quinta-feira, 14 de abril de 2022

TELONA QUENTE 398

Crítica do filme O Beco do Pesadelo + LIGAÇÃO COM MITOLOGIA GREGA E ALGUNS SÍMBOLOS (Star+)

O ambicioso vigarista Stanton Carlisle, que tem um talento para manipular pessoas, se une a uma clarividente e seu marido mentalista para enganar um perigoso magnata com a ajuda de uma misteriosa psiquiatra, que pode ser sua maior oponente.

quarta-feira, 13 de abril de 2022

CONTANDO A VIDA 388

AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE, AMÉM...

José Carlos Sebe Bom Meihy

Já fui criticado por falar muito sobre a morte, como se não fosse tema oportuno, palatável ou apropriado. Na realidade, independentemente de ler ou escrever sobre o assunto, sou fascinado pelo tal “adeus definitivo”. Nem interessa supor a morte em desdobramentos prováveis, tanto como fim categórico ou passagem para outra vida. De um ou de outro jeito, “fechar os olhos para sempre” implica acabamento, arremate, conclusão de uma fase que, segundo Fernando Pessoa, marca um tempo que justifica o sentido da experiência individual “se depois de eu morrer quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tenho só duas datas: a de minha nascença e a de minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus”. Simples assim.

Tanto para os que prezam ou não a morte como condição terminal, a dúvida desafiadora recai sobre dois pontos principais: o momento conclusivo e os possíveis desdobramentos: pó/cinzas ou reencarnação. Afinal, “o depois” haverá? Gostando ou não de tocar no assunto, respondam se não preside algo de arrebatador nessa meditação? Voltaremos? Quando? Como? Mesmo rezando pouco - simples “católico cultural” que sou - me vejo comovido a cada vez que recito o final da Ave Maria: agora e na hora de nossa morte, amém. Não é lindo?... Sabe, em comunidade, quando este trecho se anuncia, resvalo o olhar para as pessoas ao lado e sempre fico impressionado com a passividade rotineira que sequer permite nuançar a gravidade das palavras: agora e na hora de nossa morte, amém... Reencarnando ou não, com virtudes ou defeitos, morremos para esta vida. E isto é solene.

Pois é, houve um tempo em que a morte súbita me parecia o ideal. Então, meio encantado, admirava narrativas sobre pessoas que, assim do nada, “apagavam”. E coleciono casos de tipos que foram tirar uma soneca depois do almoço, ou na naturalidade da noite, e... Ou daquelas que assistindo um programa da TV, ouvindo um rádio, talvez uma romântica canção, e... Há notícias de fervorosos torcedores que morrem na euforia de um gol, ou pelo contrário, motivados pelo pesar de fracasso de seu time. Uma vez contaram de uma senhora que morreu na cadeira de dentista, confesso que achei prosaico demais. Tem os coléricos que, enfurecidos, morrem num acesso. Idem entusiastas do sexo; idem trabalhadores compulsivos; idem políticos ardentes... Ah, e convém falar dos que perdem a vida em acidentes terríveis e nos deixam perplexos e cativos de despedidas convenientes...

Fico enternecido com a narrativa de uma avó que prevendo um não amanhã separou a roupa, preparou tudo e depois do banho, vestiu-se e morreu arrumadinha, penteada, perfumada até. Sim, há algo de beleza mórbida nisso, mas é inegável a vocação de grande parte das pessoas para “morrer sem sentir”. Os argumentos, aliás, são irretocáveis: não quero sofrer dores, nem dar trabalho a outrem. Cristalino, né?!... E eu, juro, pensava assim, desse jeitinho. Arrazoava isso, mas de tanto idealizar acabei por expandir meus argumentos, e mudei. Mesmo aqueles que prezam outras existências têm que admitir a vida encarnada como etapa inevitável, com começo, meio e fim. Sendo isso verdade, a experiência vivencial faz parte da morte e essa consciência deve ser considerada em sua integridade.

Sim, é verdade que acabei por construir um falso silogismo filosófico, algo do tipo: se a morte faz parte da vida, a vida compreende a morte, então a morte contém a vida. E eu resolvi que devo vivenciar isso em sua plenitude. Afora a legitimidade de dar trabalho para os outros, os estágios terminais merecem ser experimentados conscientemente e com intensidade comunitária. Sendo isso uma condição natural, por que morrer sem dar aviso, sem se despedir, ir embora sem alarde? Sei sim que a morte é individual, mas vivemos em sociedade e queiramos ou não contagiamos a experiência dos próximos e “dar trabalho” deve ser maneira de se despedir, implicando responsabilidade, cuidado, zelo dos queridos. Sabe, fico tranquilo pensando nos olhares de comparsas que me veriam rezar a última Ave Maria, balbuciando cumplicemente aquelas palavras tantas vezes pronunciadas sem a devida atenção “agora e na hora de ‘minha’ morte, amém”.

terça-feira, 12 de abril de 2022

TELINHA QUENTE 388

Crítica da segunda temporada de Bridgerton (Netflix)
Oito irmãos inseparáveis buscam amor e felicidade na alta sociedade de Londres. Inspirada nos best-sellers de Julia Quinn.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

CAIXA DE MÚSICA 495

Autor de dois álbuns geniais na alvorada da década de 1970, em parceria com Ana Maria Bahiana, José Mauro foi dado como morto pela ditadura ou num acidente de carro, por anos, até que uma gravadora gringa ressuscitou seus trabalhos.

terça-feira, 5 de abril de 2022

TELINHA QUENTE 386

Crítica da minissérie Inventando Anna (Netflix)

Empreendedora audaciosa ou golpista? Uma jornalista conta a história de Anna Delvey, que convenceu a elite de Nova York de que era uma herdeira alemã.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

CAMPEÃ ALBINA

 Adiaratou Iglesias é albina. De óculos postos, só tem 20% de visão e não vê as linhas, nem a meta. Mas é o suficiente para ganhar medalhas

Quando põe os óculos, a atleta espanhola Adiaratou Iglesias fica com 20% de visão, o dobro do que acontece sem o auxílio das lentes. Sem ver as linhas da pista ou a meta, Adiaratou, que sofre de albinismo, é campeã paralímpica e europeia, tendo ainda vencido a prata nos últimos mundiais.

“É muito difícil explicar como vejo porque sempre vi desta forma. (…) Vejo as duas linhas laterais da pista nos primeiros três metros. A partir daí, não distingo as linhas e tenho de encontrar muitas referências no momento de chegar à meta”, contou Iglesias ao jornal “Marca”: “Uso coisas que são visíveis para mim: a cadeira dos árbitros ou uma luz intensa. Outras vezes, o treinador põe-se na meta e grita: ‘Adi, vamos, peito para fora, já!’”.

O Centro de Alto Rendimento (CAR) de Madrid é a sua nova casa desde que voltou dos Jogos Paralímpicos de Tóquio com duas medalhas na bagagem: ouro nos 100 metros; prata nos 400. Todos os troféus estão em casa da mãe, em Lugo. “Não há melhor sítio para guardá-las”, explica a sorridente Adi, que se mudou para a capital espanhola com o objetivo de estudar fisioterapia na famosa Escola da Organização Nacional dos Cegos de Espanha (ONCE).

Adiaratou nasceu e cresceu em Bmako, no Mali. Até aos 7 anos, quando viu pessoas a correr, na televisão de um vizinho, nunca imaginara vir a ser atleta. Ao ver as raparigas num anúncio de TV, pensou: “Quero fazer isto”. “Mas não pude praticar até ser adotada e vir viver para Lugo, com 14 anos”, explica a galega.

Em Madrid, nem tudo tem sido fácil. A família está longe, a atleta mudou de treinador e de grupo de treino, as distâncias são diferentes. No entanto, aquilo de que diz sentir mais falta é o treino que dava a um grupo de crianças, em Lugo. Atualmente, a visão limitada não é obstáculo para triunfar no atletismo, logo, Adi nem sequer a refere quando enumera os problemas.

“Não sei onde estão os meus limites, não quero colocá-los. Não sei o que sou capaz de fazer. A única coisa que sei é que ainda tenho muito para dar e gostaria de continuar a melhorar”, diz. Quanto aos motivos por que não podia praticar desporto no Mali, estes vão mais longe do que o facto de sofrer de albinismo: “Era impossível porque, mesmo hoje em dia, pensa-se que a mulher tem de estar em casa a cuidar dos filhos. Além disso, o desporto não está organizado como aqui [em Espanha]. Há poucas oportunidades e só para rapazes”.

Fora as questões já referidas, Adi não esconde que, nessa altura, a doença lhe limitava os movimentos. Nunca saía do seu bairro, andava sempre perto de casa para evitar os perigos. “No Mali, como na maior parte de África, há uma superstição. Muita gente pensa que os albinos são pessoas que dão azar na vida. Há quem se dedique a assassiná-los, mas também quem corte membros dos nossos corpos para dar sorte ou ainda quem ‘semeie’ cabelo de pessoas albinas, crendo que dali vai nascer ouro”, conta Adi, que acrescenta: “Estes pensamentos são fruto da ignorância”.

A campeã paralímpica é muçulmana. Teve de aprender que não havia mal nenhum em mostrar o corpo. “Na minha cultura, (…) andar destapada era impensável. Faziam-nos sentir mal quando mostrávamos uma parte do corpo, mesmo que fosse um tornozelo. No início, tinha muita vergonha de vestir o fato de competição. Comecei a competir com umas calças largas e uma camisola de mangas compridas, com um top por cima. Era um espetáculo”, conta, a rir.

Considerada constante e disciplinada, Adi começou a brilhar em 2019, ao sagrar-se duas vezes campeã absoluta de atletismo da Galiza, dos 100 e 200 metros, competindo com atletas sem limitações. Um ano depois, arrecadou duas medalhas de bronze no campeonato sub-23 de Espanha. Quanto ao futuro, a atleta não esconde que quer estar em Paris, nos próximos Jogos, e vencer: “O meu objetivo é sempre ganhar medalhas”.

CAIXA DE MÚSICA 494

Cor é o quarto álbum de estúdio do duo Anavitória, lançado de surpresa, em 1º de janeiro de 2021. Com produção de Tó Brandileone e da integrante Ana Caetano, a obra foi preparada durante a pandemia de COVID-19 e traz participações de Rita Lee e Lenine.