche, mas um gauche estranho pois em 2002 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Entre as razões para tanto nariz torcido é o resultado surpreendente da publicação dos primeiros livros: Arquivos do inferno (1982), O manual prático do vampirismo (1985) até chegar n’O diário de um mago (1987). Da longa série de sucessos, sem dúvida, a reputação de Coelho se divide em antes e depois d’O Alquimista, publicado em 1990. Pois bem, é este personagem fascinante, este cara incrível, que teve seus livros queimados por seguidores do capitão Bolsonaro. E por quê? Porque, junto com personalidades como Leonardo Di Caprio, Sting, Madonna, Cher, entre muitos outros, inclusive uma plêiade de brasileiros, Coelho chama a atenção do mundo contra a política deste governo negacionista, em particular em relação ao meio ambiente. 

Numa postagem nas redes sociais, um casal idoso, marido e mulher, em nome da defesa de Bolsonaro, dia 29 de setembro último, queimou as páginas arrancadas de um livro de Paulo Coelho. Dizendo tratar-se do décimo, o espetáculo macabro recriou no Brasil o ritual nazista de 10 de maio de 1933. Sim na Alemanha de Hitler, fanáticos fizeram uma fogueira pública de escritos contra o regime, lá como cá, isso atesta o significado da intolerância e da incapacidade de convívio com a crítica, seja ela qual for. Em escala mínima, a memória desse feito abominável teve dimensões alarmantes e esclarecedora e por isto merece atenção. De um lado, esta queima revela uma política de ataque à cultura, de agressão à opinião pública livre e independente, mas de outro – e isto é terrível – permite iluminar a resistência aos desmandos que nos colocam como devastadores de florestas. E Paulo Coelho então se apresenta como baluarte de uma luta que, afinal, o traz de volta ao Brasil e aos temas brasileiros no universo. À propósito, e para terminar, vale considerar a conformidade rebelde do próprio Coelho que respondeu: pois é: primeiro compraram e depois puseram fogo. 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

TELINHA QUENTE 421




Contextualizando a emocionante trajetória pessoal e artística de Elis Regina, a minissérie traz cenas originais do filme "Elis", material documental e novas cenas de ficção.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

CAIXA DE MÚSICA 428

 

Roberto Rillo Bíscaro

A dupla Young Gun Silverfox faz pop, que parece saído de 1980.



quinta-feira, 15 de outubro de 2020

TELONA QUENTE 333

 



Roberto Rillo Bíscaro

Em 1990, um solteirão solitário, chamado David, procura uma forma de escapar da labuta diária de cuidar de sua mãe idosa. Enquanto procurava uma parceira por meio de um serviço de namoro por vídeo, ele descobre uma fita VHS estranha chamada Rent-A-Pal. Apresentada pelo carismático Andy, a fita oferece a ele a tão necessária companhia. Mas a amizade de Andy tem um custo, e David luta desesperadamente para pagar o preço da admissão.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

CONTANDO A VIDA 316

 A LÓGICA DAS FRASES SOLTAS.

José Carlos Sebe Bom Meihy


Sou leitor de jornais! Sim, entre os rituais de iniciação do dia – café, redes sociais, e-mails – o mais prezado se reduz a abrir a porta e colocar o jornal pra dentro de casa. Inevitavelmente me vem à cabeça – dia sim e outro também – o texto “O homem nu”, do cronista mineiro Fernando Sabino. O temor de ficar fora, com ou sem a pouca roupa, me apavora. Mas isso passa logo. A cerimônia das viradas de páginas exige devoção e os preparativos prévios são apenas os essenciais relativos à higiene: bexiga vazia, dentes escovados, banho, tudo nesta ordem. Café preparado, a mesma velha xicara acompanha em goles medidos o tempo da leitura silenciosa e sempre sem pressa. Tudo pode esperar. Tudo.... E, na cadeira preferida – ah minha cadeira de leitura, mal sabe do prazer que seu colo me provoca. Orgasmos múltiplos.

Tal é o requinte que devoto à essa prática que as notícias, por piores que sejam – e têm sido – correm como rio sobre um leito paciente e que desemboca no mar agitado dos afazeres seguintes. Com tanto aperfeiçoamento, desenvolvi um jeito próprio de ler jornal. A linha editorial apenas funciona como pano de fundo, uma espécie de cenário, e dela destaco a seleção dada por partes. Primeiro as notícias gerais, depois as internacionais, econômicas, culturais, esportivas. Isso provoca a seleção de cadernos, condição depurada de anos. Sabe, leio anúncios fúnebres, ofertas de supermercados, previsão do tempo, a opinião dos leitores e a flutuação do dólar. Só dispenso – não sem remorso – as fatigantes propagandas de automóveis... Credo!

Pois bem, aos domingos alargo ainda mais o tempo em coerência com o tamanho ampliado do jornal. Parece que os braços do relógio também se movimentam mais preguiçosos e o silêncio de minha insistente viuvez fica ainda mais soturno. Devo confirmar que sou daqueles leitores que tem sempre uma tesoura às mãos. Recorto artigos, notícias e até propagandas. Nunca as aproveito, e depois até me irrito com o amontoado dessa prática insana. Foi assim que juntei sobre minha mesa de trabalho alguns destaques que me chamaram a atenção e que revisei antes de exterminá-los. O primeiro foi um anúncio (será que a ainda usam esta palavra? Sei lá, sou do tempo do “reclame” ou “proclamas”, credo!), eis o “convite”:

“É COM GRANDE PESAR QUE (NOMES) CONVIDAM PARA A MISSA NA PARÓQUIA (NOME) ÀS 12H DE SEXTA-FEIRA (DATA). CONFIRME SUA PRESENÇA NO CEL (NÚMERO) OU ASSISTA A TRANSMISSÃO ON LIVE PELO CANAL DO YOUTUBE DA PARÓQUIA (ENDEREÇO ELETRÔNICO)”.

Precisei reler! Repeti a operação. Respirei fundo. Senti-me arcaico. Notei que as pessoas continuam morrendo e que ainda são celebradas missas, mas o script mudou demais. Missa ao meio dia? Nossa, pensei. Mas, de verdade meu queixo caiu (lembram-se desta expressão “queixo caído”) quando aprendi que o RSVP poderia ser dado por celular e que a cerimônia seria transmitida por canal do YouTube. Por certo seria por conta da pandemia, supus. Uma curiosidade impertinente, porém, me assolou. Resolvi acessar o endereço eletrônico da Paróquia e por telefone ousei pedir explicações. Tive que me segurar ao saber que essa prática “está em vigor” (sim eles usaram esta expressão “em vigor”) há mais de dois anos. Mediante meu silêncio, como que evocando uma ressureição, ouvi da voz do outro lado da linha a cruel sentença “meu senhor, Deus é onipresente, onipotente e onisciente”. “Bati o fone no gancho” (ou melhor, “desliguei”). Desliguei e conclui que daqui a alguns anos não mais terei o prazer de ler jornal. Pior: creio que serei lido por ele, graças à evolução.

 

Juro que essa experiência me abalou. Tanto fiquei chocado que me vi ressuscitado por outra chamada, do mesmo jornal, no mesmo dia:

“VOCÊ PODE NÃO SE APAIXONAR NA AMAZON, MAS PODE NUMA LIVRARIA”.

Aqui, o argumento é reverso: a mediação eletrônica atrapalharia a circunstância do encontro. O apelo passional direto merece destaque pela intransferência, e, pelo contrário, apelaria para necessidade intransferível de contatos presenciais. No caso da missa, era Deus o agente unificador, abstrato, poderoso, anulador de entraves. Já na livraria o livro justificaria junções. Dando asas a voos desvairados, pensei no paradoxal posto entender que Deus é o Verbo Divino encardo e, assim, no caso da igreja poderia promover uniões virtuais, mas no caso das palavras escritas, dos livros, tudo teria que ser cara a cara, ou seja, parodiando o verbo seria humano. E as horas correram. Eu, entre uma coisa e outra, voltava a pensar nas ambiguidades da eletrônica. Se cheguei a um termo? Creio que sim: continuo sem entender os caminhos da humanidade e da mediação eletrônica. É bom que siga assim, até que eu morra apaixonado pelo livro da vida. Depois, depois Deus explicará os contatos virtuais. Ah! Se alguém se comover com minha morte, se não puder me velar presencialmente, pode fazer pelo canal virtual...

terça-feira, 13 de outubro de 2020

TELINHA QUENTE 420

 

Três crianças descobrem que o orfanato onde vivem não é nada do que pensavam. Agora, têm que liderar o grupo todo num arriscado plano de fuga.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

CAIXA DE MÚSICA 427

 


Roberto Rillo Bíscaro

Compositora de alguns dos sucessos de Ariana Grande, Victora Monét lança material próprio, sofisticado, empoderado e moderno, mas sem esquecer a rica tradição do R'n'B.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

TELONA QUENTE 332



Em O Fascínio (Netflix), durante uma viagem ao sul da Itália para conhecer a mãe do noivo, uma mulher luta contra forças misteriosas que ameaçam sua filha.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

DESCASO EM UÍGE

Albinos queixam-se de abandono e discriminação


A Associação dos Albinos do Uíge, em Angola, queixa-se da falta de apoio e atenção das autoridades locais em função das dificuldades do dia-a-dia.


“Precisamos do apoio do Governo porque os produtos para o tratamento da pele deles está a ser difícil de adquirir pelo fato dos preços serem mais altos nas farmácias”, disse o pai de um albino que pediu o anonimato, enquanto outro se queixou da falta de “condições para pagar”.

O presidente da associação David Paulo Bunga lembra que os albinos têm sido vítimas de exclusão e de estigmatização em vários setores, como no acesso ao emprego na função pública, aquisição de habitação e a participação em organizações juvenis.

“O albino não e visto como pessoa, não tem acesso ao emprego na função pública, não tem direito uma casa nos grandes projetos habitacionais do Governo, quando há reunião somos colocados de lado”, Bunga.

Diante dessas dificuldades, ele disse ser obrigado a pedir uma audiência ao ao governador Sérgio Luther Rescova para em conjunto analisarem o problema dos albinos na província.

A associação tem registados 123 albinos na província.

CONTANDO A VIDA 315

“ACONTECÊNCIAS”: RUTH GUIMARÃES E AS INGRATIDÕES VALEPARAIBANAS.

José Carlos Sebe Bom Meihy

A palavra acontecência é criação de Ruth Botelho Guimarães... De quem? Ruth Guimarães, mas quem é ela afinal? De onde vem, o que fez, por que destacá-la? Sei que estas questões são frágeis para alguns, exatamente para prezadores de romances, contos, textos drenados das listas de sucessos. Ruth Guimarães é dessas figuras apagadas dos arranjos talhados por quantos esculpem seus deuses segundo a própria imagem e semelhança. Mas, haveria razão subjetiva para isso? E não escapam explicitações capazes de nutrir esquemas preconceituosos, desqualificadores de tipos desiguais como, aliás, demonstra Eduardo de Assis Duarte. Ruth era mulher, negra, do interior do estado de São Paulo – de Cachoeira Paulista – e nunca pretendeu trocar seu rincão por qualquer capital, mesmo tendo cursado Filosofia na USP. Em 1983, na Bienal Nestlé de Literatura, apresentou-se dizendo sou “mulher, negra, pobre e caipira”, e a isso poder-se-ia acrescentar “disjuntada”. Por paradoxal que pareça, Ruth se considerava tributária de Mário de Andrade, e mesmo tendo sido saudada por críticos como Nelson Werneck Sodré, Érico Veríssimo, Edgard Cavalheiro, tais loas nunca a apensaram além de escassas citações marginais.

Seu livro de estreia Água funda, publicado em 1946, foi prefaciado por Antônio Cândido, aliás, isto não deixa de ser irônico posto argumento vazado de alguém que pontificava um olhar menor à consideração dos regionalistas. De toda forma, da mina de Ruth despontaram ainda outros escritos de fôlego como Os Filhos do medo, de 1950, pesquisa original sobre a figura do diabo; Crônicas valeparaibanas, de1992, considerações sobre o folclore regional, e a ficção Contos de cidadezinha de 1996, a respeito dos modos de vida no interior. Pode-se dizer que esse conjunto de trabalhos representa, juntamente com Lobato e outro valeparaibano – igualmente esquecido – Valdomiro Silveira, a essência genuína do gênero regionalista do Vale. Sugere-se, contudo, e não sem sentido, que a própria Ruth foi a escritora que, de maneira mais exuberante, furou a bolha do exclusivismo localista. Fundamenta-se tal indicando que além de trabalhos respeitáveis sobre aspectos universais, Ruth foi tradutora audaciosa de clássicos como Balzac, Dostoievski e Daudet. Não bastasse, escreveu peças memoráveis e de abrangência, como: As Mães na Lenda e na História; Líderes Religiosos; Lendas e Fábulas do Brasil; e com justo destaque, o audacioso Dicionário de Mitologia Grega; isso além de Grandes Enigmas da História; Medicina Mágica: as simpatias; Lendas e Fábulas do Brasil...

É verdade que a profícua produção lhe rendeu Cadeira na Academia Paulista de Letras, mas, isso é raso em vista de merecimentos. A garantia de perplexidade induz perguntar: mas afinal quais os entraves para o reconhecimento ampliado desta autora? Mesmo entre as mulheres (Raquel de Queiroz, Cecília Meireles, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector) a figuração de Ruth é diminuta; seria por ser negra? Em termos de combate ao racismo, com certeza cabe outra observação fatal, pois nos limites da justiça, tem tocado atenção a Machado de Assis como afrodescendente, e então, por que motivos Ruth não figuraria nesta almejada redenção? Será por ser mulher e, sobretudo, mulher negra do interior? Aposta-se que sim, supondo o formidável esforço para requalificar, em paralelo, Carolina Maria de Jesus. Moradora da capital paulista, a dúvida sobre os destaques entre ambas corre por conta de dois aspectos complementares: 1- o alinhamento estilístico e temático e 2- a leitura política do gênero “diário”. Ruth foi dona de vernáculo escorreito e coerente com os assuntos em voga na intelectualidade convencional. Isso, por certo a constelou em vez de distingui-la, como ocorreu com Carolina. E diário de favelada era algo testemunhal, urbano e explicável na era da “cidade que mais cresce no mundo”. Supõe-se então o paralelo contextualizado, pois mais que enquadramento no rótulo “mulher”, ou “negra”, Ruth insistia em ser “caipira”, aliás, orgulhosa de seu espaço original. Isolou-se e foi isolada, tudo segundo conveniências. Sintetizando de outra forma, Ruth se inscreveu no “popular” sem representá-lo, no sentido da diferença de classe, estilo, modo de pesquisa, filiação literária.

Há, contudo, um fator a mais a ser considerado: a não requalificação de Ruth Guimarães pelos quadros regionais. O que tem feito o Vale para a projeção de sua maior estrela feminina no campo das letras? Nada, absolutamente nada. E neste diapasão recupero certo tique do meu Vale: a ingratidão vestida de silêncio. Sim, o Vale do Paraíba não se olha no espelho do reconhecimento local. Tomando Taubaté como outro exemplo, perguntemos: onde estão homenagens às figuras maiúsculas da expressão local: o que tem sido feito em relação a Mazzaropi, a Hebe Camargo, ao Tony e Cely Campelo? Outra vez me valho do “nada” e ressalto no lamento choroso o brado ignorante e injusto a figuras detratadas como Monteiro Lobato. Tudo isto é triste, mas fica ainda mais lúgubre quando notamos que é crônico, institucional, algo encalacrado na memória valeparaibana. É assim, aliás, que volto a Ruth para repensar a “acontecência”. Acontecência sinônima da falta de respeito. É tempo para acordar?  

 

 

 

terça-feira, 6 de outubro de 2020

RECUPERANDO A AUTOESTIMA ALBINA

Ofensa, traumas e invisibilidade: como albinas estão recuperando autoestima

Bianca Paulino, que cresceu em uma cidade pequena e só foi à escola aos 11 anosImagem: 


Lika Almeida

Colaboração para Universa

Beleza rara, que se destaca e é vista ao longe, e que, depois de muito tempo, aprendeu ver o pôr do sol como seu melhor amigo. É assim que hoje Josiane dos Santos, 38, se define, após passar mais da metade da vida enfrentando sozinha a dor do preconceito por ser albina.

Ela acorda todos os dias tentando cicatrizar as marcas físicas e psicológicas que a doença que provoca mutações genéticas lhe causou. Nascida em Vitória, ela conta que, na infância, passou por situações difíceis. "Ainda me lembro das vezes em que, na escola, fui chamada de diabo loiro, cobra-cega, entre outras ofensas. Aos 7 anos, além da deficiência visual, minha pele feria muito em decorrência da sensibilidade constante, então eu ia para a aula com algumas manchas de sangue na roupa e ninguém entendia, achava que era descuido", conta.

O albinismo é uma desordem genética, que causa uma produção diminuída ou ausente da melanina - o pigmento que dá cor à pele, formação e funcionamento dos olhos e proteção da cóclea, uma região do ouvido responsável pela audição, e tem a função de proteção ao dano causado pelo ruído.

"Fui muito isolada e enfrentei problemas dentro e fora da escola. Fui impedida de fazer muitas coisas, principalmente ir à praia, não sabia que existia um horário em que não me machucaria", diz Josiane.



Josiane fundou um grupo de apoio a albinos para troca de experiências e ajuda mútua 
Imagem: Arquivo Pessoal

Para que as novas gerações não passem pelo que passou, Josiane criou um coletivo chamado Albinos ES, que conta hoje com 25 membros. A ideia é que homens e mulheres se apoiem, troquem experiências e recebam atendimento gratuito de médicos e psicólogos parceiros.

"Eu encontro muitas mulheres com albinismo cuja autoestima está no chão. Muitas não gostam de se arrumar, cuidar da aparência, pois acreditam que podem chamar ainda mais atenção. O albinismo afeta a gente de uma maneira que nos diminui. Uma de nossas companheiras está em depressão e passa por acompanhamento psicológico e conversas em grupo. Sempre damos dicas, desde maquiagem até como resgatar dentro de si a autoestima", conta.

Enclausuramento

Foi também com muita luta que Bianca Cristina Paulino, 27, conseguiu recuperar o amor-próprio ainda na adolescência. Ela mora em Potim, no Vale do Paraíba (SP), e acredita que crescer com albinismo em uma cidade de 25 mil habitantes foi um processo enclausurado.

"Quem me vê agora sendo feliz e engajada, não imagina a minha infância. Fui criada sozinha, com minha mãe e avó, que, desde meu nascimento, sabiam da minha condição e, por medo da reação das pessoas, me superprotegeram. Não brincava na rua, quase não tinha amigos e era muito tímida", conta.

Por causa do desconhecimento da família em como lidar com a doença, Bianca só ingressou na vida escolar aos 11 anos. "Foi, então que meu castelo se quebrou. Ouvia apelidos que me faziam chorar. Fiquei anos sem entrar em qualquer supermercado, por exemplo, depois de sofrer bullying aos 15 anos. É doloroso e impactante", lamenta.

Bianca não aceitava a aparência e tentou algumas técnicas para se sentir melhor. "O grande problema era o cabelo, achava ele horrível, passei 12 anos usando química para alisar. É muito difícil lutar contra algo que é o padrão que a sociedade impõe. Em 2010 não tínhamos essa liberdade de hoje e eu queria sempre me adaptar ao outro, à onda", explica.

"Não temos identificação entre as blogueiras, por exemplo. Nós albinos, de certa forma, somos invisíveis. Se eu tivesse uma referência na adolescência, talvez minha vida tivesse sido outra. O que me ajudou foi a terapia que fiz pelo SUS, onde me libertei", lamenta a educadora social que hoje procura ajudar outras meninas por meio de conversas em suas redes sociais.
Empresas precisam de olhar inclusivo

Aos 16, enquanto construía um lugar seguro psicologicamente para sua autoestima, Josiane teve um relacionamento no qual o namorado não a assumia publicamente. "Quando tivemos uma filha, todos ficaram sabendo e minha casa na comunidade se encheu de gente, parecia que tínhamos uma artista entre nós. Todos só queriam ver a cor dela, que no fim das contas nasceu morena como o pai. Foi a curiosidade do bairro todo", comenta com um sorriso de quem hoje leva o assunto com mais leveza.

Mais tarde, no mercado de trabalho, obteve bons resultados até ser promovida. Mas, em seis anos de empresa, tentava todos os dias provar que não tinha nenhum tipo de problema para desempenhar suas funções, apesar de enxergar menos de 10% e ter consultas periódicas com dermatologista.

"Por me esconder, desenvolvi crises de ansiedade sem ninguém perceber", lamenta. Josiane foi demitida após uma cirurgia para correção de estrabismo, pois, segundo ela, a empresa acreditava que a limitação da visão pudesse comprometer o trabalho. "Essas coisas mexem com a gente, porém hoje entendo que as pessoas também não eram educadas para lidarem com isso. Precisamos mudar este pensamento na sociedade", explica.
Estima-se que 10 mil pessoas sejam albinas no país

De acordo com Carolina Marçon, dermatologista coordenadora do Programa Pró-Albino da Santa Casa de São Paulo, além do preconceito sofrido pela falta de conhecimento sobre essa condição, o próprio albino às vezes desconhece como lidar com ela.

"Nasce albina a pessoa que tem um gene vindo do pai e um da mãe e só se manifesta quando os dois estão juntos. Com a falta de melanina e em decorrência da baixa proteção aos danos causados pelos raios solares, os albinos têm sérios problemas na pele e alta suscetibilidade ao câncer precoce, que pode começar ainda bem jovem, com 20 ou 30 anos e é a maior causa de morte e comorbidades nesta população", diz Carolina. "Por isso é tão importante a conscientização, para que tenham cuidados e acompanhamento periódico e esse câncer seja removido, principalmente em crianças."
Onde buscar ajuda

O Programa Pró-Albino oferece prevenção, detecção precoce e tratamento das doenças dermatológicas e oftalmológicas gratuitos pelo SUS, desde 2012, e atende hoje 350 pacientes, sendo 30% crianças. De acordo levantamento da Santa Casa, no Brasil, estima-se que haja cerca de 10 mil albinos -pelo menos 1.000 no Estado de São Paulo.

Outra fonte de informações e apoio ao albino é o Instituto Nóbrega, que tem sistematizado informações para influenciar políticas públicas, como o fornecimento de protetor solar para prevenção medicamentosa.

O Brasil conta também com a Apalba (Associação de Pessoas com Albinismo na Bahia), que atende 570 pessoas diretamente, vindas de 100 municípios do Estado. Fundada há 20 anos, começou com o objetivo de cuidar da fragilidade da pele dos albinos em um dos estados mais ensolarados do país.


Reunião da Associação de Pessoas com Albinismo na BahiaImagem: Divulgação

Composta por sua maioria de mulheres, a associação faz reuniões mensais, onde contam suas experiências e expõem a maneira como são tratadas pela sociedade, seus anseios e vivências como uma pessoa com albinismo. "A associação tem o trabalho de levar à mulher e à criança palavras e abordagens positivas, auxiliando as mães a lidarem com a condição das filhas e elevando a autoestima de ambas", diz Maria Helena Machado Santa Cecília, assistente social, membro da comissão de ética da Apalba.

"Elas chegam se achando muito feias e nós tentamos mostrar que o bonito é o que sentimos dentro da gente, não o que os outros veem. Essa troca entre acaba contribuindo e mudando esse cenário, tanto que mulheres que entravam nas reuniões mudas e saíam caladas e que hoje são palestrantes. Elas desenvolvem a autoconfiança e evoluem", conta Maria Helena.

Segundo estudo internacional realizado pelo Instituto Nacional de Saúde, dos Estados Unidos, uma em cada 20 mil pessoas em todo o mundo nasce com albinismo e estima-se que uma a cada 70 carregue os genes associados à doença, mas não são afetadas pelas mutações, independentemente de etnia, sexo ou classe social.

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segunda-feira, 5 de outubro de 2020

CAIXA DE MÚSICA 426

 

Roberto Rillo Bíscaro

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