quarta-feira, 30 de junho de 2021

CONTANDO A VIDA 347

 BREVE HISTÓRIA DO NOSSO DESESPERO.


José Carlos Sebe Bom Meihy

Eram dias difíceis. Há pouco mais de um ano, vivíamos um choque de realidade inimaginável. A pandemia definida ainda em 2019 se avultava em figuração gigantesca. Sustos. Desesperos. Agitos mundiais. O planeta se amedrontava com o progressivo número de mortes lidas como ameaças apocalípticas. Temia-se, com evidências, o inferno na Terra e os demônios, sem disfarces, estavam soltos, bêbados e esfomeados, incontrolados, nos buscando. Sem medicamentos alcançáveis, sem estruturas médico-hospitalares, com o noticiário inflamado, restava o formidável abraço do pânico. O medo e a apreensão eram regras: que será de nós? A já anunciada vacina estava distante e a cloroquina, mostrada como bala de prata, dava passagem para uma política capaz de justificar a estratégia da imunidade de rebanho.

As experiências brasileiras eram demonstradas em registros horripilantes: sequências tétricas de enterros, fúria popular em busca de atendimentos, exaustão do pessoal da saúde. Chorou-se muito, nossa! Viu-se logo que não se tratava de mera gripezinha. Aliás, o que se notava era o resultado de um negacionismo integrado a um projeto de mudança de rumo da forma de governo. E começava uma guerra consequente contra o ambiente da ciência, colocando-se no lugar uma religiosidade sem teologia sustentável, assentada no comportamento de seguidores fanáticos. Se o mundo não seria o mesmo, no Brasil tudo se agravava ao ponto de logo termos uma das piores reputações no quadrante universal. Jamais seríamos os mesmos. Jamais.

Olavo de Carvalho, lá de seu escritório em Virginia, nos Estados Unidos, entre palavrões e murros na mesa, destilava mandamentos seguidos por terraplanistas ávidos da desmontagem institucional. O neoliberalismo pululava em delírios quiméricos, consagradores do progresso econômico acima de tudo e de todos. E nosso cotidiano era sufocado pelo destempero guiado pelo pavor do futuro mortal e galopante. A dicção mal resolvida do presidente da república exarava impropérios de repetição desnecessária. De certa forma, as lições da Guerra Fria consubstanciadas na polarização política ecoavam confundindo esperanças com alarmes. Entre um lado e outro, era dado o caminho para a desarmonia que, plantada no solo fértil da corrupção estrutural e da noção de falibilidade da utopia, fazia emergir um novo messias. Tosco. Inculto. Desrespeitoso, com filhos moldados em falcatruas nunca esclarecidas, estávamos jogados às traças que corroíam nossas resistências. Resultado: hoje quase quinhentas mil mortes, com promessas de muitas outras.

Populismo pelo avesso, em nome da renovação e da nova política, um ex-capitão, chamado de “mau militar” pelo ditador Ernesto Geisel, se arvorava redentor da ordem, da moral e dos bons costumes. Com ele empoderado, afiavam-se, em nome de novidades, as velhas garras da violência institucionalizada em nossa história. Se o processo de denúncia das agressões às mulheres, aos negros, homossexuais, estava em marcha lenta, com a tomada do comando de um segmento hegemônico branco, tudo ganhou vertigem de extermínio. Naquele momento, o que era ruim virou péssimo, e então o latente conservadorismo se mostrou sem alcance de correção. Feminicídios, mortes de negros e favelados, ataques a gays se juntaram ao sufoco proposto às comunidades indígenas, quilombolas, comunidades pobres. Encerrados em lares, viramos espectadores de um programa metodicamente preparado para a destruição.

Fogo. Muito fogo foi ateado nas florestas, matas, manguezais arrasados, animais mortos aos milhares. E o covid19 grassando a ponto nos colocar em segundo lugar no plantel de perdas de vida mundo afora. Faltava-nos tudo, além da constatação do governo que não ligava para os contingentes de arrependidos de votos creditados a favor de mudanças necessária. A magnifica resposta dada pela ciência que em curto espaço de tempo provou várias vacinas eficientes, alentou nosso viver. E desde então começamos respirar possibilidades melhores. Desponta assim a reflexão necessária, capaz de iluminar perguntas que precisam de respostas: por que tanto se negou a eficiência vacinal? Qual a razão para a coleção de sinais trocados entre medicamentos comprovados e outros fartamente indicados ineficientes (e até danosos)? Se tínhamos o melhor sistema de vacinação do planeta, o SUS, por que não nos valemos dele, para garantir que poderíamos ser o primeiro país do mundo a produzir e imunizar a população? É sim possível que estejamos agora entre os 5 países do mundo que mais vacinam, mas isso justifica a perda de cerca de 100 mil mortes causadas pela demora em se assumir a responsabilidade de vacinação?

Mas sabem o que mais me preocupa? Fico imaginando os efeitos recalcados em nossa memória social. Temo, muito, muito mesmo, que a cobrança velha em forma de agravamento da polarização e que ela nos leve para o caos. O luto que mal digerimos há de nos desafiar por muito tempo. Não se passa impunimente pela experiência traumática da perda de tanta gente e tanta incúria política. Temos que passar por um doloroso processo de reflexão antes das próximas eleições e que juízos críticos nos ajudem a redimir de escolhas erradas.

terça-feira, 29 de junho de 2021

TELINHA QUENTE 452

A jornada de Cassandra, uma mulher trans que deixou sua cidade natal determinada a ser livre e viver com independência, mas é confrontada por um filho que teve no passado.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

CAIXA DE MÚSICA 459

 


Roberto Rillo Bíscaro

Parte da cena de Manchester, o Dislocation Dance jamais conseguiu a fama de alguns de seus conterrâneos, como Smiths e New Order. Injustiça, porque sua mistura de pop, jazz, canções francesas, funk e muito mais é pra lá de gostosa.

ALBINAS BOLIVIANAS


Mãe e filha albinas são ajudadas por viverem em um quiosque na Bolívia. Ela a cria sendo cega

Uma mãe solteira trabalha todos os dias no seu quiosque em Chasquipampa (Bolívia), que por muito tempo foi também o lar em que vivia junto à sua pequena de 4 anos.

Em um quiosque metálico situado na rua 51 de Chasquipampa (Bolívia), trabalha Maritza Mamani, sua dona. Que a cada dia na manhã acomoda os pacotes de batata-frita, alguns de limões e outros de eucaliptos, junto com as demais mercadorias que tem, para dar início ao seu dia de trabalho. No mesmo lugar onde até pouco tempo dormia com sua filha de quatro anos, Maribel, que assim como ela, também é albina. Passaram noites ali assustadas e sem ter aonde ir. Se abraçar entre si era o seu único refúgio.

Enquanto Maritza trabalha no quiosque, sua pequena filha mostra o seu cabelo branco escorrido com duas pequenas tranças enquanto brinca com os seus amigos. Não deixam de sorrir a todo momento, ao mesmo tempo que as mães de todos esses pequenos os veem desde o seu local de trabalho. Entre elas está precisamente Maritza, pensando preocupada em como é difícil criar uma filha quando também tem que enfrentar uma dura pobreza.

“Esta pobre Maritza sofre muito: nós a conhecemos desde que carregava Maribel nos braços, bem pequenininha. Por todas as partes saía vendendo, era ambulante, mas sempre com sua bebê, nunca se separava dela; nesse quiosque viviam as duas”.

Em um dado momento, Maritza ficou perto de ter um lar em Ullau Ullau. Um quarto alugado, pelo qual pediam quase 36 dólares por mês, e como a mulher responsável se compadeceu dela, baixou o preço para 33 mensais. Estava um pouco longe do seu lugar de trabalho, mas era muito mais barato que os de 71 e 115 dólares mensais que lhe ofereciam em outros lugares. No entanto, quando já tinha encontrado uma paz neste aluguel, começou a ser atemorizada por outras comerciantes devido ao fato de que tinha mudado de ramo (para vender doces e frutas) sem realizar os trâmites correspondentes no município. Foi então quando decidiu não sair do quiosque, permanecendo ali escondida com a sua filha, enquanto temia ser detida.

“Para a menina e para mim, a comida não nos chama a atenção: podem passar até três dias e não temos vontade de comer. A Maribel nunca pede comida, eu lhe dou quase que à força. Será algum problema de saúde por nossa condição? Alguém nos poderá orientar: (…) Maribel era branca como eu, quando nasci (…) Eu chamava a atenção igualmente no meu povoado, mas me dava vergonha porque me diziam que parecia uma senhorinha por meu cabelo branco e por isso cobria até a minha cabeça e não queria nem sair nem na rua; minha mãe insistia e me dizia: ‘Como sou orgulhosa do quão linda você é’. Assim me anima sair”.

Hoje, esta mulher albina tem 22 anos e o cabelo preto. O pintou, possivelmente para passar mais despercebida. Ela teve Maribel quando tinha 18 anos, maravilhando todos em seu nascimento. No entanto, ambas atualmente estão sozinhas e Maritza de fato teve que se recuperar sozinha do parto. Além disso, previamente fruto do seu albinismo e de não ter a informação sobre a sua condição e os cuidados que devem ter, a luz causou muitos danos nos olhos de Maritza, para assim aos 15 anos ter perdido grande parte de sua vista. Por sorte, seus pais conseguiram transferi-la para La Paz, onde a inscreveram no Instituto Boliviano de la Ceguera, onde adquiriu independência ao aprender Braile e a se locomover sem enxergar.
Nesse mesmo lugar conheceu o homem que a deixaria apaixonada e com quem teria Maribel. Mas em questão de pouco tempo, o que parecia uma história de amor, terminou cheia de violência e abandono. Sofreu maus-tratos e humilhações por parte dele e ao ver sua família desprotegida e com problemas de visão, tentaram separá-la de sua filha, no entanto, não conseguiram. Inclusive estando quase cega, não deixou de lutar para estar ao lado de Maribel.
“Ela não tem o porquê sofrer, além disso, quem a tenha vai querer um pouco, não como eu, sua mãe, que vou amá-la sempre. Fora que é mulherzinha e não se separa de mim (…) Quando crescer, vou contá-la como foi a nossa vida, o quanto andávamos juntas, sempre juntas. Ela é como minha companheira, minha irmãzinha, minha amiga; é como minha roupa, minha jóia. O amor que tenho com ela é único, sem ela eu não seria ninguém (…) A Maribel tem um caráter bem forte; mas às vezes também penso que se é calada e humilde como eu podem se aproveitar dela, como fizeram comigo; mas, pensando bem, prefiro que seja humilde e não cause danos a ninguém”.
Por sorte, ao que parece suas noites mais duras e difíceis estão perto do seu fim. Porque dias atrás chegaram ao seu quiosque jornalistas de Unitel com a intenção de querer levá-la para a sua casa. Aí ela contou a sua história, a mesma que foi resumida aqui, comovendo todos os presentes. Incluindo as autoridades, que colocaram em execução um plano de apoio para ambas. Comida, óculos para os seus olhos, eletrodomésticos, brinquedos, roupa e, inclusive, um pequeno forno foram doados a elas. A próxima meta de Maritza é a mesma que tem há muito tempo: conseguir uma casa, um terreno onde possa se instalar com Maribel, para assim seguir adiante e viver juntas e felizes como mãe e filha.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

PAPIRO VIRTUAL 181


Com um estilo simples e agradável, e com características que às vezes fogem do estilo romântico, Visconde de Taunay se impõe sempre como um observador ao descrever as paisagens e personagens e ao desenvolver seus enredos. Seu romance mais conhecido, Inocência, é considerado a maior obra regionalista brasileira. Nele, Taunay consegue aliar a inocência, a pureza e a beleza da mulher romântica, encarnada na personagem "Inocência", a uma descrição minuciosa da realidade, da vida cotidiana do sertanejo, muitas vezes mostrado-o como rude e ignorante.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

TELONA QUENTE 363

 

Em Afterimage, último filme do mestre polonês Andrej Wajda, o artista polonês de vanguarda Wladyslaw Strzeminski luta para promover suas ideias progressistas sobre arte, enquanto luta contra suas limitações físicas e princípios stalinistas.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

CONTANDO A VIDA 346

 PARA PENSAR O NEGACIONISMO BRASILEIRO.


José Carlos Sebe Bom Meihy


Peço licença para dizer que há método no caos que vivemos. E história também. Nem tudo – aliás, muito pouco – é o que parece na cena da política circense que se posta diariamente aos nossos olhos e que nos distrai perversamente. Rimos, indignamo-nos, ficamos chocados, atônitos até, mas é importante que se clarifique que este é mesmo o propósito que, afinal, nos paralisa. Ainda que figuras brutas, grotescas, bufas, ostentem ignorância como política, é preciso despertar nossa desconfiança e reconhecer intenções que vão para além da aparência medíocre.

O jogo é consequente e o que está em disputa é o nosso futuro democrático. Não, eles não são o que se mostram: idiotas ou equivocados. Há mais sutilezas do que se vê ou se ouve em numerosos e inacreditáveis pronunciamentos. As repetições, idas e vindas, aliás, fazem parte do script que objetiva confundir. As verdadeiras intenções estão ocultas por elipses históricas não reveladas, e elas carecem de reconhecimentos a fim de evitar efetivação de políticas ainda mais nefastas. E nem pensemos que o negacionismo é só científico. É muito mais que isso: é histórico. Convém, aliás, dizer que não é sem razão que as universidades são apontadas como antros de depravados, vagabundos, inúteis. Não é à toa que alguns campi são confundidos como campo de consumo de drogas, cenários de bacanais. Mesmo com cerimônia, convido a pensar que os dramáticos cortes de verbas destinados à educação e ao combate às cotas para minorias, juntamente com os progressivos processos de privatizações, não totalizam os ataques. Há mais. Sobretudo, assiste-se a uma progressão geométrica de ofensivas aos historiadores, sociólogos e cientistas sociais, às humanidades em geral. Explica-se...

Desde a chegada dos europeus em nosso solo, deu-se um curso longo e de intrincada inscrição no sistema colonial com um todo. A distribuição de terras destinadas à produção para atender o comércio externo nos impôs um destino servil duradouro e mantenedor de subalternidades. O custo de mais de 4 milhões de negros trazidos da África se compôs com massacres indígenas e com o não reconhecimento cidadão de levas populacionais marginalizadas. A decantada mestiçagem, tão cara aos românticos ideológicos, se multiplicou sem mudanças efetivas na estrutura fundiária, sem lugar social minimante digno e sem perspectivas de integração. A instalação da monarquia ocasionou um desvio na busca de soluções políticas que, afinal, tardaram para alçar alguma autonomia. Desde o século XIX, em particular dada a Guerra do Paraguai (1864 – 1870) a preponderância das Forças Armadas se fez presente, e até onde foi conveniente, sustentou o poder imperial brasileiro. A ruptura justificou um golpe comprometedor da lealdade constitucional, quebrada em 1889 com a Proclamação da República. Ainda que se reconheça beleza nos programas dos nossos republicanistas, a carência da participação popular permitiu governos militares que se viam como arquitetos do novo regime.

Depois de dois presidentes saídos das fileiras do Exército, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, Prudente de Morais foi o primeiro civil a chegar ao posto, em 1894. Episódios sucessivos têm mostrado a interferência militar em nossa história, fato que sugere uma paternidade republicana mal resolvida e incômoda aos olhos de uma democracia que busca cara própria. Ao longo de tantos anos de tutela, aos olhos da corporação, parece natural o apego ao governo. Por certo, há momentos mais agudos nesse apego e a ditadura iniciada em 1964 e que teve termo em 1985 é prova da continuidade da mesma percepção.

Ainda que sem deixar liberado para o plano civil, o Exército Nacional, somado às demais Armas (Marinha e Aeronáutica), tem amadurecido e calibrado suas pretensões. É um processo complexo e com filigranas de difíceis contornos. Mas é inegável as divisões que, afinal, garantam um relativo reconhecimento do papel civil nacional. Não é, contudo, fácil deixar o processo correr solto. Dividida as Forças Armadas enfrentam dilemas que são rebatidos por radicais ultraconservadores. É exatamente nessa fenda que os negacionismos atuam. A refutação pela ciência é mais exposta e se vê filtrada por insistentes narrativas. A louca retórica anticientífica é tornada cena pública a fim de mobilizar seguidores que em tudo veem ameaças comunistas ou depravação moral. O negacionismo histórico, porém, demanda conhecimento que convida a estudos e formulação de novos pactos cívicos. É lógico que há interesses internacionais fomentando tudo, mas sem esclarecimento histórico do papel das Forças Armadas em nossa história, pouco pode ser feito. O combate ao negacionismo histórico tem que se comprometer com pesquisas, estudos que, afinal, mostrem que o conceito de república brasileira civil tem que ser reprogramado. E repensado em diálogo com as Forças Armadas. Neste sentido, nada mais salutar do que um diálogo aberto, franco e claro e sem negações convenientes. A hora é esta. É?

terça-feira, 22 de junho de 2021

TELINHA QUENTE 451

 

Com a catastrófica erupção do vulcão Katla, mistérios emergem do gelo e viram a vida de uma comunidade de cabeça para baixo.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

CAIXA DE MÚSICA 458

 


Caligonaut é um projeto solo do guitarrista e cantor Ole Michael Bjørndal, conhecido das bandas progressivas norueguesas Oak e Airbag. O projeto apresenta performances de membros do Wobbler, Pymlico e Airbag.

domingo, 20 de junho de 2021

DELEGAÇÃO DE ALBINOS COM O PRESIDENTE DE ANGOLA

 

Presidente da República recebe delegação de pessoas com albinismo

O Presidente da República, João Lourenço recebeu nesta quarta-feira (16), em audiência no Palácio da Cidade Alta, uma delegação de pessoas com albinismo, por ocasião do dia 13 Junho data em que se comemora o dia mundial de consciencialização do albinismo.

Durante a audiência, foram apresentados os problemas que este grupo social enfrenta no que diz respeito à saúde, educação, assistência social, bem como a discriminação de que ainda são alvo por alguns sectores da nossa sociedade, principalmente na inserção no mercado de trabalho.

O Presidente da República baixou orientações para a solução destes problemas, com destaque para o censo das pessoas com albinismo em Angola.

Assistiram também a audiência a Ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira e a Secretária de Estado da Família e Promoção da Mulher, Elsa Bárber.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

PAPIRO VIRTUAL 180


Sousândrade foi um poeta sui-generis de nosso século XIX. Utiliza recursos expressivos, como a criação de neologismos e de metáforas vertiginosas, que só foram valorizados muito depois de sua morte.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

TELONA QUENTE 362

 


Para celebrar 30 anos de casados, um casal de ingleses resolve passar um fim de semana em Paris e se hospedar no mesmo hotel em que passaram a lua de mel. Mas essa comemoração na "cidade do amor" não será do jeito que esperavam.



quarta-feira, 16 de junho de 2021

CONTANDO A VIDA 345

31 DE MAIO: DIA INTERNACIONAL SEM TABACO!


José Carlos Sebe Bom Meihy


A data 31 de maio emblema um desafio importante, ainda que não devidamente prezado no calendário mundial: o dia mundial sem tabaco. Assinalar isso, aliás, sugere fósforo que acende uma questão que perturba pela carência de racionalidade e (des)informações históricas. Basicamente, convém lembrar que o tabaco foi “descoberto” na América e que, ao longo dos séculos, vigoraram-se duas formas principais de seu uso: uma mística e outra mercadológica, equivalendo ao que tecnicamente se considera valor de uso X valor de troca. Aquela religiosa, esta econômica.

A primeira alternativa, o uso místico, tem vínculos com questões sagradas e remete ao caráter ritualístico, cerimonioso, das funções religiosas. Nessa linha, alguns aspectos subjetivos sugerem que a fumaça que sobe, rarefeita no ar, seriasinal de ligação com algumas divindades promotoras de transes que se inscrevem na espetacularização das crenças. É então no ritual comunitário que se percebe o fumo como veículo de ligação entre o natural e o sobrenatural. Provocador de uma espécie de êxtase, o uso do tabaco nessas práticas seria prerrogativa de alguns líderes destinados às funções sacerdotais. Essa aliás foi a forma vista desde os primeiros contatos entre os europeus e os nativos americanos que notaram os indígenas como “homens-chaminé”. Ainda que esse tipo de manifestação persista como prática popular e isolada – onde, por exemplo, são aplicadas as sessões de “defumação” como alternativa para afastar espíritos indesejáveis –, a difusão do tabaco como “mercadoria” ou produto mundano implicou transformação do fumo em artefato industrializado, colocado no mercado em escala global.

A segunda forma, pois, remete ao valor “mercadoria”, como produto conjugado a toda parafernália do mercado internacional moderno. A passagem do “uso funcional“ para o “mercadológico” equivaleu à submissão da cultura indígena à europeia e isso funciona como metáfora histórica dos usos da colônia pelos metropolitanos. O tabaco, portanto, pode ser avaliado como moeda de troca simbólica do espaço colonizado que teve que render alguns de seus pressupostos culturais para a sobrevivência no orbe capitalista. Se os xamãs/ pajés (e depois entidades do candomblé) fumavam - e assim são/eram reputados como tipos especiais em seus segmentos -, mais tarde foram se distinguindo dos demais por meio de uma adjetivação que culmina na formulação conceitual de “tabagistas” ou “fumantes” e chegariam à qualificação de “viciados” ou “dependentes químicos”.

Mesmo sem desaparecer, diminuiu-se muito o teor sagrado do fumo. De toda forma convém não esquecer que existem atualmente cerca de 1,3 bilhões de fumantes em um mundo de 7,874 bilhões de habitantes. É alarmante saber que, vitimados pelo seu consumo, morrem por ano aproximadamente 4 milhões de tabagistas, montante que corresponde a mais de 10 mil mortos por dia. O tabagismo é, entre as doenças evitáveis, a que ocupa o primeiro posto, sendo que seu consumo provoca 85% das mortes por doenças pulmonares. Em relação ao câncer, 30% das mortes são devidas a tal prática e 25% de doenças coronarianas e outros 25% de males cerebrovasculares acometem a população usuária. A mera constatação desses números convida a supor os critérios morais de tolerância do uso do tabaco. Afinal, como um produto tão maléfico é aderido mundialmente? Questionando de outra forma, como pode a sociedade, em escala mundial, ser induzida em tal grau? O trânsito do tabaco o coloca como um dos dez produtos de maior movimentação do globo, com especial destaque no Brasil onde um terço da população adulta ainda fuma.

Há, pois, um enquadramento que reclama cuidados: o paradoxo entre a aceitação da prática tabagista e os avanços médicos que a condenam como vício. Além de não tolerar que se acenda cigarro algum neste dia 31, convém também pensar no cinismo e disfarce moral que cercam nossas leis e costumes. E se alguma fumaça for vista nesse dia, que seja da queima de contradições morais.

terça-feira, 15 de junho de 2021

TELINHA QUENTE 450

 



Inspirado pelas aventuras de Arsène Lupin, o ladrão gentil Assane Diop quer se vingar de uma família rica por uma injustiça cometida contra o pai dele. Grande sucesso da Netflix, veja a crítica da parte 2.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

CAIXA DE MÚSICA 457


A Trupe Poligodélica faz rock com influência dos anos 70 e da psicodelia, no Vale do São Francisco.

domingo, 13 de junho de 2021

ALBINISMO: MUITO MAIS DO QUE UMA QUESTÃO PURAMENTE ESTÉTICA

Conscientização sobre Albinismo: Muito mais do que uma questão puramente estética


Muito além da falta de pigmento da pele, o albinismo é algo que requer cuidados especiais por seus portadores, orienta a médica dermatologista Dra. Hellisse Bastos.

Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, atualmente existem 21.000 mil pessoas no Brasil que são albinas. Para quem não conhece profundamente, o albinismo é uma anomalia genética relacionada a síntese de melanina no corpo, aquela que é responsável pela cor da pele. O indivíduo albino nasce com essa deficiência que afeta não somente a epiderme, mas também os cabelos e os olhos, daí uma grande preocupação que precisa ser explicada.

Diante do fato de que o Brasil é um país tropical, de altas temperaturas, a melanina é uma grande aliada para a proteção contra os efeitos da exposição solar a longo prazo. Porém, conforme explica a médica dermatologista Dra. Hellisse Bastos, “o albino tem mais propensão ao aparecimento de lesões pré-cancerígenas e mesmo os tumores malignos de pele com o avançar do tempo, como a ceratose actínica e os carcinomas basocelulares e espinocelulares”, observa. Do ponto de vista oftalmológico, estes indivíduos podem sofrer problemas oculares justamente pela falta de pigmento na área dos olhos, acrescenta a médica.

Para evitar problemas desta natureza, a dermatologista recomenda que “o ideal é que essas pessoas suplementem a vitamina D, pois grandes exposições solares ao longo do tempo são um fator de risco. Por não terem a melanina para se proteger, o ideal é sempre usarem acessórios como chapéu ou boné, além de vestirem roupas com proteção solar. Para os olhos, é importante estarem de óculos escuros também”, acrescenta.

Os diferentes níveis de albinismo

Esta informação pode não ser conhecida do grande público, mas Dra. Hellisse lembra que existem diversos níveis de albinismo, “que vão desde casos em que a pessoa tem algum pigmento até aqueles mais graves que é a ausência total deles”, observa.

O que não quer dizer que estas pessoas devem viver em estado de alerta o tempo todo. “Essas pessoas podem viver normalmente, sem nenhuma dificuldade a mais, e podem tomar os devidos cuidados e assim não sofrerão esses danos”.

Procedimentos estéticos, pode?

Para quem deseja fazer procedimentos estéticos na pele, o ideal é sempre procurar um profissional médico para avaliar cada caso individualmente. A dermatologista revela que “uma das queixas mais comuns são as desordens pigmentares de melanina, assim a pele fica parecendo que tem uma espécie de ‘sardinhas’. Com isso é possível fazer tratamentos com lasers que vão ajudar a equilibrar e harmonizar isso. Mas, para qualquer tratamento que se conheça, o ideal é sempre consultar um médico especializado para que ele possa te dar as recomendações necessárias”, completa Dra. Hellisse.

O TRUMP ALBINO

Trump albino faz sucesso cantando em barraca de sorvete no Paquistão

Vendedor canta os ingredientes de seus sorvetes em versos, mas o seu marketing, na verdade, é ser sósia de Donald Trump, só que albino

"AMO SER DIFERENTE NESSE MUNDO ONDE AS PESSOAS QUEREM SER IGUAIS

 

'Amo ser albina, amo ser diferente nesse mundo onde as pessoas querem ser iguais', diz advogada

Por Elias Neto, TV Centro América

A advogada e pedagoga, Laudisseia de França Figueiredo, que nasceu com albinismo, disse que se considera uma exceção e já venceu por inúmeras barreiras do preconceito. Ela mora em Cuiabá.

"Eu amo ser albina, eu amo ser diferente, nesse mundo onde as pessoas querem ser iguais. Eu sou diferente pela minha própria natureza", afirmou.

Ela tem problemas na visão, mas isso não a impediu de ter uma vida normal e lutar pelo que ela queria. Laudisseia é concursada como técnica judiciária, no Poder Judiciário de Mato Grosso.

"Ser albino é ser único, apresentar uma condição genética que poucas pessoas têm. E por ser único, você acaba de certa forma deixando a sua marca"

De acordo com a Associação de Pessoas Albinas e Amigos de Mato Grosso, não se sabe quantas pessoas nasceram com essa genética diferenciada no Brasil. No Censo do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, não há espaço para se declarar albino.

Diante dessas dificuldades, o Coletivo de Albinos Brasileiros quer a aprovação de uma política de atendimento. Quer também a aprovação do Estatuto da Pessoa Albina pelo Congresso Nacional e por isso haverá uma audiência pública no dia 29 deste mês para discutir o assunto.

O sociólogo e pesquisador, Adailton Aragão, estuda o albinismo. Na tese de doutorado que realiza na UFMT, quer entender como construir a identidade dessas pessoas.

"Já que a maior incidência de albino ocorre entre a população negra e na minha tese a proposta é tentar entender essa identidade dessa pessoa albina que nasce numa família negra. Daí a gente faz a pergunta: nós estamos falando de um albino negro ou de um negro albino?", questiona o pesquisador.

Para ele, agora é o momento de desconstruir ideias equivocadas da sociedade que tende a colocar o albino como pessoa descapacitada socialmente. "A gente tenta trazer um pouco mais da visibilidade, isso a visibilidade positiva sobre a população albina", afirma.

O albinismo é uma condição causada pela deficiência na produção de melanina devido a uma condição causada pela genética. A pele e os olhos não têm pigmentação, ou tem bem pouca. Além de dar o tom da pele, a melanina é uma produção natural contra a radiação solar. A visão dos albinos também é afetada.

O agente de saúde Hélio de Almeida, que também tem albinismo, avalia que faltam políticas públicas para eles e também nas empresas privadas.

"Eu sou agente de combate a endemias e, quando atuava na rua, procurava sempre me adaptar às sombras, por exemplo, seu eu trabalhava no período matutino, trabalhava sempre contra o sol, eu ia do lado que estava a sombra na calçada. Se eu trabalho vespertino, eu fazia o mesmo", disse.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

PAPIRO VIRTUAL 179

 

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo foi um escritor, historiador, jornalista e poeta português da era do romantismo

quinta-feira, 10 de junho de 2021

TELONA QUENTE 361

 

O casal Ed e Lorraine Warren investiga um assassino, cujo autor alega ter sido possuído por um demônio.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

CONTANDO A VIDA 344

DOCES PORTUGUESES, CONVENTOS E ALGUMAS SAFADEZAS.

José Carlos Sebe Bom Meihy

As delícias dos doces são conhecidas e decantadas em prosas e versos em todos os quadrantes da Terra. O que é pouco revelado são as histórias que, detalhadas, podem atiçar outros sabores. E quantos segredos guardam esses casos! Muito além do pitoresco, há razões históricas que justificam a produção dessas guloseimas que frequentam nossos hábitos alimentares, principalmente depois da chegada dos europeus à América. A busca de rotas das chamadas “grandes navegações”, o encalço do tal “caminho marítimo para as Índias” no século XIV e XV, se deu primordialmente pelo interesse comercial das especiarias ou condimentos alimentares. A colonização em geral esteve intimamente ligada à produção de cana de açúcar, então fator essencial para a sobrevivência europeia aterrorizada com ameaças de fome desde o fim da epidemia da “peste negra”, ocorrida na segunda metade do século XIV. A propósito, lembremos que a condenação do açúcar como substância nociva é algo bem recente.

Devido a motivos de exploração econômica, nos ligamos às questões da dietética europeia. E não foi só pelo açúcar, pois outros produtos determinaram mudanças radicais no padrão alimentar geral. Foi pela América que o mundo conheceu: batata, tomate, amendoim, baunilha, milho, mandioca, feijão e o tabaco, ingredientes que passaram a compor demandas sem as quais seria impossível imaginar a moderna cozinha mundial. Nesse processo, o Brasil ganhou lugar de potência agrícola e isso atravessou séculos. Das fazendas de cana à doçaria portuguesa foi um pulo, salto que aliás colocou Portugal com distinção entres as melhores do mundo. Há autores, como Almeida Garret, que garantem a primazia dos lusitanos, e aí a história se complica pela reivindicação de franceses, italianos, árabes e até chineses.

A conhecida “doçaria conventual portuguesa” guarda segredos capazes de arrepiar cabelos de pudicos e assanhar pornógrafos. Antes, convém lembrar que, desde o século XVII, a vida monástica em Portugal, principalmente para as mulheres, não se explicava exclusivamente pelas santas vocações. Não. Havia pretextos outros capazes de justificar a opção pelos conventos: donzelas rebeldes, filhas rejeitadas, desobedientes, sem recursos, ou que davam algum “passo em falso”. E isso tornou-se prática plenamente aceita, principalmente no século XVIII. É verdade que não era exclusividade portuguesa, mas ocorreu de maneira exemplar em terras lusas, onde o catolicismo em muito perdeu o rigor espiritual e ganhou feições mundanas, até depravadas. Por certo, o moralismo crítico literário tratou de sanear essas “impurezas”, que ficaram legadas a pesquisadores ou escritores consagrados como é o caso de obras como “A religiosa” de Diderot, ou as bizarras aventuras do Marques de Sade, ambas na França. Mas foi em Portugal que a vivência dessas práticas devassas ganhou destaques estarrecedores e tornou-se “socialmente normal”.

É verdade que há leituras românticas, amorosas e dramáticas, enternecedoras de amores enclausurados - e talvez o mais eloquente exemplo desse tipo de literatura seja a obra “Cartas portuguesas”, pelas quais a irmã Mariana do Alcoforado declarou seu amor proibido a um militar francês. Afora isso, de tal maneira a promiscuidade virou regra na sociedade lusa que se vulgarizou o uso do vocábulo “freirático”, particularmente qualificador de quantos sustentavam as relações entre pares amorosos com religiosas. Sem dúvida, o mais vívido exemplo de freirático foi dado por Dom João V, rei de Portugal que teve caso conhecido com uma noviça de nome Paula Teresa da Silva e Almeida, que antes fora amante do conde de Vimioso no conhecido Mosteiro de São Dinis, próximo a Lisboa. Com o rei, irmã Paula teve um filho distinguido, Dom José, que chegou ao cargo de Inquisidor-mor, mais alto posto da mais controladora instituição religiosa de Portugal. Particularizar esses casos tão pouco divulgados foi motivo para livros como fez Júlio Dantas no texto “O freirático: amor em Portugal no século XVIII”. Mas nem só de amores escusos viviam os conventos.

Por aquele tempo, a produção de galinhas também era atividade monástica, e isso se justificava nem só pela carne. Em decorrência do “galinhal”, o aproveitamento do ovo se estendeu, pois aquele tempo a clara era usada na remoção de partículas verdes ou dos taninos aplicados à fabricação dos vinhos. Pois bem, restava então as gemas, e assim se dava um natural destino culinário que resultou na maravilhosa proliferação de doces como: baba de moça, dedo de moça, queijadinhas do céu, toucinhos do céu, pasteis de Santa Clara e de Belém, e muitos mais, mas o que merece destaque, contudo são aqueles que não escondem discrição e comprometem o viés amoroso de freiras, vejamos: sopapo do convento, garganta de freira, travesseiro de freira, suspiros de freira, barriga de freira, dedos de freira. É lógico que essa doceria se apoiava na erotização promovida pelo consumo de açúcar. O escrito Afrânio Peixoto, sobre isso, disse que as receitas de então denunciavam segundas intenções: beijinhos, desmamados, levanta-velho, língua-de-moça, casadinhos, mimos-de-amor. Pois é, o que não se diz, infelizmente, como é que esses doces se integraram na tradição posta em prática hoje e, mesmo apreciados, perderam suas razões históricas. Doces portugueses, vida monásticas e sacanagens, esses elementos trançados sugerem pecaminoso prazer que hoje podemos usufruir como oração. Subamos aos céus. Esqueçamos as balanças, tudo embalado pela subversão das ordens.

terça-feira, 8 de junho de 2021

TELINHA QUENTE 449

 

Em O Método Kominsky (Netflix), o professor de teatro Sandy Kominsky enfrenta as alegrias e tristezas da velhice com muito bom humor.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

CAIXA DE MÚSICA 456

 

Com intenso diálogo com a cultura popular, Coração de Marujo, de Sérgio Pereré, busca a integração entre o pessoal e o público, reencenando a sua ancestralidade, criando laços entre o eu e o nós. De construção espiralar, o eu xamânico de Pererê parte dos Reinados de Minas Gerais, passando pela cultura iorubá, para alcançar o político, que é próprio do nós e realizando, ao mesmo tempo, o caminho inverso: a comunidade também é o que ajuda a construir o eu-artista. Esse encontro se realiza de maneira especial na ligação entre os temas abordados com a escolha materializada musical.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

PAPIRO VIRTUAL 178



Jesuíta brilhante, cosmopolita, diplomata do Reino de Portugal, conselheiro de reis, polemista, perseguido pelo Santo Ofício, o Padre Antônio Vieira (1608-1697) foi múltiplo, às vezes contraditório. Há consenso, entretanto, quanto à genialidade dos seus sermões, dos quais cerca de duzentos chegaram até os nossos dias.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

TELONA QUENTE 360


Em O Hotel do Terror (Amazon Prime), o fim de semana íntimo de um casal se torna aterrador ao descobrir que sua pousada rural isolada é uma casa de maternidade assombrada onde bebês e mães foram assassinados por dinheiro.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

CONTANDO A VIDA 343

A CURVA DA FELICIDADE: em que ponto estamos?

José Carlos Sebe Bom Meihy

A felicidade é um dos temas permanentes da vida individual e coletiva. E a insistência de sua busca, tem idade avançada. Pode-se dizer que tudo começou com Aristóteles na antiguidade grega, pois foi ele quem definiu de maneira propositiva que “o homem é um animal social” e que não podemos viver uns sem os outros. Não faltou a Aristóteles compreensão de que ser feliz implicaria harmonia entre semelhantes. No mesmo impulso, Epicuro deu um passo avante ao propor estrada ao prazer e a alegria como pilares da felicidade. Os supostos epicuristas foram condensados em um dos textos mais reputados da produção afeita à moral e ética coletivas, a “Carta sobre a Felicidade”. Destinado ao amigo Meneceu, Epicuro enaltecia a eterna busca do sentimento de plenitude, e, de maneira incisiva abriu sua meditação dizendo que não há idade para ser feliz e que todos devem lutar por ela. A partir daí reflexões sobre felicidade têm se multiplicado ad nauseam.

O nosso Tom Jobim, lembremos, atualizou o velhíssimo dilema afiançando que “é impossível ser feliz sozinho”. Anteriormente, com o parceiro poetinha, Vinicius, o papa da bossa-nova se referiu ao mais ambicionado dos sentimentos opondo o reverso como fato triunfante “tristeza não tem fim, felicidade sim”. A oposição entre a felicidade e a frustração se tornou tão natural como o extremo entre o bem e o mal, e atravessou os tempos instalando-se em nossas atitudes cotidianas.

Ao longo dos tempos o drama da humanidade tem sido a junção das pontas do novelo existencial que nos enrola nas tramas da vida: num extremo a tristeza, no outro a ilusão do bem-estar permanente, com paz, saúde e harmonia. E para tanto ensejamos diariamente que haja espaço para a felicidade - com mais frequência até que a alegria ou mesmo do amor. Ser feliz é o que interessa e daí as ligações com o sucesso, aceitação pública, saúde. Mas como avaliar se estamos felizes? No complexo mundo contemporâneo, no ambiente dos cálculos explicativos de tudo, eis que surge uma escala capaz de dizer onde estamos na chamada curva da felicidade. O professor David Blanchflower do Dartmouth College nos Estados Unidos, participou de uma pesquisa que envolveu 134 países e concluiu sobre um padrão que mostra, independente de variações culturais, a existência de um fluxo capaz de justificar os ajustes do bem-estar coletivamente aferidos. Como seria de se esperar, o momento máximo de felicidade ocorre quando os consultados estão na altura dos 20 anos. E a base de qualificação dessa premissa mostra que àquela altura tudo se parece promissor e possível. O “U” da curva garante que entre 40 e 50 anos, o acúmulo de experiências de lutas e fracassos torna-se pesado e em queda. Há boas notícias também, pois transpostos os anos de luta, com o avanço da velhice, tudo pode melhorar, pois as ilusões se mostram superadas.

Vale mergulhar no mar profundo das possibilidades apontadas nas curvas do “U”. Enquanto jovens, com o mundo a frente e na inocência da coragem, nos aventuramos a construir ideais e a expectativa das possibilidades nos garante certeza de sucesso. Então podemos ser mais felizes, ainda que não tenhamos a segurança de seu alcance. Entre os 40 e 50 anos, padecemos de certo choque de realidade e assim medimos os sonhos atropelados pelas dificuldades impostas pelo mundo. Aos dados a depressão e pessimismos, esse é um período de tristeza e consciência das limitações inerentes à luta. Por lógico, estas mutações não ocorrem apenas no campo da psicologia, mas se relacionam também com as condições físicas ou biológicas. No campo do comportamento, esse é o momento em que se avalia o sentimento de solidão, época em o repertório de experiências permite medir o sucesso social de cada um. Na subida dos 50 anos, com capacidade analítica baseada em testagem empírica, vivencial, emerge a possibilidade de consideração de um tempo no qual foi investido o melhor de nós, na direção de acertos.

Por certo a proposta da curva é vulnerável, mas serve para instigar sugestões avaliativas. Eu mesmo, à altura dos meus 78 anos de idade, olho para trás e posso confirmar que há certa legitimidade na indicação. E medindo meu tempo existencial posso garantir que nunca fui tão feliz como agora, mesmo sabendo de toda infelicidade que o tempo presente acarreta. E você?

terça-feira, 1 de junho de 2021

TELINHA QUENTE 448

Criada por robôs, Sara precisa salvar a humanidade. Guiada por uma inteligência artificial, a garota precisa enfrentar robôs que querem impedir o retorno dos humanos. Veja a crítica do anime Eden, da Netflix.