quinta-feira, 16 de maio de 2024

FACES ALBINAS

 O albinismo, pela lente da fotógrafa Mag Rodrigues

O albinismo é uma condição hereditária, rara e irreversível. Por ser também socialmente pouco visível, a fotógrafa Mag Rodrigues quis dar-lhe um rosto numa série a que chamou “A Cor da Luz”.


MAG RODRIGUES

Gabriela Filipe, angolana de 24 anos residente em Lisboa, é uma das protagonistas da série fotográfica documental “A Cor da Luz”.


“Muitas pessoas não sabem que sou albina e acham que sou russa ou alemã. Procuro sempre informar as pessoas sobre o conceito e quais os cuidados a ter com a pele”, comenta Gabriela Filipe, angolana de 24 anos a viver em Lisboa. Gabriela é uma das pessoas que Mag Rodrigues fotografou no âmbito de A Cor da Luz, um ensaio visual incluído na exposição colectiva O Cerco de Lisboa, patente no Arquivo Municipal entre os dias 4 de Dezembro de 2023 a 2 de Março de 2024.

A visão particular de uma certa periferia social e urbana traduzida nas imagens de Mag Rodrigues – que teve Augusto Brázio, Lara Jacinto, Paulo Catrica, Pedro Letria, São Trindade e Valter Vinagre como compagnons de route – centrou-se em imagens de pessoas com albinismo fixadas no seu quotidiano: no local de trabalho, em casa ou nos transportes públicos. “Revelando contexto, conseguimos tirar mais informação sobre cada pessoa. Isto interessa-me sempre”, conta à National Geographic Portugal a autora de A Cor da Luz.

Porém, desengane-se quem pensa que uma fotografia como a que abre esta peça se alcança da noite para o dia: o momento decisivo ocorreu na casa de Gabriela ao fim de quase meio ano de registos e conversas. “Com o passar do tempo, a confiança e à-vontade aumentaram e, assim, conseguimos fazer retratos mais cúmplices. Para além disso, lembro-me que a luz neste dia estava fantástica. Portanto, tudo se alinhou.”

Este trabalho sobre o albinismo enquadra-se numa “linha” conceptual que Mag foi desenhando desde 2018, quando nasceu o seu interesse em abordar realidades, comunidades, grupos invisíveis e/ou segregados. “O que me move é a visibilidade e dignidade das pessoas fotografadas”, lembra em retrospectiva.

A vontade de fotografar este grupo pouco conhecido em Portugal coincidiu com um encontro com Gabriela: “A ideia foi-lhe explicada e, para minha felicidade, [ela] aceitou participar”. Simultaneamente, Mag abriu uma open call e “várias pessoas albinas responderam, acabando por fotografar em Lisboa, Lourinhã e Funchal”.

“O que me move é a visibilidade e dignidade das pessoas fotografadas”, sublinha Mag Rodrigues.

MAS, AFINAL, O QUE É O ALBINISMO?

É um distúrbio que consiste na redução ou falta de produção de melanina, o pigmento que protege a pele da luz ultravioleta e que colora a pele, cabelo e olhos. Em pessoas com albinismo, a pele assume diferentes tonalidades dependendo da quantidade de melanina. Além dos riscos associados às lesões cutâneas por falta de protecção contra a radiação solar, as pessoas afectadas têm com frequência problemas graves de visão.
MAG RODRIGUES

“Procuro sempre informar as pessoas sobre o conceito e quais os cuidados a ter com a pele”, lembra Gabriela Filipe, uma das pessoas albinas que aceitou o repto de Mag Rodrigues.

QUEM AFECTA ESTA DOENÇA?

Embora existam casos em todas a regiões do planeta afectando populações fenotipicamente muito distintas, é na África Sub-saariana que se encontra a maior prevalência. Aqui, em pequenas comunidades rurais, com elevada consanguinidade e baixa diversidade genética, os casos de albinismo podem ser dez vezes superiores à média global. Calcula-se que uma em cada 17.000 pessoas sofrerá deste distúrbio.

QUAIS OS RISCOS?

A Organização das Nações Unidas calcula que, em África, 98% das pessoas albinas morram antes de completar 40 anos. Ao cancro de pele, a principal causa de morte, somam-se as mortes violentas causadas pelo preconceito e superstição. No Malawi, um dos países com maior incidência de albinismo calcula-se que existam 134.000 casos e em 2019 o serviço de saúde dispunha de apenas quatro dermatologistas.

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