sexta-feira, 29 de outubro de 2021

PAPIRO VIRTUAL 198

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. É considerado como parte da geração de 1922 do Modernismo no Brasil. Seu poema "Os Sapos" foi o abre-alas da Semana de Arte Moderna.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

TELONA QUENTE 381

Crítica do filme O Silêncio da Chuva (2021)

O inspetor Espinosa e a policial Daia ficam encarregados de investigar o assassinato de um executivo que foi morto a tiros no banco de seu carro. Quando os envolvidos no caso desaparecem misteriosamente, a situação assume proporções inesperadas.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

CONTANDO A VIDA 363

 INCLUSIVISMO E EXCLUSIVISMO: Pecados da Educação cívico-militar.


José Carlos Sebe Bom Meihy

Não basta constatar o negacionismo. Não! É preciso denunciar o desprezo à Educação, à Ciência e à Cultura. Mas, não é suficiente combater sem argumentos. A ausência de enfrentamento dessas questões tem permitido avanços de um projeto que já traz consequências no ensino regular.

Formulada sem consulta a autoridades da Educação, juntando um punhado de partidários que não resistiriam a debates especializados, a proposta de implantação de 54 unidades de escolas cívico-militares em três anos, funciona como agência ideológica da extrema direita. E há ainda quem fale em escola sem partido. Resta, quase em silêncio, assistirmos educadores encomendados iludindo a população em nome da qualidade de ensino, de Deus, da família, da moral e bons costumes.

Tudo ganhou forma aos 2 de janeiro de 2019, por meio do Decreto nº 9.665, quando foi criada a Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares, entidade que tem como uma de suas atribuições desenvolver um “modelo de escola de alto nível, com base nos padrões de ensino e modelos pedagógicos empregados nos Colégios Militares do Exército, das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros”. Dirigida ao ensino fundamental e médio, com apoio de estados e municípios, tais escolas cobrem do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do 1º ao 3º do ensino médio. Escondem-se na aparência de renovação sutilezas que merecem cuidados, pois comprometem princípios abertos a uma formação libertadora, inteligente e criativa. É necessário que a sociedade civil veja nesses “avanços” parte de um conjunto comprometedor do pensamento crítico, pluralista, integracionista.

E os ataques ao bom senso educacional estabelecido são progressivos. A tal ponto chegamos que o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, teve coragem de defender publicamente uma política de exclusão do convívio comum pessoas com deficiência que, segundo ele “atrapalham entre aspas” os demais estudantes. Como tem se tornado vezeiro no atual governo, depois de agressões bárbaras como esta, pede-se desculpas como se elas interrompessem avanços calamitosos como os que se formulam como política ministerial.

Não se trata apenas de impulso reformador do ensino. Ao ver a multiplicação planejada dessas escolas, é importante ter em vista que estamos falando de educação de jovens de baixa renda, aliciados em seus bairros e que, iludidos pela cantilena fácil de uma educação de qualidade e em ambiente sem violência, emprestam seus corpos e mentes a um programa que os limita em que de essencial a educação pode promover: capacidade crítica e criatividade.

Desmerecendo a estrutura que temos estabelecida, em vez de corrigir distorções gerais e favorecer melhoria de infraestrutura e capacitação de professores, as novas investidas acentuam falhas existentes e impõem, sob pretexto de clamor comunitário, alternativa que, sem disfarces, automatizam segmentos pobres e grupos vulneráveis, contingentes sem discernimento do processo educacional livre, plural e aberto a todos.

Sobretudo, sob a capa ilusória de formação de uma elite ordeira e bem formada, exercita-se o verbo excluir, levando ao limite da exclusão os “incapacitados” e mesmo alunos com dificuldades de aprendizado. E o próprio ministro usou a expressão “combate ao inclusivismo”, ou seja, isolamento de pessoas com dificuldades. Nesses postos de preparação para diferenciar cidadãos, não há lugar para pessoas com deficiências de qualquer tipo e que, por sua vez, deviriam ser colocados em qualquer outra escola ou “guetizados” em espaços especiais. Mas há mais a ser comentado.

Como se o Brasil não fosse um caudal racial - como se nossos jovens partissem do mesmo lugar social e tivessem oportunidades semelhantes, sem marcas étnico-raciais, personalidade comunitária - seres selecionados, os escolhidos devem se submeter ao crivo de uma “igualdade imposta”, que anula a personalidade e marcas singulares. E tudo deve ostentar neutralidade derivada de regras que ordenam, por exemplo, o mesmo corte de cabelos, o uso compulsório de uniformes (usa-se inclusive o termo “enfardamento”), proibição de tatuagens expostas. Nesta lógica, é regulamentada a “ordem unida”, cultivados hinos e práticas de cumprimento e saudações. Tais comandos são outorgados como condutas sujeitas a penalidades – inclusive de transferências. E nada de crítica ou descoberta de talentos pessoais. Pelo contrário, o que se propõe é a disciplina indiscutível dos corpos e a obediência contratual, assinada pelos pais no ato da matrícula. Tudo submisso a um “manual de conduta”.

Inscritas num contexto de depreciação da ciência e da cultura, de negacionismo explícito e atrasado, estas escolas mais visam formatar mentes do que promover conhecimento criativo e discussão de valores. É logico que a dotação de 1 milhão de reais para cada unidade instalada é vista com bons olhos por todos diretamente interessados. O problema é que a origem desse dinheiro – que sai dos cofres públicos – tem destinação exclusiva. E também, a presença de militares reformados, dotados de salários complementares, é condenável em nome do contingente de técnicos da área da educação, gente subempregada.

A pergunta que não pode ficar silenciada questiona: e os outros? E os diferentes? E exatamente os que precisam de mais atenção? Serão estes impelidos a sair de seu meio? Será que não é chegada a hora de promover mais a educação integral, inclusiva, que atenda a todos? Não bastam os colégios militares já existentes?

Pois é, um país que produziu alguém como Paulo Freire, modelo mundial de educador digno e respeitado, tem agora um bando de elitistas despreparados para o futuro e assim, a passos largos caminhamos para o futuro menos inclusivo para a cidadania plena e mais exclusivo para sujeitos automatizados. Por fim, como conter a indignação ao ouvir do Ministro da Educação que a “universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade”. Pode?...

terça-feira, 26 de outubro de 2021

TELINHA QUENTE 369

MINISSÉRIE CARA A CARA - HBO MAX
Conforme as evidências começam a indicar homicídio, um furioso e devastado Bjørn traça o último dia da vida de sua filha, saindo em uma turbulenta jornada que desvelará uma rede de verdades, mentiras e atos criminosos, e o levará a um duro confronto com a verdade inevitável do motivo da morte de sua filha.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

CAIXA DE MÚSICA 476

Roberto Rillo Bíscaro

Quarenta anos após o álbum de estreia, os britânicos do Duran Duran recusam-se a virar peça de museu e provam que é possível envelhecer, manter seus traços característicos e, ainda assim, se abrir para o novo.

sábado, 23 de outubro de 2021

LITERARIZANDO O NANISMO

Nanismo é o tema da nova obra de literatura infantil inclusiva de Celina Bezerra
O pequeno grande Tião, o menino com nanismo integra a série Amigos Especiais da Editora InVerso


Viver diferente do padrão é para os grandes. Em uma sociedade que ainda precisa avançar muito nos quesitos inclusão e respeito à diversidade, quem nasce com nanismo ou alguma outra condição que compromete o crescimento tem que aprender desde cedo a se enxergar além dos olhares curiosos e chacotas. O pequeno Tião, protagonista do mais novo livro de literatura inclusiva de Celina Bezerra, aprendeu rápido a lição.



Foto: Ana Ribas

“Gosto de, através das minhas histórias, quebrar paradigmas e contribuir para que as pessoas olhem, não para as deficiências, mas sim para as potencialidades do outro”, explica a autora convidando para o lançamento da obra, que acontece no próximo dia 23 de outubro, às 11 horas, no canal do Youtube da Editora InVerso.

O pequeno grande Tião, o menino com nanismo integra a série Amigos Especiais da Editora InVerso e tem ilustrações assinadas por Kitty Yoshioka. A baixa estatura não comprometia a felicidade de Tião, que vivia em uma cidade do interior com sua família. As peraltices eram as mesmas de toda criança, com a vantagem de que ele podia se esconder nos lugares mais inusitados onde mais ninguém cabia.

Nada o impedia de fazer o que queria. Em casa, seus pais adaptaram sua cama, os móveis, a pia e até o vaso do banheiro. Todos adoravam o pequeno amigo de coração enorme. Ninguém o tratava diferente por conta da sua altura.

Tião não sabia o que era Bullying até que precisou se mudar com a família para uma outra cidade, onde foi recepcionado por olhares curiosos, gargalhadas e até piadas. “Por ter sido criado em uma comunidade que o aceitava, Tião conseguiu enfrentar a situação. Se não fosse seguro de si, poderia se fechar para o mundo como acontece com muita gente”, avalia a autora.

Formada em Letras e pós-graduada em Educação Inclusiva e em Educação da infância com Ludicidade, Celina tem se destacado na cena literária pela escrita necessária dedicada às temáticas da diversidade e inclusão.

Tião, Bruna, Sabrina, Charles... Personagens até bem pouco tempo invisíveis na literatura infantil, protagonizam histórias de inclusão que brotam do imaginário da escritora Celina Bezerra. O livro de estreia foi Bruna, uma amiga Down mais que especial, lançado em 2017. Dois anos depois, Sabrina, a menina albina ganhava os holofotes. Em 2021, Charles, a estrela autista chegava ao mercado.

“Tenho 12 temáticas listadas para escrever. Estou lançando a quarta. Ainda pretendo lançar livros com personagens que representem crianças com deficiência auditiva, visual, paralisia cerebral”, lista a autora que já está finalizando a próxima obra que abordará a alopecia areata, uma doença autoimune que também pode estar ligada à genética, que causa a queda total ou parcial de pelos e cabelos. “A personagem não tem sobrancelhas, pelos, cílios. Também não tem livros, ainda”, conclui Bezerra.

Sobre a autora:

Educadora e escritora, Celina Bezerra é carioca mas mora na Bahia há mais de duas décadas. A inclusão é sua marca no universo literário infantil. Bruna, uma amiga Down mais que especial, Sabrina, a menina albina e Charles, a estrela autista são livros já lançados pela série Amigos Especiais, da Editora InVerso. Palestrante e idealizadora do curso Cultura e Literatura Infantil em uma Perspectiva Inclusiva, Celina Bezerra destaca a importância da representatividade. “A criança deve aprender a conviver com a diversidade, desde muito pequena. Quando ela aprende que o mundo é diverso, ela compreende o valor do respeito e, ao crescer, não praticará Bullying. Entenderá que zombar de um amigo por suas características individuais específicas não é engraçado e pode causar sofrimento. Com essa compreensão, a criança crescerá com o valor da inclusão”.

Serviço:
O quê? Livro “O pequeno grande Tião, o menino com nanismo”
Quem? Autora Celina Bezerra com ilustrações de Kitty Yoshioka
Quando? Lançamento dia 23 de outubro de 2021, sábado, às 11 horas
Onde? No Facebook (www.facebook.com/editorainverso) e Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCYt-xbPvUGyMS37MIB22omA) da Editora Inverso
Como? Evento gratuito
Quanto? Os livros podem ser adquiridos por R$ 42,00 no site da editora (www.editorainverso.com.br).

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

PAPIRO VIRTUAL 197

Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor e editor brasileiro. "O Sítio do Pica-pau Amarelo" é sua obra de maior destaque na literatura infantil. Criou a "Editora Monteiro Lobato" e mais tarde a "Companhia Editora Nacional". Foi um dos primeiros autores de literatura infantil de nosso país e de toda América Latina.

Ao lado da literatura infantil, Monteiro Lobato também deixou extensa obra voltada para o público adulto. Retratou os vilarejos decadentes e a população do Vale do Paraíba, quando da crise do café. Situa-se entre os autores do Pré-Modernismo, período que precedeu a Semana de Arte Moderna.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

EXPERIÊNCIA MATERNA

 Mãe fala sobre a experiência de ter duas filhas com albinismo: "Elas precisavam passar por essa juntas"


A rotina que a australiana Hailey Brown tem hoje é totalmente diferente do que planejava anos atrás. Ela sempre sonhou em ser mãe, mas não imaginava que isso aconteceria tão cedo e nem que a experiência viesse acompanhada de tantos desafios: ela teve a primeira filha aos 17 anos e, dias depois, recebeu a notícia de que a bebê tinha albinismo, baixa visão e precisaria de terapias especiais durante toda a vida. 

Na sequência, engravidou mais duas vezes e descobriu que a caçula também tinha o mesmo diagnóstico da primogênita. Em depoimento ao site Love What Matters, Hailey contou como é a rotina em casa com as três crianças. "Eu nunca me imaginei sendo mãe de crianças com necessidades especiais e tendo minha vida girando em torno de terapias e consultas especializadas. Essa é a loucura da vida, eu acho. Você nunca sabe o que esperar e realmente precisa deixar a maré levar", disse. 

Reagan, 7, ao lado das irmãs Arliyah, 9, e Mackenzie, 5 (Foto: Reprodução/Love What Matters/Vicki Miller)

Reagan, 7 anos, ao lado das irmãs Arliyah, 9, e Mackenzie, 5 (Foto: Reprodução/Love What Matters/Vicki Miller)

Confira o depoimento dessa mãe, que compartilha um pouco do dia a dia com os três filhos no perfil @snowwhite_sisters, no Instagram:

“Meu agora marido, Chayd, e eu começamos a namorar no Ensino Médio. Éramos jovens, apaixonados e prontos para começar nossas vidas juntos depois da formatura do colégio. Em janeiro de 2012, fomos viajar e comecei a ter umas sensações estranhas de que talvez pudesse estar grávida. Minha menstruação estava atrasada e não estava me sentindo bem, então a ideia realmente passou pela minha cabeça. Mas eu tinha só 17 anos, estava com medo e guardei esses sentimentos para mim mesma até chegar em casa e fazer um teste de gravidez. Eu estava certa. Eu estava, de fato, grávida. 

Fomos ao médico. Fizemos mais um teste de gravidez e o médico nos parabenizou depois de ver o resultado. Quando Chayd e eu voltamos para o carro, eu disse: 'Você acredita que o médico acabou de parabenizar duas crianças de 17 anos por estarem grávidas?'. Nós dois ainda estávamos em choque e realmente não sabíamos o que fazer a partir daí, mas concordamos que não contaríamos a ninguém até que ambos nos sentíssemos prontos. Com mais ou menos 12 semanas de gravidez, contamos à família e amigos. Chayd conseguiu um emprego em tempo integral, enquanto eu trabalhava meio período.

Na noite de 27 de agosto de 2012, quando eu estava grávida de 35 semanas, minha bolsa estourou e tive de ir para o hospital dar à luz. Oito horas depois, às 7:52 da manhã, nossa garotinha, Arliyah, nasceu com apenas 2,2 kg. O amor que eu senti instantaneamente por ela era indescritível. Eu a segurei em meus braços, olhando para suas mechas de cabelos brancos e pensei comigo mesma: 'Ela é como o pai dela'.

Chayd e eu tínhamos cabelos superloiros quando éramos crianças, então não foi um choque para mim ver como o cabelo da Arliyah era branco. Quando todos os médicos e enfermeiros começaram a entrar para examiná-la, comecei a entrar em pânico, pensando que teriam que levá-la para a UTI neonatal. Eles nos deixaram segurá-la por algum tempo e depois tiveram que levá-la embora. Aquele momento era, naquela época, a coisa mais difícil que eu tinha que fazer. Mal sabia eu que era apenas o começo da nossa jornada.

Arliyah logo depois de nascer (Foto: Reprodução/Love What Matters)

Arliyah logo depois de nascer (Foto: Reprodução/Love What Matters)

Alguns dias se passaram. Chayd tinha voltado ao trabalho, então minha mãe e eu ficamos indo e vindo até a UTI neonatal. Um dia, eu fui para amamentá-la quando uma enfermeira entrou e se sentou ao meu lado. Ela me perguntou se eu já tinha ouvido falar sobre albinismo. Eu respondi fazendo graça: 'Todo mundo na escola costumava brincar que eu e Chayd éramos tão loiros que teríamos um bebê albino'. Ela pegou a minha mão e disse: 'Acho que seu bebê pode ser albino. Queremos colocar uma proteção acima do berço dela, porque achamaos que as luzes estão machucando os seus olhos'.

Eu estava tão exausta, que realmente não fiquei pensando muito naquilo. Fui para casa naquela noite e contei aos meus pais e Chayd o que a enfermeira havia dito sobre Arliyah. Imediatamente, todos eles foram pesquisar no Google sobre albinismo. Lembro de chorar e gritar com eles para pararem porque meu bebê estava bem, não havia nada de errado com ela e eu não queria ouvir nada sobre esse assunto porque não era o caso dela. 

No dia seguinte, minha mãe foi ao hospital comigo e o oftalmologista nos encontrou. Eu sabia que algo estava errado pela maneira como ele olhou para mim. Ele disse: 'Sinto muito por te dizer isso, Hailey, mas sua garotinha é cega. Ela é albina. Ela não pode sair ao sol. Você precisa entrar em contato com especialistas e talvez se mudar para algum lugar não tão quente'. E então ele saiu. Eu caí na cadeira, segurando minha filha e chorando. Naquela tarde, deixamos a UTI sabendo muito pouco sobre sua condição. 

Hailey e a filha Arliyah (Foto: Reprodução/Love What Matters)

Hailey e a filha Arliyah (Foto: Reprodução/Love What Matters)

Naquela noite, Chayd e meu pai começaram a pesquisar tudo o que podiam sobre albinismo. Mas eu estava em completa negação e só queria que ela estivesse em casa. Lembro de pensar: 'Vai ficar tudo bem. Vou educá-la em casa e escondê-la do mundo'. Doze dias depois que nasceu, nossa filha voltou para casa. Família e amigos queriam vê-la, mas eu recusei. Eu não queria ninguém segurando minha bebê. Eu precisava fazer isso sozinha.

Arliyah era um bebê difícil. Ela chorou 24 horas por dia, 7 dias por semana, quase nunca bebeu leite e nunca dormiu. Os dias eram longos e as noites mais longas ainda. Eu praticamente parei todo contato com o mundo exterior, perdi muitas amizades e irritei minha família. Eu não queria ninguém perto da minha menina. Quando finalmente decidi que era hora, saí para fazer compras com uma amiga. Eu não tinha contado a ela sobre o diagnóstico de Arliyah. Arliyah estava deitada no carrinho de bebê e havia luzes acima de sua cabeça, o que fez com que seus olhos parecessem rosa. Minha amiga gritou: 'Meu Deus, o que há de errado com os olhos dela?'. Meu coração se despedaçou imediatamente. Eu cobri o carrinho e rapidamente disse: 'Nada, deve ser apenas as luzes'. Esse foi o dia em que a ficha caiu e percebi que agora eu era mãe de uma criança com necessidades especiais. Eu precisava fazer tudo o que podia para garantir que ela tivesse a melhor chance de vida.

Os primeiros 12 meses foram um turbilhão. Houve dias em que tudo o que eu fazia era chorar e pensar: 'Por que eu? Por que ela?’. Depois, houve dias em que eu não fazia nada além de sorrir de orelha a orelha e agradecer por ter sido abençoada com essa preciosa garotinha. Onde quer que fôssemos, as pessoas faziam comentários sobre se o cabelo dela era natural, quem era o pai e, no geral, queriam tocá-la e segurá-la. Eu voltava para casa chorando, com raiva do mundo. Meu pai me deu um conselho difícil e me disse: 'Hailey, ela vai ter isso pelo resto da vida. Você tem que encontrar uma maneira de aceitar e lidar com os comentários.' Ele estava certo. Eu tive que encontrar uma maneira de lidar com isso.

Hailey Brown, ao lado do marido Chayd e da filha Arliyah (Foto: Reprodução/Love What Matters)

Hailey Brown ao lado do marido Chayd e da filha Arliyah (Foto: Reprodução/Love What Matters)

Falar com outras famílias que passaram pelas mesmas coisas foi, de longe, a coisa mais útil de todas. Ouvir suas histórias de quão bem seus filhos estão me deu muita esperança. Fomos a um acampamento onde encontramos outras famílias com crianças com deficiência visual e aprendemos sobre como os cães-guia poderiam nos ajudar. Arliyah tinha pouco mais de 12 meses e o acampamento me abriu os olhos. Conheci algumas crianças mais velhas que tinham deficiências visuais e eram como qualquer criança normal. Fez toda a diferença do mundo ver como eles eram saudáveis e felizes.

Quando Arliyah tinha 18 meses, Chayd e eu engravidamos do nosso segundo filho. Durante toda a gravidez, eu sabia que ele não teria albinismo. Eu sei que parece estranho, mas tinha essa intuição e estava certa. Nosso filho nasceu em 14 de agosto de 2014, pesando 3,2 kg. Quando ele nasceu, me lembro de olhar para o cabelo dele e saber imediatamente que ele não tinha albinismo. Reagan era um bebê relativamente fácil e os dois rapidamente se tornaram inseparáveis.

Eu sempre quis uma família grande e, depois de dois filhos, eu não parei. Logo, estávamos esperando o nosso terceiro filho. Como Chayd e eu carregamos o gene para albinismo, qualquer criança que tivéssemos juntos sempre teria 25% de chance de ser albina. Durante toda a gravidez, eu sentia que a bebê teria albinismo. Eu ficava dizendo para mim mesma: 'Se ela tem albinismo, então ela e Arliyah precisavam passar por isso juntas'.

Arliyah ao lado do irmão Reagan (Foto: Reprodução/Love What Matters)

Arliyah ao lado do irmão Reagan (Foto: Reprodução/Love What Matters)

Mackenzie nasceu em 10 de setembro de 2016, pesando 3,5 kg e com cabelos brancos! As enfermeiras ficaram muito apaixonadas por ela. Depois de Arliyah, não foi tão assustador na segunda vez.Trazer Mackenzie para casa foi incrível e as crianças a adoravam. Arliyah estava se sentindo nas nuvens por ter uma irmãzinha com albinismo e Reagan estava animado para ser o irmão mais velho

A vida ficou mais agitada com duas crianças precisando de consultas e terapias, mas eu consegui. Enquanto isso, Reagan estava tendo dificuldades com algumas coisas e precisava de terapia da fala, então adicionar isso à lista foi complicado. Ao longo de nossa jornada, eu realmente fui apresentada a um mundo totalmente novo. Às vezes imagino como teria sido minha vida se as meninas não tivessem albinismo. Quando você tem um bebê, nunca imagina a possibilidade de haver algo 'errado' com eles, então, quando você recebe um diagnóstico, sempre carregará esse pouco de tristeza pelo que perdeu. Eu sei que não há como eu ser a pessoa ou mãe que sou hoje se nossa jornada não tivesse sido do jeito que é. Eu realmente sou grata por isso, porque realmente abriu meus olhos para um mundo novo. Em suma, as garotas são saudáveis e felizes e eu não poderia pedir mais nada.

As duas irmãs foram diagnosticadas com albinismo e o irmão está fazendo investigação para diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) (Foto: Reprodução/Love What Matters)

As duas irmãs foram diagnosticadas com albinismo e o irmão está fazendo investigação para diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) (Foto: Reprodução/Love What Matters)

Reagan está atualmente aguardando um diagnóstico de autismo, Mackenzie começa o jardim de infância no próximo ano e Arliyah irá para o 3º ano. Nossa jornada está longe de terminar. Eu sei que ainda haverá obstáculos. Eu nunca me imaginei sendo mãe de crianças com necessidades especiais e tendo minha vida girando em torno de terapias e consultas especializadas. Essa é a loucura da vida, eu acho. Você nunca sabe o que esperar e realmente precisa deixar a maré levar. Se eu pudesse compartilhar um conselho, seria conhecimento é poder. Nunca se esqueça disso.”

https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2021/10/mae-fala-sobre-experiencia-de-ter-duas-filhas-com-albinismo-elas-precisavam-passar-por-essa-juntas.html

TELONA QUENTE 380


Crítica do filme Isolados (HBO Max)

A jovem Linda acha-se em um jogo de vida ou morte em uma ilha isolada por uma tempestade. Ela precisa fazer uma autópsia para encontrar pistas escondidas em um cadáver e ajudar o legista Paul Herzfeld a encontrar sua filha desaparecida.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

CONTANDO A VIDA 362

AINDA SOBRE O 11 DE SETEMBRO: COINCIDÊNCIAS?

José Carlos Sebe Bom Meihy

para Edmauro Santos e Rubem Figgot

Não me recordo passar uma semana sem escrever pelo menos uma crônica. Para ser sincero, dia sem historiar um caso, preencher página de diário, mandar um bilhete que seja, é como se me faltasse algo essencial, tipo ar. Isso é paradoxal, pois há quem contabilize tais práticas nas parcelas de tarefas penosas, defeitos, vícios, ou pelo menos mania.

Curiosamente, às vezes encontro alguma coisa relativa à dificuldade que muitos têm em achar assunto. Definitivamente, não é meu caso. Sempre me sobram temas, e não raro até estabeleço disputa. Mal termino uma crônica e já desponta a vontade de definir a próxima. Listo possíveis conversas e vou guardando a chance de dar-lhes vida. Agora mesmo, quando me preparava para redigir esta, dei uma olhada no que tinha em estoque e notei a fartura de eventos deste setembro de 2021: dia da Amazônia, da Pátria, da Alfabetização, da Árvore, a chegada da primaveral, nossa!... Vejam os natalícios: 75 anos Freddy Mercury (dia 5), Jimmy Hendrix, 100 anos (dia 16), Dom Paulo Evaristo Arns, Zé Keti, Paulo Freire (dia 19). Isso sem tanger o rol de profissões, tipo dia da: Educação Física, Biólogo, Administrador, Veterinário, Agrônomo, Engenheiro químico, Contador, Farmacêutico, Secretária. Cabe não deixar de fora uma data que me é especial: dia dos Cardíacos, 24.

Dentre tantas opções, vaguei lugar especial ao famigerado 11 de setembro. Confesso que antes de assumi-lo filtrei comentário de um amigo que, logo no meio daquele dia, postou mensagem reclamando “estamos na manhã e as Torres já caíram umas 500 vezes”. Isto teria sido bastante para meu silêncio não acontecesse, imediatamente depois, eu receber, em outra rede, uma anotação de outro colega dizendo empolgado que acabara de ler meu livro “11 de setembro de 2001: a queda das Torres Gêmeas de Nova York”, publicado pela Companhia Editora Nacional, em 2005. Resolvi dar uma relida no texto e cheguei a uma passagem que ainda hoje me surpreende.

O capítulo chamado “11 de setembro como fatalidade” é aberto com um aspecto perturbador, ligando aquela tragédia ao significado do número 11. E assim declinava sinalizações depuradas por cabalistas, astrólogos, numerólogos, ocultistas, maçons, e entre outras, de 42 “coincidências”, destaquei algumas:

A data do ataque foi 09/11 corresponde à soma de 9 + 1 + 1 = 11

Nos Estados Unidos o número de socorro telefônico é 911

11 de setembro é o 254º dia do ano e 2 + 5 + 4 = 11

A indicação do vôo fatal que atingiu a primeira Torre era AA11: A = 1, A = 1, AA 11

O líder do ataque do vôo AA11, Mohamed Atta, tem 11 letras em seu nome

O vôo AA11 tinha 92 pessoas abordo e 9 + 2 = 11

O vôo AA11 tinha 11 tripulantes, sendo 2 pilotos e 9 atendentes;

O alvo do AA11 era New York City que tem 11 letras

O nome dos dois prédios tingido era World Trade Center Towers que tem 22 letras

As torres gêmeas, lado a lado, representam o número 11

Morreram no ataque 11 bombeiros

Os escombros das torres destruídas corresponderam a 11 andares cada

O voo que atingiu o Pentágono foi o UA 77 e 11 X 7 = 77

O vôo UA77 tinha 65 passageiros a bordo, e 6 + 5 = 11

Maomé, o profeta do Islamismo morreu em 632, sendo que 6 + 3 + 2 = 11

O Manual da Jihad Islâmica possui 11 volumes

119 é o código de área do Iraque e 1 + 1 + 9 = 11

O presidente dos EUA à ocasião era George W. Bush que tem 11 letras

O número de George W. Bush na Força Aérea é 29000, ou seja 2+9+0+0+0 = 11.

Confesso que depois de escrita a crônica, pensei em descartá-la, mas relendo achei melhor pedir 11 desculpas ao amigo esgotado com o assunto. Agradeço 11 vezes o leitor que promoveu mais esta aventura. E me pergunto por que meu livro tem 11 capítulos?

terça-feira, 19 de outubro de 2021

TELINHA QUENTE 368

Crítica da segunda temporada de Por Que as Mulheres Matam (Globoplay)


Alma Ficcot é uma dona de casa da década de 1940 que sonha em participar do Clube de Jardinagem de Los Angeles, porém o lugar, comandado pela esnobe Rita é extremamente elitista e poucas têm chance de entrar. Mas, quando um dos membros acaba morrendo tragicamente, ela vê uma oportunidade surgindo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

CAIXA DE MÚSICA 475

Roberto Rillo Bíscaro

Elogiado por gente como Elton John e Paul Weller, o quarteto The Lathums lançou seu guitar pop em primeiro álbum, que não esconde suas raízes nos Smiths e Housemartins.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

PAPIRO VIRTUAL 196

Luís Carlos Martins Pena foi dramaturgo, diplomata e introdutor da comédia de costumes no Brasil, tendo sido considerado o Molière brasileiro. Sua obra caracterizou pioneiramente, com ironia e humor, as graças e desventuras da sociedade brasileira e de suas instituições.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

TELONA QUENTE 379


FILME DANO COLATERAL (NETFLIX)
Perto de ser promovido, um inspetor de polícia se envolve em um acidente fatal e descobre um plano de vingança que ameaça seus colegas de trabalho.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

CONTANDO A VIDA 361

 OUTUBRO ROSA: AS CORES DO ANO.


José Carlos Sebe Bom Meihy

Fiquei curioso. De maneira sutil, aos poucos aquelas fitinhas dobradas de maneira a imitar um laço mal terminado e com as pontas voltadas para baixo foram marcando minha percepção. E comecei a prestar atenção nas cores que variam de mês a mês. Intrigado, busquei informações e encontrei algumas curiosidades. As tais fitinhas que hoje emblemam campanhas, nasceram das homenagens aos retornados da Guerra do Golfo (agosto de 1990 – fevereiro de 1991). No desembarque nos portos norte-americanos, eles portavam uma fita amarela no braço direito. A simpática homenagem foi retomada por ocasião do esforço contra estigmas de pessoas contagiadas com o vírus da aids. Corria o ano de 1991 e a empesa Visual Aids iniciava campanha de sucesso mundial. Há várias versões sobre a continuidade dessa prática, algumas bem sugestivas.

Os profissionais empenhados na proposta antiaids desenvolveram relatórios explicativos que continham justificativas merecedoras de atenção. O vermelho, por exemplo, remetia à representação tanto do sangue como da paixão. O apoio de celebridades e políticos logo popularizou a proposta, que passou a compor cenários de premiações artísticas, escolares e esportivas. Em Nova York, a suntuosa igreja Saint John the Divine, o maior templo anglicano do mundo, assumiu o símbolo do laço vermelho em seu interior e isto valeu como licença para a discussão da aids além das consequências físicas. Estava dada a largada para o debate também sobre outras moléstias ou males.

Na história das campanhas publicitárias, os laços ocupam lugar especial, pois não se remetem apenas aos aspectos do marketing comercial. O propósito de conscientização enterneceu o mundo todo, atravessando diferentes culturas, mantendo a proposta de sensibilização social. Além do aspecto humanitário, essas campanhas têm sido usadas também para arrecadar fundos para pesquisas, e foi exatamente esta tendência que facilitou a organização de cores. Destinadas à orientação de debates gerais, cada mês do ano ganhou uma referenciação que, em alguns casos, se desdobram em duas ou mais propostas. Ainda que não haja unanimidade, assim as campanhas podem ser consideradas:

JANEIRO BRANCO: remete aos cuidados com a saúde mental.

FEVEREIRO tem dupla coloração, o roxo remete à crescente onda do Alzheimer e na versão laranja inscreve campanhas sobre a leucemia.

MARÇO LILÁS: destinado à prevenção de cânceres, tanto o de colo do útero como o combate ao câncer colorretal.

ABRIL AZUL, os laços claros se prontificam às representações em favor de esclarecimentos sobre o autismo.

MAIO: a cor encarnada serve para debater males da hepatite.

JUNHO VERMELHO: mês ligado à doação de sangue.

JULHO AMARELO: tom claro, indicativo do combate ao câncer ósseo.

AGOSTO duplica as cores, o alaranjado destinado à esclerose múltipla e o DOURADO para o aleitamento materno.

SETEMBRO AMARELO FORTE: remete à prevenção do suicídio.

OUTUBRO ROSA: vale para o alerta ao câncer de mana.

NOVEMBRO AZUL FORTE: para chamar a atenção para o câncer de próstata.

DEZEMBRO duplica as cores, sendo o VERMELHO relativo ao combate à aids e o LARANJA contra o câncer de pele.

Pois é, estamos em outubro, alinhando o final do ano. O mês número 10 carrega também a homenagem ao dia em que os europeus chegaram à América, à Padroeira do Brasil e aos professores. O destaque sugerido pela área da saúde, contudo, recomenda cuidados especiais com o câncer de mama e isto demanda atenção. De maneira provocante acho que o mote do laço rosa merece mais do que se tem visto. Falar deste câncer amplia responsabilidades por remeter também a outro destaque do mês: a saúde mental comemorada no dia 10. A consideração do combate ao câncer de mana no dia da reverência à saúde mental duplica deveres. Consideremos ambas.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

TELINHA QUENTE 367



Um jogador sem rumo e seus dois amigos se encontram em uma Tóquio paralela, onde são forçados a competir em uma série de jogos sádicos para sobreviver.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

CAIXA DE MÚSICA 474


Roberto Rillo Bíscaro

Com mais de meio século de história e estrada, a banda de rock progressivo britânica Yes volta com seu vigésimo-segundo álbum de estúdio. The Quest foi produzido por Steve Howe, guitarrista que soube muito bem preservar o som característico do grupo, caro para os fãs de longa data.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

TELONA QUENTE 378

Após os ataques de 11 de setembro, um advogado enfrenta uma batalha ferrenha para criar um fundo de compensação pelas vidas perdidas. Baseado em fatos reais.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

A MAIOR FAMÍLIA ALBINA DO MUNDO?


Conheça o que pode ser a maior família de albinos do mundo


Um clã britânico afirma ser a maior família de albinos do mundo. Os Parvez têm atualmente 15 membros da família com esta doença genética rara.

Eles estão esperando a confirmação para estabelecer um novo recorde mundial do Guinness

Aslan e sua esposa são originalmente do Paquistão. Os dois são albinos, como os irmãos, sobrinhos e sobrinhas de Aslan. Eles tiveram casamento arranjado devido a cor de sua pele, e acabaram tendo seis filhos.

Estranhamente, nenhum deles herdou o albinismo da família. A “nova geração” dos Parverz é diferente. Os seis têm todos um tom da pele totalmente diferente dos mais velhos da familia.

A família Parvez diz ter sido vítima de abusos físicos e raciais terríveis, mas dizem ter orgulho de sua identidade e que a doença genética só os uniu ainda mais. Dezessete membros nasceram com albinismo, mas dois deles já faleceram. Eles aguardam a confirmação do Guiness, o livro dos recordes.

Acesse o link abaixo para ver um vídeo sobre a família.

CONTANDO A VIDA 360

ANO PASSADO EU MORRI, MAS, ESTE ANO EU NÁ MORRO.


José Carlos Sebe Bom Meihy


De repente, me peguei inquieto com uma canção que martelava em minha cabeça. Aliás, era o refrão, que se repetia de maneira perturbadora. Como já passei por isto antes, aprendi que o melhor a fazer nessas situações é percorrer uma avenida de duas mãos. Na primeira via, convém dar uma pesquisada bem completa na música: autoria, intérpretes, ano de gravação do álbum, recepção pública, tudo com destaque à letra e à melodia. Acontece muitas vezes que a simples pesquisa esclarece, não se fazendo sequer necessário transitar na via oposta. Como isso não é tão comum, depois da ida convém retraçar o caminho da volta, e, assim, resta decompor a canção percorrendo detalhes, frases, ditos e não-ditos, sugestões complicadoras das mensagens. E nessa rota, cabe pensar qual trecho da canção acionou o mecanismo da lembrança insistente.

Dizem os especialistas que essas ocorrências atendem por um nome simpático “impulso de memória espontânea”, e as melhores explicações recomendam que se preste atenção no detalhe da mensagem emitida psicologicamente e analisar seu diálogo com problemas que não conseguimos enunciar. Sim, esses sinais mnemônicos são alertas para problemas não resolvidos e que demandam cuidados. Nada é bobagem.

Pois bem, foi assim que me vi ecoando uma passagem da canção “Sujeito de sorte”, do cearense Belchior. Deu saudade desde logo, tanta que que cheguei a ouvir aquela voz estranha, entre grossa e metálica, com acento estranho que traz a figura do bigodudo de vida melancólica. O álbum “Alucinação”, gravado em 1973, sucesso relativo à época, se fez novo recentemente com o show e filme “Amarelo”, ou “Amar-elo”, do rapper Emecida. E então justificou-se a popularidade enigmática do refrão “ano passado eu morri/ mas este ano eu não morro”. É claro que o simples dizer é convite para o resto do poema “Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte/ Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte/ E tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado/ E assim já não posso sofrer no ano passado/ Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro/ Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”. Os versos são longos, trançando fortes imagens, palavras duras, perdidas na suavidade traiçoeira dos arranjos. Nossa!... A canção não me dava paz.

Depois de buscar algumas gravações, depois de “ouvir lendo” os versos singulares, encontrei uma passagem que me pegou de jeito “Sem o torro, nossa vida não vale a de um cachorro, triste/ Hoje cedo não era um hit, era um pedido de socorro/ Mano, rancor é igual tumor envenena raiz/ Onde a plateia só deseja ser feliz/ Com uma presença aérea/ Onde a última tendência é depressão com aparência de férias/ Vovó diz, odiar o diabo é mó boi, difícil é viver no inferno/ E vem a tona” arremata como o fatal “tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro/ Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”. Diria que esta música situa-se no hinário dos desencantos recicláveis, pois tem um final arrebatador que nos redime na esperança “Aí, maloqueiro, aí, maloqueira/ Levanta essa cabeça/ Enxuga essas lágrimas, certo?/ Respira fundo e volta pro ringue/ 'Cê vai sair dessa prisão’/ Cê vai atrás desse diploma/ Com a fúria da beleza do Sol, entendeu?/ Faz isso por nóis, faz essa por nóis/ Te vejo no pódio/ Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”.

Nossa, nossa, nossa! Foi tão mecânico “presentificar” a mensagem que logo entendi por que meu inconsciente insiste na repetição espontânea da letra que arde em minha cabeça de utopista incansável. Tudo isso mexe demais comigo. Demais. Os desatinos expressos pelo nervosismo político que vivemos convocam minha memória dos dias amargos da abertura da ditadura civil militar e promovem diálogo entre o absurdo e a esperança. E que, outra vez, vença o bom senso reencarnado pela ressureição da democracia. Teremos eleições com urnas eletrônicas e então será fácil gritar em coro: “ano passado eu morri, mas este ano eu não morro”.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

TELINHA QUENTE 366

 Na minissérie dinamarquesa O Homem das Castanhas, um boneco feito com castanhas é encontrado na cena de um crime e leva dois detetives a caçar um assassino ligado ao desaparecimento de uma criança.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

CAIXA DE MÚSICA 473

Roberto Rillo Bíscaro

Mulher trans preta, Liniker decola em carreira-solo, num álbum luxuosamente coproduzido/composto por ela, com orquestra, Milton Nascimento e muita diversidade rítmica. Um dos trabalhos mais importantes da MPB de 2021.

domingo, 3 de outubro de 2021

JUSTIÇA NO MALAUI

Justiça malauiana condena moçambicanos encontrados na posse de ossos de albinos

A justiça do Maláui condenou a prisão perpétua três cidadãos moçambicanos encontrados na posse de ossos de uma pessoa com albinismo, informaram hoje as autoridades daquele país



Faruque Wilson, João Pirilane e Matias Assedine, todos oriundos da província da Zambézia, centro de Moçambique, foram condenados por um tribunal de Blantyre, capital eocnómica do Maláui, que entendeu que os três estavam envolvidos numa “caça a pessoas com albinismo”, segundo fonte citada pela rádio pública moçambicana.

Os condenados submeteram um pedido para o cumprimento da pena em Moçambique, embora não haja no país pena de prisão perpétua ou um acordo de extradição com o Maláui.

As pessoas com albinismo têm sido vítimas de perseguições, violência e discriminação devido a mitos e superstições, que incluem o uso de órgãos ou ossadas em rituais, sendo colocadas entre as que mais sofrem violações de direitos humanos.

Desde 2014, só em Moçambique, pelo menos 114 pessoas com albinismo desapareceram em circunstâncias não esclarecidas, segundo os últimos dados avançados à Lusa pela Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH).
https://visao.sapo.pt/atualidade/mundo/2021-09-30-justica-malauiana-condena-mocambicanos-encontrados-na-posse-de-ossos-de-albinos/

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

PAPIRO VIRTUAL 195

Augusto dos Anjos, o mais sombrio dos poetas brasileiros, foi também o mais original. Sua obra poética, composta por apenas um livro de poemas, não se encaixa em nenhuma escola literária, embora tenha sido influenciado por características do Naturalismo e do Simbolismo, a produção única de Augusto dos Anjos não pode ser enquadrada em nenhum desses movimentos. É por isso que classificamos o poeta juntamente aos seus contemporâneos do Pré-Modernismo.