Possível caso inédito de albinismo em saguis é registrado em SP
Animal branco foi avistado em bando de saguis-de-tufos-pretos. Estudos serão necessários para confirmar albinismo na espécie, diz primatólogo.
Por Guilherme Ferraz, Terra da Gente
Um sagui-de-tufos-pretos (Callithrix penicillata) com pelagem branca, pele rosa e olhos claros foi flagrado pelo biólogo Hatus de Oliveira Siqueira, às margens do rio Pardo, próximo a uma usina de cana-de-açúcar, na zona rural de Serrana (SP).
“Durante um trabalho de levantamento de ictiologia (ramo da zoologia que estuda os peixes), no final do ano passado, avistei um indivíduo todo branco em meio ao bando”, conta Hatus.
Siqueira afirmou que nunca ter visto um animal com tal característica em ambiente natural até então. “Fiquei muito surpreso, empolgado e feliz em ver um sagui-de-tufos-pretos possivelmente albino. Peguei a câmera na hora e fiz vários registros”, relembra o biólogo.
O primatólogo e professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Fabiano Rodrigues de Melo suspeita que o indivíduo seja albino, porém, segundo ele, serão necessárias pesquisas que possam comprovar tal expectativa.
“Estamos diante, potencialmente, de um caso inédito de albinismo em saguis, porém maiores estudos precisariam ser feitos para podermos cravar”, explica Fabiano.
Albinismo
Conforme o docente, albinismo é uma característica genética conhecida por “estar em homozigose e ser recessiva”, ou seja, só vai aparecer quando dois alelos - em outras palavras, duas amostras dela - vierem juntos no mesmo indivíduo.
“Porque quando ela vem misturada, o que chamamos de heterozigose, ela não se expressa, por isso fica escondida entre as gerações. Ela vai aparecer quando a amostra de um indivíduo que é heterozigoto cruzar com uma fêmea heterozigota e o filhote nascer homozigoto (com duas amostras dessa característica), que é o que a gente chama de homozigoto recessivo”, detalha.
O cientista afirma que dificilmente um animal albino vai gerar um filhote também albino. “É um recessivo de baixa frequência, possivelmente escondido em heterozigose, ou seja, passam gerações sem ter albinos e de repente aparece um, pois a mutação está ali 'escondida'", acrescenta.
As condições leucismo e melanismo recessivo também seguem a mesma lógica. Segundo ele, animais com essas peculiaridades não são excluídos ou abandonados pelo bando, pois os bichos se baseiam muito mais em odores do que em cores.
“Até porque eles não enxergam plenamente em cores. Somente algumas poucas espécies de primatas neotropicais apresentam tricomia”, pontua.
Por ter coloração que difere tanto da vegetação brasileira, os animais albinos e leucísticos acabam sendo mais vulneráveis a predadores. Para Fabiano, esse indivíduo sofre menos risco por habitar ambientes urbanos, com menos predadores e suporte alimentar humano, o que ele ressalta ser uma atitude inadequada da parte das pessoas que fornecem.
Diferenças entre animais albinos e leucísticos
Conforme o estudioso, no leucismo os pelos dos animais ficam incolores e, consequentemente, mais brancos, pois não possuem melanina. Porém, a pele continua com pigmento melânico, então o animal não fica com a pele rosa e nem com os olhos claros, características vistas no albinismo.
“Como o próprio nome diz, albinismo quer dizer branco puro, ou seja, é a perda total da melanina no corpo todo do bicho. No leucismo, basicamente, são os pelos que ficam sem melanina e aí o animal fica com o pelo branco, mas com a pele normal”, ensina Fabiano.
Importância dos registros
Ainda segundo ele, é fundamental que as pessoas que observam a fauna, mesmo não sendo especialistas, registrem esses encontros, pois muitos artigos científicos surgem a partir de flagrantes. Tão importante quanto isso, é manter distância dos animais silvestres, principalmente não oferecendo comida para evitar a transmissão de doenças aos bichos e vice-versa. “É de importância crucial nesse processo de ciência cidadã. Se todo mundo que tiver câmera, celular, puder registrar, sempre sem interação física, sem dar comida, sem importunação, é fundamental. E as pessoas que estão fazendo esses registros estão colaborando muito com o conhecimento que a gente tem sobre a ocorrência do fenômeno nas espécies", finaliza.